Nelson Lisboa, criador de moda urbana

nelson

Nasceu e estudou na Alemanha, mas é em Portugal que quer viver e fazer carreira. A moda surgiu da paixão que tem pelas artes plásticas. É o criador de uma marca dirigida ao público masculino, com o seu nome, e o cantor Anselmo Ralph é um dos seus clientes mais mediáticos. Nelson Lisboa quer desenvolver em breve uma linha para mulheres cosmopolitas.

A marca Nelson Lisboa trabalha peles naturais como o couro, principalmente me blusōes onde os detalhes sobressaem é uma marca que valoriza o corpo numa postura urbana
Nelson Lisboa trabalha peles naturais como o couro, principalmente em blusōes

De onde vem a inspiração?
Quando me perguntam pela inspiração lembro-me sempre de uma frase que o malogrado Alexander McQueen costumava dizer: “A inspiração não se pode definir”, porque surge a qualquer momento e de onde menos se espera. Através da música tenho ideias e imagens muito concretas sobre coleções e desfiles. A música é a minha musa… coloco os auscultadores e tudo faz sentido criativamente.

É uma marca em que os detalhes sobressaem é uma marca que valoriza o corpo numa postura urbana

Nasceu na Alemanha, estudou na Alemanha e escolheu Portugal para viver. Porquê?
Pode parecer estranho, tendo chegado ao país em plena crise, mas acho que Portugal precisa que se aposte no País, que se criem ferramentas para as oportunidades voltarem a surgir e para que volte a existir uma oferta de qualidade nas áreas criativas e artísticas. Sou português, é a minha nacionalidade, nasci em Augsburgo, na Alemanha, de onde sou natural, e sempre desejei viver em Lisboa, cidade única, emocional. Considero que é fundamental a minha geração não abandonar o país e quando digo isto tenho plena noção de como é difícil ter qualidade de vida nos dias de hoje e ter oportunidades dignas.

O que o levou a fazer uma marca para homem?
A minha especialização na licenciatura foi em roupa de homem.

Desfile Tibães Fashion p/v 2015, Braga
Desfile Tibães Fashion p/v 2015, Braga

O processo é mais fácil ou mais complexo que o de mulher?
Desenhar e confecionar roupa de homem é muito mais complexo do que fazer roupa para mulher. São duas abordagens distintas, em nada comparáveis. Ambas desafiantes em níveis diferentes.

Trabalhou na loja do Nuno Gama e colaborou como designer na coleção outono/inverno 2014 de Dino Alves. Como foi trabalhar com duas abordagens tão distintas da moda nacional?

Desfile 2.ª Edição Black Fashion Week com Ruben Rua
Desfile 2.ª Edição Black Fashion Week com Ruben Rua

Após ter chegado a Portugal, já com uma ideia daquilo que queria fazer como projeto de marca, precisei de trabalhar e de contactar com o setor de alguma forma. Trabalhei na loja do Nuno Gama durante dois meses e consegui absorver alguma informação sobre a capacidade criativa deste profissional. Dois anos depois colaborei na coleção o/i 2014 de Dino Alves, um artista plástico de grande talento e que tem uma visão muito própria sobre a moda, a sua moda.

 

A curiosidade pela moda surgiu por influência familiar?
Não. Quando iniciei os meus estudos superiores fui para belas artes, com especialização em pintura, escultura e instalação. Iniciei projetos onde a moda era a temática das minhas instalaçōes e percebi que não queria seguir arte, não queria ser artista plástico, mas trabalhar a moda numa vertente plástica. E não sei se o facto de o meu bisavô ter sido alfaiate influencia de alguma maneira.

Sabe costurar?
Sei costurar, fazer modelagem e sei alfaiataria.

E ser alfaiate, pode ser um futuro?
Não está nos meus planos. É muito conservador.

Cresceu num país onde existe um ritmo de moda muito diferente do de Portugal. Como vê o estado da moda nacional?
Sinto-a a crescer, estar com menos receios de fazer e de mostrar linguagens diferentes sincronizadas com estilos mais tradicionais. Admito que estava habituado a ver abordagens mais arrojadas e a moda portuguesa é ainda muito fechada, receosa em arriscar. A moda nacional tem tanto ou mais valor que muitas, só tem de se soltar.

O desfile é ainda uma ferramenta importante no trabalho de um estilista?
Desfilar é a forma quase ideal de expor uma coleção. Tenho noção que está a ficar cansativo e nem sempre espelha o conceito da marca e da coleção em si. Em Portugal ainda se dá muito valor ao desfile.

Sente que o público português recebe bem marcas de conceito mais urbano/alternativo?
Acho que está a ficar mais recetivo.

O seu trabalho já foi comparado com o de Nuno Gama. Incomoda-o este tipo de comparações?
De todo. Acho que o trabalho do Nuno Gama tem qualidade, é moderno, e se as pessoas precisam de comparaçōes ou associaçōes para entender novos projetos, então que o façam com os melhores.

Mas acha que é comparável?
Acho que são ambas marcas de homem, o que existe pouco em Portugal, e ambas procuram linguagens pouco convencionais.

Como tem sido a aceitação da sua marca?
Bastante boa. No entanto, sinto que quando os portugueses não conhecem o nome têm medo de arriscar, mesmo que a roupa lhes agrade. Uma postura muito diferente da dos alemães.

Anselmo Ralph com blusão em cabedal e lã do designer
Anselmo Ralph com blusão em cabedal e lã do designer

Ajuda vestir figuras públicas?
Ajuda bastante para mostrar, para facilitar a divulgação, para promover. Mas criativamente tanto gosto de vestir uma cara conhecida como um anónimo. O prazer que se tem ao andar na rua e ver a nossa roupa nos corpos de quem passa é … indescritível!
Áustria, Alemanha, Japão e Portugal são alguns dos países onde já desfilou. E a seguir?
Tem sido uma honra ter estas oportunidades. Em Portugal, as minhas oportunidades passam por poder ser a aposta de plataformas que não têm receio de mostrar, arriscar, como é o caso do Tibães Fashion (Braga) e do Concept Fashion Design (Lisboa), no entanto,

Raquel Partes com blusão de cabedal Nelson Lisboa
Raquel Partes com blusão de cabedal Nelson Lisboa

tenho o sonho de conseguir dar-me a conhecer na Moda Lisboa ou no Portugal Fashion. Internacionalmente, gostaria de ter a oportunidade de desfilar em Milão, Nova Iorque e Japão, porque são cidades abertas a diferentes linguagens.

E uma linha de acessórios estará para breve?
Estou a trabalhar nesse sentido. Sou um jovem designer, tenho ainda recursos limitados e não posso avançar com tudo ao mesmo tempo. Tenho uma coleção de joias, composta por anéis e pulseiras, porque uma coleção faz-se de um todo, desde a roupa, aos cabelos, passando pela maquilhagem e sem esquecer os sapatos. Um todo!

Que projetos tem para este ano?
Estou a abrir o meu atelier, na Rua do Carmo, em Lisboa, e pretendo apostar em algumas novidades que ainda são surpresa…

Estudar ou ensinar, o que é mais importante?
Ambas. Não se pode transmitir conhecimento se ele não existir. E só gosto de ensinar matérias que domino. O que não sei, não finjo saber. Atualmente, dou aulas de desenho e confeção e confesso que é um prazer poder ensinar quem quer saber mais sobre uma profissão que é muito mais complexa do que parece.

O atelier Nelson Lsboa fica no centro de Lisboa, na Rua do Carmo, 51, 2.º C… para quem quiser visitar.