New York Times elogia concerto de Gisela João

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Fotografia de Fernando Pereira/Global Imagens

O jornal The New York Times considera, numa crítica publicada esta segunda-feira, que a cantora portuguesa Gisela João convocou “todo o espectro de paixões tempestuosas do fado”, no concerto de sábado passado, em Manhattan, que classificou de “luminoso”.

“Desde a sua primeira canção, ‘Madrugada sem Sono’, [Gisela] João convocou todo o espectro de paixões tempestuosas do fado, de melancolia silenciosa a eruptivos, ásperos e emocionantes picos, e a dolorosa resignação. Cada uma das suas baladas era o seu próprio drama, uma excitante e assustadora viagem através de emoções sísmicas”, escreveu o crítico Jon Pareles.

O crítico lembrou uma frase de Gisela João – “Muitas pessoas pensam que o fado é triste. O fado não é triste. É intenso. É como a vida” – e disse que “o luminoso concerto”, que aconteceu no Schimmel Center, em Manhattan, no âmbito do primeiro festival de fado da cidade, “abrangeu desde angustia desesperada até leves caprichos.”


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O especialista descreveu Gisela João como uma “tradicionalista”, mas diz que “dificilmente é como a austera e de luto cantora de fado de outras eras.”

“A sua cadeira e microfone estavam enfeitados com flores garridas, e ela usava um vestido branco, curto e brilhante, com a sua própria textura de folhas. Bebericava vinho branco e fazia risonhos comentários em inglês. Depois de algumas canções, tirou os saltos altos e de forma animada admitiu: ‘Sou baixa'”, descreve o crítico do New York Times.

O artigo destaca canções bem-humoradas, como “O Senhor Extraterrestre”, o facto de Gisela João dançar ao som das suas canções e de cantar música de outros países, como acontece com uma do brasileira Cartola e a canção tradicional Mexicana “La Llorona”, ambas “impregnadas com a introspeção do fado e uma feroz atenção à ‘nuance’ poética.”

O crítico defende que a portuguesa “trata a herança do fado com profundo respeito e perspetiva moderna” e diz que cantou “O Meu Amigo Está Longe”, do repertório de Amália Rodrigues, como um “derramar de solidão agravado por um amor sem fim”, mas que misturou o tema com acordes de “Dream On”, dos Aerosmith.

“Um bocadinho de revisionismo para ajudar uma tradição intensa a permanecer”, defendeu Jon Pareles.

Os músicos que acompanham a fadista (Ricardo Parreira, Nelson Aleixo e Francisco Gaspar) abriram o concerto com uma mostra de fado instrumental que, segundo o jornal americano, “apontava para o parentesco do fado com a música à volta do Mediterrâneo.”

Gisela João foi a cabeça de cartaz do primeiro festival de fado de Nova Iorque, que aconteceu no passado fim de semana, e incluiu uma atuação do duo Beatbombers, a exibição de um filme, uma palestra e uma exposição.