Nice: Histórias de sobrevivência no meio da tragédia

No meio da tragédia que assolou Nice, na última noite, contam-se algumas histórias de sobrevivência e de sorte, muitas quase de autênticos milagres.

No meio do caos, que se seguiu ao ataque com um camião, que matou, pelo menos 84 pessoas, um bebé de 8 meses ficou perdido. Tiava Banner, familiar da criança, lançou um apelo no Facebook – uma vez que os pais do bebé teriam sido entretanto internados. Pouco tempo depois o bebé foi encontrado encontrado são e salvo. No ataque, morreram, pelo menos 10 crianças e adolescentes.

Outra história de sorte foi a de uma mulher australiana que se conseguiu salvar de ser atingida pelo camião, por uma questão de segundos.

Kim Headland saltou para cima de um toldo quando viu o veículo aproximar-se e relatou a uma rádio do seu país que todo o ataque aconteceu de forma muito rápida. “De repente só ouvi gritos e vi que um grande camião branco vinha na minha direção… Penso que circulava a 100, 120km/h”, contou, acrescentando que na altura achou que teria “apenas 30 a 40 segundos” para se salvar.

Laicia Baroi também escapou por pouco ao atentado. A mulher dirigia-se com o namorado para a Promenade des Anglais, o paredão onde se juntaram milhares de pessoas para ver o fogo-de-artifício do dia da Tomada da Bastilha e por onde entrou o camião, mas atrasou-se ligeiramente. Foi esse pequeno atraso que acabou por lhe salvar a vida.

Já Luisa Marino, que vive na Suíça, esteve várias horas sem saber da sua filha Lile, que se encontrava em Nice com a avó. Postou uma mensagem no Twitter, que tem servido para várias pessoas pedirem informações de familiares e amigos desaparecidos.

Esta mãe acabou por encontrar a filha e, desfeito o susto, deixou uma mensagem de esperança na sua página do Facebook, lembrando que não se deve ceder ao medo, nem à intolerância.

“Passei três horas esta noite sem saber se a minha filha estava viva”, escreveu Luisa Marino, referindo que enquanto estava à procura, além de mensagens da família também recebeu muitas de desconhecidos.

Na sua mensagem, diz ainda que, apesar deste ataque, a mensagem que quer passar à filha não é de rancor nem de intolerância. “(…) Vou continuar a acreditar na humanidade, no amor e vou continuar a dizer à Lile que a diferença é uma riqueza”.

Perto do local do ataque, um casal com dois filhos escondeu-se no restaurante Ruhl Plage. A mulher, que estava grávida, não resistiu à ansiedade do momento, começou a sentir fortes contrações e acabou por dar à luz no chão do estabelecimento.

Durante o parto, a mãe teve a ajuda de um médico que também se tinha escondido no restaurante, avança o jornal francês ‘Le Parisien’.

O ataque, que foi cometido por um franco-tunisino de 31 anos e que não foi reivindicado, fez também 202 feridos, 52 dos quais em estado muito grave, revelou o procurador, François Molins.

O número elevado de vítimas levou várias dezenas de pessoas a deslocarem-se, esta manhã, aos hospitais locais para doar sangue.

Os media franceses e as redes sociais dão conta de que o paradeiro de muitas pessoas que estariam na zona do ataque é ainda desconhecido. A Prefeitura dos Alpes Marítimos disponibilizou uma linha de apoio local para informações às famílias de pessoas desaparecidas 0033493722222 e o número de emergência do Ministério dos Negócios Estrangeiros francês é 0033143175646.

Essa informação é avançada pela secretaria de Estado das Comunidades, que está também a acompanhar a situação dos cerca de 10 mil portugueses que estão atualmente em Nice. Até à data não há notícia de cidadãos nacionais entre as vítimas mortais. Há um português entre os feridos, mas está livre de perigo. Segundo o secretário de Estado, José Luís Carneiro, as informações vão sendo atualizadas pelo consulado-geral de Marselha, pelo consulado de Nice.

O governo francês declarou três dias de luto nacional e decidiu prolongar o estado de emergência por mais três meses. A segurança foi reforçada em outras cidades da região, como Marselha, através da mobilização de meios de patrulha aéreos.