O que têm as eleições nos EUA e o terrorismo a ver com a moda? Tudo!

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As bolsas de Paris e Londres começaram o dia de hoje (12/4/2016) com uma baixa de 0,2%. Entre os fatores que levaram a esta quebra estão as baixas de vendas dos maiores grupos de bens de luxo.

A LVMH, grupo que detém mais de 60 marcas de luxo incluindo a Louis Vuitton e a Christian Dior, anunciou esta semana os resultados do primeiro trimestre de 2016, ficando aquém das expectativas de crescimento do mercado, com uma faturação de 862 mil milhões de euros. Depois de anunciar os resultados das vendas, as ações do grupo desvalorizaram 3,4%, arrastando consigo a Burberry que baixou 2,1% e a Kering com uma queda de 2%. Esta queda bolsista deixa a banca italiana em maus lençóis como explica Francois Savary, chefe do departamento de investimentos da Prime Partners ao site Business of Fashion:

“Os resultados da LVMH não são tão bons como se esperava, o problema é que o fundo bancário italiano não é assim tão grande e pode comprometer os bancos, que já não estão na melhor forma.”

Outro gigante da moda que está em problemas é a Prada. No dia 8 de abril a marca italiana revelou os resultados de vendas de 2015, que se mostraram os piores dos últimos anos com uma queda de 27%. Fator que levou a uma queda significativa do valor da empresa no mercado bolsista. A Prada foi uma das marcas que mais investiu no mercado asiático, tendo na China o maior o seu maior mercado oriental. O que nos dias que correm não é um bom sinal, já que a economia chinesa está com os níveis mais lentos de crescimento desde 1990.

Mas estas quedas não se devem apenas ao abrandamento e queda de economias emergentes como as da Ásia, de Angola e do Brasil. A instabilidade política e económica não leva apenas a uma baixa das importações, mas também a uma baixa no poder de compra. Por outro lado a Europa também não está no seu melhor, tendo o turismo neste momento uma das maiores quedas dos últimos tempos. Os atentados terroristas são a principal causa deste fenómeno que implica diretamente com as vendas; sendo cidades como Paris, Londres e Milão destinos turísticos de compras, e por isso um mercado agora debilitado por fatores em tudo alheios à moda.

Também nos EUA se faz sentir alguma retração no mercado, segundo a Bain, empresa de consultoria, os consumidores americanos adotaram uma postura contida, relacionada com as eleições presidenciais e com a incerteza política instalada, devido sobretudo à força de candidatos tão radicais como Donald Trump e Ted Cruz.

Claudia d’ Arpizio, sócia da Bain, declarou à agência de notícias Reuters durante a conferência internacional do New York Times em Versalhes que “este ano [2016] pode ser um dos pontos mais baixos do setor do luxo”. As causas para esta previsão são sobretudo fatores socioeconómicos, incluindo todos os que já referimos. A previsão de crescimento para o setor de luxo apresentada pela Bain recentemente é de 2-3% nos próximos cinco anos, bem diferente das previsões dadas no ano passado pela Sanford C. Bernstein que indicavam um crescimento de 5-6% anualmente até 2017. O que mudou num ano? Sobretudo fatores alheios à moda, mas que influenciam todos os setores da sociedade.

Mais uma prova de que a moda e os fenómenos culturais estão ligados, foi a reação que as empresas de moda tiveram perante a crise dos refugiados na Turquia. Muitas das grandes marcas de consumo rápido como a H&M, Primark, Inditex, entre outras, têm fábricas na Turquia. O que aconteceu com o aumento de número de refugiados nessa zona, e consequentemente o aumento das situações de pobreza extrema, foi que estas pessoas se tornaram presas fáceis como mão-de-obra barata e com poucas condições de trabalho. Esta realidade fez com que algumas das marcas revissem os seus contratos fabris e que aumentassem a supervisão e auditorias surpresa às fábricas que as fornecem, a fim de assegurar que não existem trabalhadores ilegais ou explorados nas linhas de produção.

O facto é que o setor da moda não é alheio a nada do que se passa no mundo, porque antes de qualquer outra coisa se trata de um setor económico e, como tal, está intimamente ligado às comunidades e a todas as áreas que as fazem oscilar, da política aos direitos humanos, tudo tem a sua influência no que muitos ainda vêm, erradamente, como a indústria fútil dos vestidos e carteiras.