O regresso “fenomenal” de Oprah Winfrey à representação

O canal norte-americano HBO estreou este sábado à noite o telefilme ‘The Immortal Life of Henrietta Lacks’. O argumento conta a vida da mulher do título pela perspetiva da filha, Deborah. Apesar de a história ser verídica – Henriquetta morreu de cancro, aos 30 anos, depois de lhe terem sido removidas células que ajudaram a revolucionar a medicina -, não é a arrogância médica, o racismo, a pobreza e a amizade subjacentes ao guião que estão a dar que falar.

É Oprah Winfrey, e a sua interpretação na pele de Henrietta Lacks, que está a deslumbrar público e crítica. Uma atuação “poderosa”, “fenomenal”, “de outro nível”, que terá apanhado muitos de surpresa, já que a apresentadora norte-americana tem no seu currículo apenas cinco filmes – embora, recorde-se, o seu desempenho em um deles, ‘A Cor Púrpura’ de Steven Spielberg (1985), que tenha dado o Óscar de Melhor Atriz Secundária.

A própria Oprah, que também assume o papel de produtora, admitiu receio por voltar a uma pele que não a sua. “Tinha medo de não ser boa o suficiente. Tinha medo de que o realizador [George C. Wolfe] pensasse que devia ter escolhido outra pessoa para o papel”, frisou.

O risco compensou. “Ponto alto” desta adaptação do livro homónimo publicado por Rebecca Skloot em 2010, Winfrey conseguiu superar a maior dificuldade de todas: afastar dos espectadores a imagem da mulher mais poderosa do mundo do entretenimento, a entrevistadora destemida, para os levar ao mundo de Henriquetta Lacks e de como as suas células cancerígenas lhe foram extraídas, sem autorização, no Hospital Johns Hopkins, em Maryland (EUA).

Depois da sua morte, em 1951, passaram-se duas décadas até a família saber do que se tinha passado. A filha, Deborah Lacks, e a jornalista Rebecca Skloot (no filme interpretada por Rose Byrne) partem em busca da verdade. A verdade narrada em ‘The Immortal Life of Henrietta Lacks’.

“Estive várias vezes no Hospital Johns Hopkins e nas ruas onde a sua família morou. Sou negra, conheço a história dos negros americanos, e nunca ouvi uma menção ao nome de Henriquetta. Também fui à igreja, mas nunca escutei nada sobre essa mulher”, disse Ophan Winfrey. “Soube da história porque alguém da minha equipa falou sobre o livro”, escrereceu, num encontro com a imprensa.

A questão racial está – de deve estar, avança – presente em toda a história. “Sim, aqui está a negra Oprah e o negro George a contar a história de uma mulher negra que ninguém sabia quem era e cujo filme está na HBO. Isto, para mim, é um grande avanço”.