Orlando: que remédio para o ódio e para a intolerância?

inês tenente
Lisboa, 03/05/2016 - Inês Tenente, cronista do site Delas.pt, fotografada esta manhã no edifício do Diário de Notícias. ( Global Imagens )

Mais uma vez. Mais uma demonstração de ódio, de intolerância, de desumanidade. São alvo as minorias incompreendidas, os fracos, os que alegremente vivem momentos de lazer. Mais um ataque à liberdade. Mais um ataque sem nexo.

O mundo está de luto. Somos assolados por guerras sem fim, pela degradante situação dos refugiados, pelas violações a mulheres que acontecem diariamente (ou talvez a cada hora) mundo fora, pelos ataques a crianças, a grupos raciais, étnicos e/ou religiosos, pelos assaltos a jornalistas e artistas, à liberdade de expressão, à orientação sexual e de género. Fobias e “-ismos”. Racismo. Sexismo. Homofobia.

Agride-me particularmente a indiferença de uns, a retórica de outros, a não-ação de muitos. O tentar minorar os motivos, esconder os problemas e nada fazer. Empurrar as culpas e apontar o dedo em vez de recordar os que foram agredidos. Chocam-me os que aplaudem publicamente nas redes sociais. Há tanta gente por aí com tanto ou mais ódio ainda por libertar.

Por aqui, sinto-me numa América de contradições. Tento racionalizar estas diferenças, ouvir os argumentos, fazer sentido da diversidade de posições. Esta América onde a liberdade de posse de arma se sobrepõe à segurança dos cidadãos, onde a Constituição é tratada como um livro sagrado, insubstituível, imutável. Esta América onde discursos de ódio e o erguer de paredes são a base de uma plataforma política. Esta América onde dinheiro é sinónimo de respeito e o desemprego ou uma doença grave, a porta para a miséria.

Mas também um país onde as comunidades se unem em torno de causas. Um lugar onde, por exemplo, podem estar representadas mais de 20 nacionalidades num clube de Judo. Este lugar onde acordo de manhã para uma explosão de cor, uma manifestação de amor e de liberdade sem igual. Este sítio onde me senti mais livre. Onde nada é anormal, nada é estranho. Tudo é possível.

O remédio para o ódio e para a intolerância é o amor e o fascínio pela condição humana e pela diversidade que há no mundo. Conheçam-no, viajem, falem com pessoas diferentes, procurem as vozes dissonantes e tentem percebê-las, partilhem a vossa visão do mundo, deem voz a quem não a tem, condenem os abusos, chamem as coisas pelos nomes, saiam do vosso círculo e sejam uma minoria por um tempo, leiam, conversem e sejam abertos à mudança. Deitem abaixo as paredes. Somos todos humanos. Sejam a voz desta esperança.