Paper-Cut-Project: O papel é arte e moda ao mesmo tempo

Nikki Nye e Amy Flurry são a dupla que forma o Paper-Cut-Project, um projeto de acessórios feitos em papel, fundado em 2009, que tem levado a influência das Belas Artes diretamente às passerelles.

Até ao dia 25 de outubro, será possível ver no CascaiShopping essas suas criações, pensadas para as silhuetas femininas, com corte e inspiração neoclássicos e onde a pedra e o tom marmóreos dão lugar à leveza e à brancura do papel.

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Esta combinação original – que atribui detalhes inesperados e ao mesmo tempo delicados às coleções – tem trazido às duas americanas inúmeras colaborações artísticas com grandes nomes da alta-costura, como Hermès, Cartier, Kate Spade e Valentino, bem como com vários estilistas de renome, que as tornou numa referência mundial na Moda e da Arte. Duas dimensões que não só conjugam, como fazem alternar. Se a arte saltou para as passarelles, também as suas criações para desfiles de moda se podem autonomizar, transformando-se em peças numa exposição de arte. É isto mesmo que trazem a Portugal, com a mostra ‘SuperWomen’.

A exposição inclui 20 peças artísticas feitas em papel e seis fotografias e 10 peças, criadas propositadamente para a “SuperWomen Collection”. Nesta coleção, em particular, a dupla inspirou-se em heroínas mitológicas e da antiguidade clássica.

“Este conceito foi uma escolha muito natural para nós. Sempre quisemos retratar a feminilidade e também a força nas nossas coleções. E as super -mulheres – deusas, heroínas, e outras semelhantes – são verdadeiras concretizações dessas duas vertentes”, explicam em entrevista ao Delas.

No mundo real, as duas artistas também conseguem eleger as suas super-mulheres favoritas: uma ligada à moda, a outra nem tanto.

“A Coco Chanel, porque que ela criou mudou a forma como olhamos para a moda. E a Michelle Obama, que é uma mulher inteligente, elegante, feminina, engraçada e forte e não sucumbiu ao poder microscópico dos media. Isso é de uma verdadeira super-mulher”, defendem.

Questionadas, pelo Delas, sobre se o empoderamento da ‘SuperWomenCollection’ também se traduz nas peças que criam para estilistas, Nikki Nye e Amy Flurry respondem afirmativamente, acrescentando que se trata de um prolongamento natural do trabalho daqueles. “Os estilistas tentam sempre pôr as mulheres no seu melhor, muitos introduzem esse empoderamento quando estão a criar, por isso acaba por uma sequência natural que o trabalho que fazemos para esses estilistas também esteja imbuído dessa essência”, justificam.

As perucas de papel são as peças que a dupla faz com mais frequência. Na coleção “SuperWomen Collection” juntam também capacetes de papel, com desenho semelhante aos que os soldados do império romano usavam.

Há também outros acessórios que podem ser vistos nesta exposição, entre esculturas e fotografias, e as artistas não tencionam ficar por aqui.

“Temos muitas ideias para coleções que ainda temos de explorar”, avançam, acrescentando que as peças que têm feito até agora “encontraram uma espécie de lar na moda, especialmente com aquelas casas que apoiam o que é artesanal, porque elas resolvem um problema: a cabeça de careca brilhante de um manequim. Por outro lado, as perucas, fortes também elevam a composição da roupa de um manequim para um belíssimo vestido ou uma peça de alta-costura e acrescentam um elemento inesperado, rematando sem ser um fator de distração.”

O papel do papel na arte de Nikki e Amy
Para as suas criações, a dupla de artistas, recorre ao papel. Existem muitas razões para terem optado por esta matéria-prima, mas há uma que sobressai de imediato na explicação dessa escolha. “A Nikki, principalmente, tinha trabalhado com papel na suas próprias peças de arte, desde a faculdade, e conhecia bem o material. E a ideia de ter um material como assinatura foi apelativa para nós, não só pela sua simplicidade, mas pelo seu impacto reduzido”, explica Amy.

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Nikki Nye é licenciada em Artes, era proprietária de uma loja de Moda, em Atlanta, quando conheceu Amy Flurry, editora e escritora de moda. Na loja de Nikki – que assume o cargo de designer-chefe no Paper-Cut-Project –, as suas criações em papel decoravam as paredes.

À sua capacidade de conceção e execução artística, Amy Flurry juntou uma nova perspetiva narrativa e estratégia criativa. A partir daí foi uma questão de procurar o palco adequado e tirar partido de uma relação que já existia. “Ambas trabalhámos em moda antes de nos lançarmos com o Paper-Cut-Project. Quando concebemos a ideia das perucas de papel precisámos de um palco e sentimos as duas que a indústria da moda iria abraçar o nosso conceito, se o executássemos bem.”

Uma boa execução implica um processo demorado que, em regra, ultrapassa um dia de trabalho. Segundo as artistas, cada peça pode levar entre 30 a 80 horas até ser totalmente concluída.

Além das criações da ‘SuperWomen Collection’, as artistas vão apresentar na exposição do CascaisShopping 10 peças da sua coleção privada, das quais quatro foram criadas em colaboração com a estilista americana Jen Kao, para o desfile primavera/verão 2012, no Lincoln Center – New York Fashion Week. Igualmente incluída nesta coleção privada, está uma das primeiras peças da dupla, idealizada para a montra da primeira loja de Moda feminina, Jeffrey NY, em 2010.

Podem ainda ser vistas três peças, que foram criadas em colaboração com a estilista americana Megan Huntz.
Já as seis fotografias dizem respeito a uma coleção inspirada em Marie-Antoinette, para uma montra natalícia de 2012, numa galeria comercial de luxo, no Canadá.

Na fotogaleria em cima pode ver imagens de algumas das peças em exposição.