Paula Bollinger: “Tenho dois segredos para não engordar”

paula bollinger

Depois de ter passado parte da sua adolescência em Portugal, a brasileira Paula Bollinger regressou a terras lusas já adulta para assumir a direção de produção de uma área de um canal de televisão brasileiro na Europa. Farta do emprego que tinha e que a obrigava a chegar a casa de madrugada todos os dias da semana, a mulher de 38 anos decidiu despedir-se e dedicar-se à fotografia.

Tornou-se numa das poucas mulheres no mundo a fotografar homens só porque não tinha muita concorrência. Hoje é a única fotógrafa masculina a trabalhar para a Men’s Health no mundo inteiro, mas é o blogue Entre Colheradas onde mostra as receitas que faz em casa e partilha o gosto que tem por viagens, cosmética e moda que lhe dá mais retorno financeiro e lhe ocupa a maior parte do tempo.

Uma das suas receitas de maior sucesso são os Muffins Casa Comigo. Como é que nasceu esta receita?

Comecei por intitulá-los de Muffins Pega Marido porque da primeira vez que os fiz para o meu marido ele ficou doido, mas depois pensei: “Então e os homens que cozinham?” Para generalizar a receita ficaram Muffins Casa Comigo e será uma das receitas que fará parte do livro que lanço em outubro.

Partilha muitas das receitas da sua autoria no seu blogue Entre Colheradas.

E no meu canal do YouTube. A vertente forte do blogue são os doces, mas também tem uma parte saudável onde tenho pratos de peixe e outros salgados.

De onde veio este gosto pela culinária?

De mim, não tenho ninguém na família que seja apaixonado por cozinha. Comecei a cozinhar com 16/17 anos em casa para os meus pais e fui-me apaixonando. Tirei o curso de jornalismo no Brasil e quando terminei tinha acabado de abrir um curso de culinária no Le Cordon Bleu. Durante alguns anos estudei lá vários módulos de pastelaria. Quando terminei vim morar para Portugal e fui deixando a cozinha. Há três anos casei-me pela segunda vez e o gosto pela cozinha voltou como amor através da história de amor que tenho com o meu marido.

Foi a comida que vos juntou?

Foi muito engraçado. Numa noite, às 3h00 da madrugada, ele virou-se para mim e disse: “Amor, faz-me um bolo.” Pensou que eu o ia mandar passear, mas eu disse que fazia, levantei-me e fui para a cozinha. Era janeiro ou fevereiro, estava muito frio e ele pediu-me para voltar para o quarto, mas eu disse-lhe que ia fazer um bolo em três minutos. Fiz um bolo da caneca, no microondas, e ficou horrível porque exagerei no fermento. Coloquei a receita nas redes sociais de madrugada e quando acordei tinha 1800 gostos e imensa gente a pedir a receita. Aí voltou o bichinho, voltei a cozinhar. Ainda um pouco insegura fui estudar pastelaria, tornei-me chef e dois meses depois lancei o ‘Entre Colheradas’. Agora com um ano, o blogue é um sucesso. Está em várias plataformas e tem parcerias fortíssimas.

Atualmente vive apenas do blogue?

Sou fotógrafa de moda, mas o blogue está a ocupar-me mais tempo do que a fotografia e a dar-me mais retorno. Por isso comecei a investir mais no blogue, mergulhei de cabeça e estou a fazer o que amo: fotografar comida. É um dois em um.

Quais são as receitas que, até agora, mais sucesso tiveram no blogue?

Sempre os doces. O segredo do blogue é ter receitas com poucos ingredientes, rápidas, fáceis e com um resultado mais gourmet. Apesar de gostar muito de cozinhar não gosto de passar muito tempo na cozinha e tento que aconteça o mesmo com as outras pessoas, prefiro estar sentada à mesa a ter uma boa conversa.

Que cuidados costuma ter com a alimentação?

Poucos. Tento fazer uma alimentação saudável e comer pouco das receitas que faço. Gosto muito da dieta mediterrânica, é a comida que como no dia a dia. Muito peixe, grelhados e legumes. Às vezes faço quatro ou cinco receitas num dia, para não engordar como só uma garfada e depois dou aos vizinhos, amigos e marido.

E tem truques para não engordar?

Tenho dois segredos para não engordar. De manhã, em jejum, coloco duas colheres de chia em 100ml de água e deixo repousar durante 20 minutos. A chia vai transformar-se numa gelatina. Depois pego nessa mistura, coloco num liquidificador e espremo meio limão. É ótimo para despertar os intestinos, limpa o organismo. Durante o dia bebo muita água, dois litros e meio. Para não ter problemas de estômago, como gastroenterites, vou alternando entre beber água normal e beber uma mistura de água, limão e gengibre. Esta última mistura é mais forte e serve para acelerar o metabolismo e desintoxicar.

Também já foi convidada para dar palestras sobre dicas de alimentação para mulheres que estão a submeter-se a quimioterapia.

A minha mãe teve cancro há 16 anos, foi uma fase avassaladora. Com quimioterapia davam-lhe seis meses de vida, sem quimio apenas três. Ela acabou por fazer só três quimioterapias e sobreviveu. Eu tive os mesmos sintomas que ela tinha na altura, o meu cabelo também caiu, enjoava quando ela enjoava, tinha dores de cabeça quando ela tinha dores de cabeça, tínhamos uma ligação muito forte. Na altura aprendi muitas coisas para ultrapassarmos essa fase e convidaram-me para falar da história da minha mãe e dessas dicas que incluem muita água. Durante a quimioterapia entra muita coisa no nosso corpo e a água ajuda a limpar. Após o tratamento recomendo que se coma, no mínimo, uma bola de gelado de natas para tirar o gosto a metal da boca. Há outras dicas, mas estas duas são as mais fortes.

Foi aprendendo tudo isto à medida que ia lidando com a doença da sua mãe.

Sim e depois tive também uma amiga com cancro. São causas que abraço facilmente porque me identifico.

Há quantos anos já está em Portugal?

Há 11 anos. Vivi cá pela primeira vez entre os 12 e os 16 anos e apaixonei-me. Quando trabalhava em televisão e houve a oportunidade de vir não pensei duas vezes. Foi aqui que criei as minhas grandes amizades e quando regressei senti que estava em casa.

Sente-se portuguesa?

Costumo dizer que o meu sangue é brasileiro, o meu coração é espanhol porque morei 11 anos em Madrid mas a minha alma é totalmente portuguesa.

O que mais gosta no nosso país?

Gosto das pessoas, do clima, da luz, sou apaixonada pelo Alentejo e pela história de Portugal. Lisboa é uma cidade apaixonante, uma vida inteira não é suficiente para conhecê-la. Moro na Graça, um bairro histórico cheio de poesia, de histórias e de amor. A gastronomia portuguesa também é incrível, tento aportuguesar todas as minhas receitas, sejam elas originalmente francesas ou brasileiras.

Então percebe por que razão há, atualmente, tantos turistas interessados em visitar Lisboa.

Sim, é apaixonante.

Afirmou-se na fotografia como fotógrafa masculina. Por que há tão poucas mulheres nessa área?

É um desafio muito grande que obriga as mulheres a saírem totalmente da zona de conforto, nem todas estão prontas para isso.

Por que razão é um desafio assim tão grande?

Estamos a fotografar o sexo oposto. Quando fotografamos uma mulher conhecemos o olhar porque é o mesmo que o nosso, mas com os homens não é assim, temos de descobrir o olhar deles e fazer com que eles nos olhem de uma determinada forma, temos de conseguir deixá-los à vontade também. Não sei viver dentro da minha zona de conforto, é muito entediante estarmos a fazer a mesma coisa todos os dias.

Foi o facto de estar cansada do emprego que tinha anteriormente que a levou até à fotografia?

Despedi-me, estava exausta. O meu casamento estava por um fio e decidi ser fotógrafa. Escolhi a fotografia masculina porque não tinha concorrência e fui crescendo. Hoje sou a única fotógrafa masculina da Men’s Health em todo o mundo. No entanto, atualmente a fotografia está em segundo plano porque o blogue deu um salto. Se virmos bem, o ‘Entre Colheradas’ não fala só de comida, tem crónicas de viagem, maquilhagem, cosmética e moda, coisas de que gosto e que me deixam doida. Nenhuma mulher fica 24 horas por dia na cozinha e foi por isso que quis dar conteúdos tão diferentes no blogue. Quando o criei passei seis meses a estudar outros blogues, nacionais e internacionais, e tentei encontrar uma maneira de me diferenciar. Foi isso que chamou a atenção das marcas.

Nunca se arrependeu da mudança de vida que fez?

Não, estou muito apaixonada por este desafio. É o projeto da minha vida.

Sente que ainda há muitas mulheres com medo de arriscar?

Sim e torna-se mais difícil à medida que a idade avança. Criei o blogue com 37 anos, é uma idade em que já procuramos estabilidade, mas tenho um marido fabuloso que me disse para arriscar porque ele ia estar do meu lado a segurar-me a mão. Ele encoraja-me.

É o apoio em casa que faz falta a essas mulheres que têm mais receio de arriscar?

Sim, o apoio é fundamental. O meu marido foi muito importante na fundação do blogue, foi ele que me disse para ir estudar outros blogues, é o meu maior crítico e quem prova primeiro as receitas. Hoje em dia já tudo está a sair bem, mas no início cheguei a fazer por cinco vezes a receita de umas bolachas porque aquilo não estava a dar certo. Ele está sempre comigo, é um grande companheiro e como é estratega ajuda-me muito em relação à estratégia do blogue. Não faço nada sem consultá-lo primeiro.

 

Imagem de destaque: Álvaro Isidoro / Global Imagens