Por detrás de uma grande designer…

… não precisa de estar mais ninguém. Desde que existe esta disciplina, a do desenho das coisas, as mulheres estão presentes. E mesmo antes de haver design como disciplina académica: no lar as mulheres foram desde sempre as designers, pela simples razão de que quem soluciona, em casa, é quem tem um problema para resolver. Não é, desde sempre, isto o design?

As primeiras desenhadoras oficiais não viram a vida facilitada; engenharia, física e matemática – núcleos académicos do design – eram coisas de homens, mulher alguma poderia falar de interiores exceto na parte decorativa, dos cetins, do cor de rosa e dos laçarotes.

O desenho de interiores foi logo de início caçado por homens, durante a nascença da conceção da decoração como a entendemos hoje: o primeiro grande interior relevante pedido a profissionais vários para a mesma obra foi Versailles, quando o rei Luís XIV resolveu mudar a corte do vetusto e sombrio Louvre para um palácio novo a estrear, reluzente de talha dourada e cristais que refletissem o esplendor do Rei-Sol.

Nem na equipa de Le Vau, responsável pela arquitetura e pelos interiores, nem na de Le Notre, desenhador dos jardins que lançaram as bases do que é hoje conhecido como o jardim “à francesa”, havia mulheres com responsabilidades diretas. Havia sim operárias, tecelãs e mesmo algumas pintoras e artesãs, mas não muitas e sempre supervisionadas por homens.

Teve que se esperar até ao início do século XX para que as mulheres pudessem exercer o ofício, mas não ainda de forma completamente igualitária: ao abrigo da revolução moderna que foi a Bauhaus, e segundo os estatutos da universidade de Weimar, as mulheres eram livres de aprender mas era recomendado o uso de critérios apertados na seleção das alunas. E não só: apesar do carácter vanguardista tanto da escola como da corrente, as mulheres eram dirigidas para estudos que não abarcassem nem arquitetura nem design, estes eram ainda coutada masculina.

Claro que há sempre uma mulher que não se cala nem desiste, como foi o caso de Marianne Brandt, que acabou por chefiar o atelier de metalurgia da escola. Mas neste universo foi quase caso único.

As coisas começaram a mudar na década de 60, quando o movimento feminista impulsionou os estudos de género, numa conjuntura que refletia as mudanças sociais muito mais abrangentes da época.

A esta geração de 60 devem as arquitectas e designers de hoje uma vida profissional mais fácil e o reconhecimento do talento. Porque são campos que ficam ali na fronteira diáfana entre arte e coisa material, o género é uma alínea muito lá para o fundo da legenda; é capaz mesmo de ter sido neste campo que começaram a cair mais rapidamente as barreiras inter-géneros, um artista é antes do mais isso mesmo, um artista, e a obra não tem sexo.

São muitas as mulheres que deveriam constar na nossa galeria; para nós estas são incontornáveis, pelo engenho, originalidade e sucesso planetário. Mas vou falar com a editora e pedir-lhe uma rubrica semanal com um perfil de arquiteta ou de uma designer. Mesmo assim, vai levar décadas a contemplar todas as que temos de conhecer.