“Praia acessível” uma treta

O meu nome é Marta Guimarães Canário, tenho 41 anos, sou paraplégica há 26 e uma mulher ativa.

Gosto de viver a vida com tranquilidade porque a ideia é estar cá por muitos anos.

E não perco um dia de praia. Se há sol e calor, estou debaixo de uma palhota da praia ou, mais vezes do que devia, ao lado dela, a derreter ao sol. Depois, quando já não aguento mais, venha de lá mais um mergulho no mar.

E o mundo seria um lugar justo se esta parte da vida fosse assim tão simples. Mas não é.

Porque praias acessíveis para pessoas que, como eu, têm mobilidade reduzida, há algumas, é certo, mas poucas – ou nenhumas – são acessíveis na sua totalidade.

A minha última experiência é muito recente.

Como todos os anos, chegado o verão, rumo ao sul para uns dias de férias em família em busca das águas quentes e calmas do Algarve.

Consultada a lista oficial de praias acessíveis do sul do país, percebi que Vilamoura tinha sido distinguida como Praia Mais Acessível. Uma boa escolha, certo? Sim e não. E “sim” e “não” pelas mesmas razões. Confusos? Eu explico.

A praia tem estacionamento prioritário, passadiço de madeira até à zona dos chapéus reservados, casa de banho adaptada no bar, carro anfíbio para nos levar ao mar, Nadadores Salvadores para nos ajudarem. Mas, depois, o estacionamento tem uma rampa tosca para o passeio, os chapéus destinados para nós são apenas três, estão longe do mar e são demasiado baixos para quem está sentado, a casa de banho é aberta ao público e juntamente com o fraldário, o carro anfíbio está estragado devido ao uso e fraca manutenção, e os Nadadores Salvadores têm ordens superiores para nos levarem ao mar apenas até às 11h30, e depois das 13h30. Ou seja, à hora de maior calor, não há mergulhos para ninguém.

Foi este o cenário com que me deparei este ano e que já tinha sido registado por mim no ano passado.

É certo que, no meio disto, salvam-me as pessoas fantásticas que tentam minimizar os efeitos desta falta de – para ser simpática – cuidado. E foi graças a elas que as férias foram fantásticas. Porque se dependesse do Estado para garantir a minha dignidade numa simples ida à praia, bem podia esperar sentada. Debaixo de um chapéu-de-sol, toda torta, a morrer de calor, e rezando para que chegasse a hora definida por quem manda no nosso país para poder refrescar-me nas águas daquele mar maravilhoso e pelo qual sonho o ano inteiro.