Profissões com piores salários empregam mais mulheres

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As atividades financeiras e de seguros, a indústria da eletricidade, gás e ar condicionado e a informação e comunicação são as categorias profissionais que pagam os maiores salários em Portugal, o país da UE com maior disparidade entre os salários brutos mais altos e o médio.

Os dados divulgados na segunda-feira, 12 de dezembro, pelo Eurostat, referem-se a 2014 e mostram que 10% dos salários mais altos em Portugal são 2,8 vezes superiores ao salário médio.

No extremo oposto estão as profissões relacionadas com o alojamento e restauração, seguida das administrativas e serviços de apoio, das atividades fabris e de fornecimento de água e tratamento de resíduos.

Se cruzarmos estes dados com a distribuição das ocupações e dos salários por géneros, verifica-se que tem havido uma concentração do sexo feminino nas profissões mais mal pagas.


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De acordo com dados do INE de 2010, num total de 2,3 milhões de mulheres empregadas, nesse ano, a maioria trabalhava nos grupos de pessoal da limpeza, lavadeiras, engomadoras e similares (269 mil), seguindo-se o das ecónomas e pessoal do serviço de restauração (171 mil), das vendedoras e demonstradoras (158 mil), empregadas dos serviços de contabilidade e financeiros (149 mil), vigilantes e assistentes médicas e similares.

Estes dados são apresentados por Manuel Abrantes, investigador do ISEG, num artigo científico intitulado “Fortalezas e masmorras: a persistência da divisão sexual das profissões na sociedade contemporânea”. Nele, o autor salienta que “também no quadro geral da União Europeia as profissões associadas à limpeza e à assistência pessoal têm dado sinais de empregar um número crescente de pessoas, com esmagador predomínio das mulheres, dando um contributo sem dúvida crucial para a obstinada persistência da segregação sexual no mercado de trabalho”.

Dados de 2008 do INE, citados num estudo sobre Igualdade, feito pela Cáritas em colaboração com a Comissão para Igualdade no Trabalho e no Emprego (CITE), revelavam que entre os quadros superiores da Administração Pública, dirigentes e quadros superiores de empresas, os homens praticamente duplicam as mulheres em percentagem: 7,9% contra 4,2%. Por outro lado, na categoria de trabalhadores não qualificados eram elas quem detinha a maioria, representando 18,5% da população empregada nesse ano, enquanto os homens constituíam 7,9% desse total (ver quadro em baixo).

Já em termos de maior concentração do emprego por áreas profissionais, os dados mostravam que, em 2008, as mulheres ocupavam sobretudo trabalhos nas categorias de serviços e vendedores/as (22,2%) e de pessoal administrativo e similares (12,3%), enquanto os homens se concentravam nas atividades de operários/as, artífices e trabalhadores/as similares (28,9%) e e de operadores/as de instalações e máquinas e trabalhadores/as da montagem (11,8%).

quadro-ine-2008

 

Este ano a CITE revelou que “os salários médios das mulheres são inferiores em 16,7% aos dos homens o que corresponde a menos 61 dias de trabalho remunerado”, apesar de a percentagem refletir uma ligeira diminuição da diferença salarial entre os géneros, de 17,9%, em 2013, para 16,7%, em 2014.

Uma das principais razões para esta redução, referia a Comissão, “terá sido o aumento do salário mínimo nacional, em outubro de 2014, uma vez que a proporção de mulheres abrangidas pelo salário mínimo é consideravelmente superior à dos homens”. E, por outro lado, o facto de a desvalorização salarial verificada, nesse ano, ter atingido maioritariamente os salários dos homens, por serem “tendencialmente mais elevados”, contribuindo para uma redução da disparidade.

Em relação à diferença entre os salários baixos e o salário médio, os dados divulgados ontem pelo Eurostat mostram que Portugal tinha, em 2014, um rácio de 1,5 – a par da Dinamarca, de França e da Itália. Neste campo, o país teve o terceiro menor da UE, depois da Suécia (1,3), da Bélgica e da Finlândia (1,4 cada).