Dia de festa na União Europeia, dia de protestos

O Tratado de Roma, o documento fundador da União Europeia (UE), completa 60 anos este sábado, 25 de março, mas a Europa está hoje no centro de vários protestos. E alguns, como Roma, parecem estar um pouco mais acesos.

Dezenas de milhares de pessoas manifestaram-se este sábado, 25 de março, em Londres pelo direito a serem ouvidas sobre os termos de saída do Reino Unido da União Europeia, cujo processo começará na quarta-feira, ocasião em que o governo britânico, liderado por Theresa May, vai dar início ao Brexit, evocando o artigo 50 do Tratado de Lisboa.

Os organizadores, um grupo intitulado “United for Europe”, reivindica o direito de a “sociedade civil britânica ser consultada e onde o parlamento ou a população tenha a palavra final sobre o nosso futuro” e pedem, em concreto, a permanência no mercado único europeu, os direitos oferecidos pela cidadania de um país da UE e a garantia de que os cidadãos europeus estrangeiros poderão continuar a residir no Reino Unido.


Leia também mais sobre a contestação interna que o Brexit tem vindo a gerar entre Londres, a Escócia e a Irlanda do Norte


A marcha, que arrancou em Hyde Park e seguiu até à praça de Westminster, junto ao parlamento, começou por fazer um minuto de silêncio em memória das vítimas do atentado de quarta-feira passada e que matou cinco pessoas (incluindo o atacante) e feriu 50.

A maioria das pessoas – de diversas nacionalidades, como portugueses, mas também muitos britânicos, como o ator Jack Stanton – apresentaram-se de bom espírito, com cartazes feitos em casa, rostos pintados com as estrelas da bandeira da União Europeia ou envergando bandeiras da UE.

”As pessoas estão zangadas porque a campanha [para o referendo] foi feita de mentiras, ninguém sabia o que iria acontecer. Temos de juntar a nossas vozes e reivindicar um voto ao acordo”, afirmou Stanton em declarações à agência Lusa.

E se em Londres os manifestantes pedem pela permanência do Reino Unido na Europa, em Roma, mais de dez mil pessoas desfilaram em direção ao Coliseu da cidade, em cortejos realizados à margem das comemorações do 60.º aniversário do tratado fundador da UE. Uns defendem uma Europa unida, outros pedem que seja por uma solução federal, mas também muitos reivindicam um território sem muros e sem austeridade.

Alguns exibiam bandeiras com as cores e as estrelas europeias, enquanto britânicos anti-‘Brexit’ mostraram cartazes em italiano onde se podiam ler frases como “Seremos sempre europeus”. Percorra a galeria de imagens acima para ver momentos de ambos protestos.

A par de Roma, outras marchas foram registadas em Berlim ou Varsóvia.

Estas iniciativas ocorrem no mesmo dia em que 27 líderes europeus participaram, na capital italiana, nas comemorações do 60.º aniversário da fundação do projeto europeu, numa cerimónia na qual adotaram uma declaração sobre o futuro da Europa.

“Estamos aqui para pedir uma Europa que não seja dos bancos e da burocracia, mas dos direitos dos trabalhadores e dos estudantes”, afirmou, em declarações à agência noticiosa francesa AFP, Giovanni Zannier, um estudante de ciências internacionais de 22 anos.

“É o 60.º aniversário de um tratado que foi feito quando eu tinha 15 anos. Eu sou filha da guerra e este grande movimento europeu tornou-se o meu ideal político”, explicou à AFP Catherine Chastenet, uma aposentada parisiense de 74 anos.

“Acreditamos na Europa e queremos que ela se torne num conjunto de Estados unidos”, disse Sergio Enrico, de 77 anos, membro do Movimento Federalista Europeu (MFE).

Em Roma, uma cidade sob fortes medidas de segurança por causa das comemorações, também estava prevista para este sábado à tarde uma concentração dos separatistas italianos e um cortejo intitulado “Euro-stop”. A polícia italiana anunciou hoje de manhã ter encontrado dentro de várias camionetas capuzes, máscaras de gás, barras de metal, petardos, entre outros objetos.

Imagem de destaque: Paul Hackett/Reuters