Quando o barato sai a um preço incomportável

Todas gostamos de pechinchas. O frisson que se sente quando vemos na montra aquela t-shirt, que pensamos fazer-nos mesmo falta, a um euro, não tem comparação. Bom, talvez tenha, mas já ao nível do bungee-jumping.

Imagine a cena: está frente à montra da loja no centro comercial vendo a pechincha. Depois do esgar de felicidade com que a contempla, tire um minuto para se perguntar como tal é possível? Como pode um produto custar menos que, por exemplo, a matéria-prima que o compõe? Ou o seu custo médio de produção?

É bem verdade que pelo menos desde o início da Idade Moderna que a palavra ‘negócio’ (pelo menos para algumas não tão poucas almas mais românticas e desapegadas) tem uma carga negativa; nações exploradas, do mercado negreiro iniciado com a Expansão até à atualidade laboral de países como a Índia ou o Bangladesh, ou a exploração do recursos naturais até à sua exaustão – com tudo o que tal acarreta – são disso bons exemplos abonatórios a favor dos bonzinhos.

Se quisermos ser secos e diretos podemos dizer que até agora a produção industrial (a que tem acompanhado o produto como o que conhecemos pelo menos desde a Revolução Industrial) tem-se encaixado perfeitamente no modelo económico que lhe tem servido de sustento, acima de tudo, o fito do lucro, desprezando todos os efeitos negativos que acarreta e que começam a ser gritantes. Chamem-lhe capitalismo se quiserem, os efeitos desta forma de fazer as coisas são de tal modo abrangentes e agigantados que podem ser descritos como pandémicos.

Coleção H&M sustentável cada vez maior e mais bonita

Veja uma aplicação prática no âmbito da moda, que é afinal o assunto que nos traz: a linda t-shirt a um euro na montra da loja. São precisos cerca 70 cm de tecido para a confecionar – em sintético, claro, para ter menos um dígito no preço; energia não-renovável para as máquinas de corte e costura – ou no pior dos casos, mão-de-obra manual e demais barata; o tinto químico que a colora – a sua produção e pós-lavagem depois de usado em países mais baratos terceiro-mundistas implica muitas vezes falta de controlo no impacto ambiental; mão-de-obra paga a níveis vergonhosos e na maior parte das vezes em condições laborais impensáveis – não pense que por não lhe chegarem ao Facebook estas situações não existem; logística e transporte – uso de combustíveis fósseis, claro, não há camiões TIR movidos a energias renováveis, etc, etc, é toda uma longa lista de ‘nãos’.

O simples tecido da t-shirt, para poder custar tostões ao consumidor, custou imenso ao planeta, estilhaçou a sociedade, gerando lucros brutais e muito mal redistribuídos. Este é o lado da moeda que nos tem sido oferecido. Ainda o queremos?

Por um caminho diferente

Há pouco tempo li uma frase do designer Rui Pereira que descreve, bem e sucintamente, como as coisas estão a mudar, diz ele: “a pequena manufatura especializada é um caminho certo na economia de um futuro breve”, diz Rui, “numa sociedade que valoriza cada vez mais a manualidade e cada vez menos produtos que provocam impacto ambiental, as sinergias criadas entre designers e artesãos são essenciais”.

É todo um lado novo da mesma moeda, comércio, claro que sim, mas com modos de desenhar, produzir, comprar e ser diferentes. E será (esperemos que seja já!), um consumidor esclarecido e informado que ajudará a dar a volta à moeda. Uma das tendências estruturais que se tem mantido de há uns anos para cá é a manualidade, a única forma de produzir que espelha o cada vez maior desejo universal por parte do consumidor, ter um produto que seja só seu, se possível único.

Não custará um euro certamente, mas afinal, de quantas t-shirts precisamos? E se tiver que optar entre um estilo de vida consumista desgovernado e, no fundo, desumano, e um planeta habitável para as futuras gerações, escolhe o quê?

O Eco Design, acompanhado pelo fiel marido Comércio Justo, supre às mil maravilhas os desejos deste ainda nicho de mercado. São eles que com a sua produção característica – ecológica, justa e humana – fornecem aquilo que este ainda novo público quer. Porque quando o consumidor compra com justeza e humanismo, quem produz atuará de igual forma. A alternativa será ter que fechar a loja.