“Quero que o nosso carro esteja o mais bonito possível”

limpar o carro

Sabem aquela velha história de os homens nunca quererem parar o carro para pedir informações sobre o caminho? É verdade. Nós achamos sempre que sabemos lá chegar, mesmo contrariando o GPS. E é mentira – não sabemos. Quem sabe são as mulheres e por isso é que o maior rali de orientação do mundo não permite a participação de homens.

Foi preciso vir a Marrocos acompanhar as bússolas humanas Elisabete Jacinto e France Clèves para confirmar isso, mas poderia ter sido bastante mais fácil se tivesse ficado em casa. Bastava ter dado razão à minha mulher. Ela pode não conseguir decorar mais do que dois nomes de ruas em Lisboa (a nossa e a de casa dos meus sogros), mas deixem-na nos parques de estacionamentos subterrâneos de três ou quatro centros comerciais e não há quem a bata na escolha do melhor lugar, da saída mais próxima de elevadores e escadas rolantes e no decorar do piso em que deixamos o carro.

Estas senhoras que nos últimos dias têm descoberto, apenas com mapa e bússola, dezenas de pontos de controlo no meio do deserto e de paisagens rochosas são umas verdadeiras heroínas. Sobem dunas, percorrem pistas de pedra solta, traçam azimutes, sabem de mecânica e mantêm bem vivo o seu lado sensual e prático – feminino, portanto.

Se alguém tiver dúvidas, basta olhar para as unhas e olhos pintados, brincos e colares que não deixam de colocar a cada manhã que começa às 04h, cabelos penteados e maquilhagem e cuidado extremo com a viatura.


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Ontem, depois de uma primeira incursão nas dunas do Erg Chebi, as principais concorrentes ao pódio do Rali das Gazelas 2016 preparavam-se para traçar nova rota de forma a chegar ao segundo ponto classificativo do dia. Enquanto a navegadora francesa Claudine Amat desdobrava o mapa, a piloto senegalesa Syndiely Wade sacou de uma escova e de um pano e apressou-se a tirar o pó ao carro e a fazer brilhar o vidro dianteiro. O seu lado, noutros carros, outras concorrentes preparavam rolos de papel de cozinha e limpa-vidros para fazer o mesmo. No fim da tarefa perguntei à condutora africana se tinha terminado, se estava satisfeita com o resultado da limpeza. Riu-se: “Não tinha nada para fazer. Enquanto ela marca pontos no mapa, estou entretida. Limpo porque quero que o nosso carro esteja o mais bonito possível”. Mais nada – competir, mas sempre com estilo. E lá foram elas, sob o sol do deserto do Sahara, a acelerar em direção à meta.