Refugiada yazidi quer ver ISIS no Tribunal Penal Internacional

Farida Khalaf
Farida Khalaf

Farida Khalaf, refugiada yazidi, vem ao Estoril para pedir aos governantes que levem o ISIS ao Tribunal Penal Internacional.

A jovem de 20 anos foi raptada e vendida como escrava sexual, pelos militantes do ISIS, em 2014, numa aldeia do Iraque. Conseguiu escapar, relatou as atrocidades a que foi submetida no livro ‘A Rapariga que Derrotou o Estado Islâmico’ e é uma das oradoras das Conferências do Estoril, que começaram segunda-feira e decorrem até quarta-feira, 31 de maio.

Farida Khalaf, que falou no dia inaugural do evento, volta a dar o seu testemunho no último dia, com o objetivo de relatar a sua experiência e, dessa forma, chamar a atenção para os horrores que a minoria a que pertence tem sofrido às mãos do ISIS e apelar à ação de todos para os libertar – em particular as mulheres e meninas yazidi que permanecem reféns do Estado Islâmico.

“Eu espero que façam qualquer coisa, e qualquer pessoa pode fazer alguma coisa. Por outro lado, se estivermos a falar de políticos e governos, eles podem tomar ações”, começa por referir, numa entrevista ao Delas.pt, à margem das conferências, quando questionada sobre qual o impacto que espera que a sua mensagem tenha nas pessoas.

Mas aos governantes o apelo é muito concreto: “Vou pedir-lhes – e espero que eles me oiçam a mim e a outros sobreviventes – que levem estes casos ao Tribunal Penal Internacional, que tragam o ISIS à justiça. Porque nós não temos apenas que combater os militantes do ISIS, temos de combater a ideologia. Se os levarmos a tribunal saberemos de onde vêm a sua ideologia e os recursos”, afirma na mesma entrevista, que que poderá ler na íntegra em breve.

A jovem yazidi, que foi espancada e abusada sexualmente durante o tempo em que esteve em cativeiro, admite que “não é fácil contar” a sua história várias vezes, mas vai continuar a fazê-lo enquanto a sua missão não estiver cumprida. “Estou a lutar por outras mulheres da minha comunidade que ainda estão em cativeiro,”, sublinha.

Farida Khalaf é da mesma aldeia que Nadia Murad Basee e Lamiya Aji Bashar, outras duas jovens yazidis que também foram escravizadas pela organização extremista islâmica e que foram distinguidas, em outubro de 2016, com o Prémio Sakharov de Liberdade de Expressão.

As duas raparigas foram escolhidas pelos esforços que têm feito na defesa da comunidade yazidi e das mulheres que sobrevivem à escravatura sexual às mãos dos ‘jihadistas’ do Estado Islâmico.

Tal como Farida, tornaram-se porta-vozes da sua comunidade na denúncia dos crimes de guerra e genocídio perpetrados pelos militantes do ISIS. E tal como ela, também querem ver os seus agressores condenados nos tribunais internacionais.

Nadia Murad é, de resto, representada por uma figura de peso nessa intenção: Amal Clooney, advogada especialista em Direitos Humanos:

“Uma das formas de punir o Estado Islâmico é expor as suas atrocidades e a sua corrupção. E uma forma de fazer isso é através de um julgamento”, disse a advogada e embaixadora da Boa Vontade da ONU, numa assembleia das Nações Unidas, em setembro de 2016.

Amal Clooney frisou ainda que “é urgente combater o grupo” e que “impedir as suas atrocidades contra mulheres e crianças é mais importante do que qualquer ameaça”.