São mulheres, estrangeiras e empreendedoras… em Portugal

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Criar um negócio próprio é sempre um desafio. Fazê-lo num país estrangeiro, com uma cultura empresarial que desconhecemos e um idioma que não dominamos é uma aventura que exige, entre outras qualidades, coragem! Fomos conhecer a experiência de três mulheres, holandesas e francesa, que escolheram Portugal para empreender na área do turismo.

As irmãs Irik numa aventura pelo mar Português

A proximidade ao mar, a natureza intocada, o clima, a vida social e o estilo de vida português convenceram Bo e Femke Irik a ficar por terras lusas. Chegaram a Portugal em 1999 com os pais, empresários, que à data se reformaram. Em Lagos, apaixonaram-se pelo mar, praticando vela e surf e foi no sul que a SeaBookings terá começado a germinar. Na verdade, tudo começou com a identificação de uma oportunidade de negócio quando ambas vendiam bilhetes para a observação de golfinhos, para um operador marítimo no Algarve. Isto em 2006, quando tinham 17 e 15 anos de idade. À época, não imaginavam que aquele trabalho de verão, que se viria a repetir nos verões seguintes, seria determinante para o seu futuro próximo.

A experiência profissional levou-as a uma reflexão sobre aquele fenómeno: “o processo de reserva deste tipo de atividades (náuticas) poderia ser otimizado, tanto da perspetiva do operador marítimo como do turista, através da digitalização da venda.” A ideia ficou a marinar!

Concluíram os estudos em Lisboa, Bo licenciou-se em Economia e Femke, em Gestão. Mais tarde, Bo voltou à Holanda para fazer mestrado em Gestão Internacional, ainda pensou em ficar por lá, mas as saudades, tão nossas, já a tinham persuadido a regressar. Em 2014, as irmãs Irik lançaram a SeaBookings, uma plataforma de reservas de atividades náuticas. Numa mesma plataforma online, o cliente pode escolher entre vários destinos – de Alvor a Tavira e ainda Cabo Verde -, e várias experiências náuticas – de passeios de barco a mergulho. Duração, capacidade de pessoas e preço fazem parte das informações disponíveis online para apoiar a decisão.

Querem “impulsionar o turismo do mar em Portugal através da internet, estabelecendo a ponte entre os operadores marítimos e quem procura desfrutar do mar português”, explicam. As dificuldades que sentiram na operacionalização do seu negócio prendem-se com “a questão de gestão do tempo (work life balance) e encontrar a equipa perfeita.” Sobre as grandes virtude dos portugueses, Bo e Femke destacam “a excelente hospitalidade e a capacidade de improviso (A.K.A. ‘desenrascanso’)”. Já a falta de “pontualidade e de frontalidade” são apontados como os grades defeitos.

O que diriam a portuguesas que pensam empreender por terras lusas?

Just do it. Quem não arrisca não petisca e better done than perfect. Se tiverem uma boa ideia, comecem a trabalhá-la sem medo. Se correr mal, pelo menos tentaram e será uma lição para a próxima ideia. O que têm a perder?”

Sophie já tinha decidido viver em Portugal. O negócio chegou depois!

A família chegou em meados de Agosto deste ano. “Não consigo dizer exatamente o que nos fez querer mudar para Portugal”, antecipa Sophie que, com o marido Henri Cuypers e o filho, de 16 anos, decidiu mudar-se, de malas e bagagens, para Lisboa. Nas viagens preparatórias, notaram a ausência de um serviço: carros de aluguer onde uma pessoa com mobilidade reduzida possa utilizar a sua cadeira de rodas, de uma forma prática e em condições perfeitas de segurança.

Em França, trabalhava numa empresa de estudos de mercado. Quis o destino que Sophie conhecesse Sylvain Mas, um dos criadores da Handynamic , empresa francesa líder de mercado de aluguer e venda de carros adaptados para o transporte de pessoas com mobilidade reduzida. “Há um profundo compromisso da empresa para servir a uma causa maior”. A forte vertente humana e social do projeto aliada à ausência de soluções para viajantes com mobilidade reduzida em Lisboa terão sido decisivos para que Sophie apostasse neste conceito. A partir daí, e como diz: “convencer Sylvain e os seus sócios a permitirem que o conceito da empresa viesse para Portugal, não foi difícil.” Handynamic está vocacionada para o turismo, mas não só. Táxis, associações, entidades públicas e privadas, pessoas a título particular podem alugar, e futuramente comprar, os carros adaptados que Sophie disponibiliza. Por ora, a frota é composta por duas viaturas sendo que ambas estão aptas a receber cadeira de rodas, manual ou elétrica, sem que a pessoa tenha de ser deslocada.

Recém-chegados à capital, o grande obstáculo que agora se coloca é o idioma. Para o transpor, Sophie tem aulas de português mas não está à espera de dominar a língua para avançar com o negócio pelo que está já a estabelecer contactos com associações e entidades públicas para dar a conhecer o seu serviço. A intenção, de resto, é alargá-lo a outras áreas do país.

Analisando o seu percurso de empreendedora por terras lusas diz não identificar aspetos negativos. Talvez seja por falta de experiência no terreno ou talvez seja uma forma de estar na vida: “tenho a certeza de que a vida pode ser boa, esteja-se onde se estiver”. Lembra que a primeira impressão que teve de Portugal foi a bondade das pessoas: “fiquei impressionada, porque toda a gente tenta sempre ajudar, independentemente da situação em que se encontra.” Compara Portugal ao seu país natal, onde, há uns anos atrás, a vida era igualmente “doce”. Nota que por cá estão a ser feitos investimentos, nomeadamente ao nível das acessibilidades, na capital, para facilitar a vida das pessoas com mobilidade reduzida.

E conclui: “Portugal está a viver uma espécie de recomeço. Tem o futuro nas mãos”