Sara Prata: “A verdade é que não gosto muito de cozinhar”

Sara Prata estreou-se na televisão aos 18 anos, com uma curta participação na telenovela Lusitana Paixão, da RTP1, mas foi a dar vida à rebelde Becas na série Morangos com Açúcar da TVI, três anos depois, que se tornou inesquecível para os portugueses. Seguiram-se outras cinco novelas, todas elas no canal de Queluz de Baixo.

Há dois anos, aventurou-se no mundo da dança, no programa Dança Com As Estrelas, também da TVI. Ganhou o concurso e ainda mais carinho por parte dos portugueses, que se deixaram conquistar pelo seu talento, simpatia, genuinidade e sorriso fácil. Recentemente participou no programa MasterChef Celebridades e foi por pouco que não saiu também vencedora.

A participação no programa de culinária coincidiu com o lançamento de Prata, pratinha, pratão, o livro de receitas que já andava a preparar há cerca de um ano e cujos direitos de autor revertem, na totalidade, para a Fundação do Gil. A aventura começou por acaso, quando estava a tentar que a sobrinha Carolina, de 10 anos, se alimentasse de forma mais saudável sem chorar.

A atriz escreveu algumas receitas em pedaços de papel e, no decorrer de uma conversa com Patrícia Boura, presidente-executiva da Fundação do Gil, acabou por contar que estava a fazer o esboço de um livro para ajudar a sobrinha a comer melhor. Patrícia adorou a ideia e convenceu Sara a partilhar o livro com o país inteiro.

O livro que acabou de lançar chama-se Prata, pratinha, pratão! Onde foram buscar este nome tão divertido?

Foi na Fundação do Gil que surgiu essa ideia. Para nós era importante o título representar logo um bocadinho do que é o livro e o nosso objetivo principal era abordar uma alimentação feliz, saudável, que nos traga bem-estar. Quisemos brincar com o meu nome, que é tão apelativo, e ficou Prata, pratinha, pratão. Representa bem a atmosfera e ambiente vividos neste livro, que fala de uma alimentação descontraída e feliz para crianças. Foi muito bem conseguido.

Este livro nasce de uns rascunhos de receitas de alimentação saudável que estava a fazer para a sua sobrinha…

A alimentação é uma preocupação minha. Gosto de me alimentar bem, com sabores e com qualidade. Gosto de tirar da rica gastronomia do nosso país o melhor dos ingredientes, proteínas e legumes. Depois apareceu essa preocupação em relação à minha sobrinha, por quem me sinto responsável também no que toca à alimentação. Percebi que muitas vezes não tomávamos as opções mais corretas, mas entretanto reparei que ao querer que ela comesse de forma mais saudável estava a criar um bicho papão sobre a alimentação saudável, que ela pensava ser uma chatice. Num dos dias que passei com ela percebi que estava a causar-lhe stress, incómodo e não é isso que se quer passar às crianças, elas não têm de estar conscientes disso. Têm, acima de tudo, de experimentar e estar felizes. Aí cheguei à conclusão de que o erro não era dela, era meu, que estava a transmitir tudo de forma errada.

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Como é que os rascunhos se transformaram neste livro?

Numa das minhas visitas à Casa do Gil, numa conversa com a Patrícia Boura, percebemos que era uma preocupação mútua e acabei por partilhar com ela o esboço desse livro que estava a fazer para a Carolina. A Patrícia desafiou-me para fazermos um livro juntas porque a Fundação do Gil tem uma estrutura familiar e, além da educação, preocupam-se com a alimentação. Rapidamente percebemos que nos íamos divertir muito a construir este projeto. Senti a inquietação de ter de fazer qualquer coisa e este projeto acabou por ser a união de duas coisas que me dizem muito: a preocupação com os miúdos e a alimentação.

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Prata, pratinha, pratão, de Sara Prata. Casa das Letras, 17,01 euros

Qual foi a reação da sua sobrinha quando soube que estava a preparar um livro para ela?

Ela é muito engraçada, disse logo que agora é que eu não me safava de cozinhar com ela. A Carolina quer sempre cozinhar quando vem para minha casa, fazemos receitas juntas, pede sempre para a deixar ajudar e eu não me importo de partilhar coisas em casa, destruir ou estragar. A vida é para a vivermos, ela viu este livro como a desculpa perfeita para agora fazer as receitas da tia com a tia e eu acho ótimo.

O que as pessoas vão poder encontrar no Prata, pratinha, pratão!?

O livro tem receitas que fazem parte do dia-a-dia dos portugueses, dizem-nos muito. Não há nada de desconhecido aqui. Há três coisas que as pessoas apontam para não ter uma alimentação saudável: não tenho dinheiro, não sei fazer e não tenho tempo. Este livro acaba por descomplicar tudo isso. Não é necessário ter muito dinheiro porque as receitas são feitas com ingredientes que já temos em casa, são muito fáceis de fazer para qualquer pessoa e muito práticas e rápidas, o tempo não vai ser uma desculpa. Como tinha as crianças e a felicidade delas como mote principal, decidi conjugar neste livro uma série de atividades, jogos, desenhos para pintar, tudo coisas que têm muito a ver comigo. Já me via a passar horas a pintar este livro, que não é só para a mãe ou para o pai que estão na cozinha. Podemos encontrar este livro no quarto dos miúdos, provavelmente eles vão ser os primeiros a querer pegar e folhear. Tenho a certeza que vão querer começar por completar as atividades e pinturas, mas rapidamente vão passar para uma receita, uma massa de pizza de beringela, por exemplo. Tenho aqui pizzas, hambúrgueres, nuggets, frango, batidos e gelados, mas são todos descomplicados e não incluem aqueles elementos que são menos bons para nós. Esses ingredientes foram substituídos por outros mais nutritivas e mais divertidas, daí a minha preocupação para que fosse um livro feliz. Os miúdos têm de ter uma alimentação equilibrada e aqui há de tudo um pouco mas sempre com a diversão como mote.

O resultado da sessão fotográfica está bem divertido. Fez questão que assim fosse? Que as imagens mostrassem esse seu lado?

Este espírito é um bocadinho daquilo que sou e daquilo que queria passar. O meu objetivo era contagiar as pessoas que estivessem a folhear este livro para que tivessem vontade de experimentar, nem que seja para, no fim, ficarem com este sorriso de orelha a orelha. Este dia foi muito divertido. Quando as coisas são feitas com o coração dão origem a estes momentos espontâneos de cacau na boca a preparar uma mousse que é maravilhosa e não leva açúcar.

Muitos pais só se preocupam com a alimentação dos filhos quando já são obesos. No seu caso, em relação à sua sobrinha, quis agir antes que isso se tornasse um problema?

Sim, acima de tudo temos de fazer com que os miúdos experimentem várias coisas. Isso dá-lhes, de certa forma, bases para a vida. A educação passa pela alimentação. Os miúdos dizem “não” com muita facilidade, nós temos de insistir para que não se habituem a isso. Eu, por exemplo, sempre brinquei com os legumes, pus as mãos na terra, ia apanhar as batatas e cenouras, sempre tive um contacto muito direto com as coisas. Hoje, provavelmente, é isso que me faz aceitar desafios sem ter medo e não encarar os brócolos e as cenouras como uma chatice. Se experimentarem vários alimentos serão também crianças e adultos mais disponíveis para abraçarem outros projetos.

Cortar completamente nos doces também não é solução, pois não?

Tento sempre encontrar um equilíbrio. Se nos conseguirmos alimentar bem em 80% do nosso mês há sempre espaço para 20% de coisas menos boas e esse espaço é importante. Sabemos que fica muito difícil de controlar a alimentação quando os miúdos vão a uma festa de aniversário. Se não der para cortar nos doces encontrem outras opções mais saudáveis. Eu não uso chocolate, uso cacau de 75% e tâmaras em vez de açúcar. Tudo é uma questão de descoberta e aposto que, ao chegarem ao fim de qualquer uma destas receitas, os miúdos nem vão acreditar que nada disto tem açúcar. Eles só comem se nós dermos.

Como surgiu a ligação da Sara à Fundação do Gil?

Eu e a Patrícia temos uma amiga em comum que nos apresentou porque sabia que, tanto para mim como para ela, fazia sentido. Estou atenta à sociedade à minha volta e custa-me estar em casa sem agir ou sem estar consciente de que posso ser um meio para que a mensagem seja transmitida. Ao ter essa consciência, não me importo de abraçar algumas causas, de ir ao terreno, conversar, saber e conhecer as coisas. Já fui algumas vezes ao IPO e a outras instituições e acabo por sentir que é necessário envolver-me. É importante não passar ao lado das diversas situações mesmo que a minha ajuda seja mínima, uma presença, um abraço, colo ou mimo.

E aproveita também o facto de ser uma figura pública para conseguir obter mais ajudas.

Se temos um lado mais social podemos aproveitar isso para intervir em situações de risco. Sinto que tenho responsabilidade de o fazer e faço-o de coração aberto, o que é melhor ainda.

As crianças da Fundação do Gil já experimentaram algumas das receitas?

Já combinámos uma ida lá para pôr em prática estas receitas, mas eles já estão muito habituados com a Patrícia, ela tem vindo a fazer esse trabalho de casa muito bem. Sabem qual é a sopa boa, a menos boa, o bolo bom e o bolo não tão bom. Já vão tendo essa lição bem sabida, por isso ficam muito felizes de cada vez que há uma visita nova e coisas novas a acontecer. Um dia destes vou lá pintar e fazer umas receitas.

O que tem aprendido ao fazer este livro vai facilitar-lhe a tarefa quando, um dia, for mãe?

Não me facilitará porque isso já faz parte do meu dia-a-dia, mas é óbvio que me preencho de várias coisas sempre com o objetivo de ter um futuro mais completo. Não penso nisso agora.

De onde veio o gosto pela culinária?

Foi uma coincidência o meu dia-a-dia passar a ser, de repente, tão virado para a culinária. A verdade é que não gosto muito de cozinhar, não gosto de ficar muitas horas na cozinha, mas gosto de comer bem. Custa-me pegar em alguns ingredientes e depois não fazer pratos bem feitos. Sou muito curiosa e estou sempre à procura de receitas e dicas que possam melhorar o meu dia-a-dia. Adoro comer, se pudesse passava um dia inteiro a comer.

A sua participação no MasterChef coincidiu com a preparação deste livro?

Este projeto já tem mais tempo do que o MasterChef, está a ser desenvolvido há cerca de um ano, mas foi uma coincidência muito feliz o facto de estar a terminar o livro e ter sido convidada. A Patrícia foi uma das primeiras pessoas com quem partilhei, em segredo, que ia entrar no MasterChef porque, de repente, vi-me entre os tachos e fazia todo o sentido. Daí ter aceitado o MasterChef, que foi um projeto tão giro com um grupo de colegas maravilhoso. Deu para quebrar a curiosidade que as pessoas têm em relação a nós. Faço um balanço muito positivo, principalmente pela possibilidade de ter um contacto mais direto com o público, foi muito giro. Hoje em dia tenho abordagens muito espontâneas na rua… Ainda bem que aceitei!

Foi uma das quatro finalistas do programa e chegou ao duelo final. Alguma vez teve receio de que a sua prestação no programa pudesse influenciar o sucesso do livro que aí vinha? Se não se revelasse uma boa cozinheira, talvez as pessoas achassem que não fazia sentido comprar o seu livro de receitas.

Não, para mim os projetos não estavam dependentes um do outro. Cada um fala por si. Este projeto tinha tudo para resultar por si só porque foi feito com muito carinho, muito amor e o objetivo de doar os direitos de autor à Fundação do Gil teria de funcionar por si mesmo.

De todo este Prata, pratinha, pratão!, quais são as suas receitas preferidas?

Sou doida pela mousse e por esta verdadeira “Nutella” deliciosa. O brownie também é maravilhoso, repito mil vezes. Tal como as papas de fruta, os croquetes, que estou sempre a fazer em casa, e os purés que são ótimos para substituirmos os hidratos. Em qualquer uma destas receitas podemos aproveitar os restos que temos em casa, daí dizer que não há desculpas para a questão do dinheiro. Há sempre aquele dia em que temos o frigorífico cheio de coisas e não sabemos o que fazer. Façam uma frittata, é uma refeição muito divertida.

Há dezenas de livros de receitas e alimentação para crianças nas livrarias portuguesas. Por que devem as pessoas escolher o seu?

Fiz questão de escolher esta capa porque acho que por si só diz: “Levem-me, levem-me!”. Adoro livros de receitas e se visse esta capa numa estante levava-o logo para casa. O Prata, pratinha, pratão só faz sentido no balcão.

Que novos projetos vêm aí?

Vou voltar à minha profissão mãe, a representação. Isso é que sempre me moveu. Em breve irei voltar aos ecrãs com a TVI. Ainda não tenho nada em concreto que possa avançar, mas assim que puder irei voltar para os portugueses com uma nova personagem, que é assim que me sinto bem. O último projeto foi A Única Mulher e exigiu muito de mim, de nós. Foram dois anos muito intensos.

Imagem de destaque: Sara Matos/Global Imagens