Vestidos floridos portugueses vestem meninas africanas

Quem olha para eles, coloridos e floridos, vê simples vestidos. Mas as peças que saem das mãos das dezenas de voluntárias nacionais do Little Dresses for Africa (LDFA) são bem mais do que isso. Lisa Santos, a mentora da versão portuguesa do projeto, confirma que os pequenos vestidos são “um símbolo, um veículo de autoestima e de esperança, que dão às meninas, muito prejudicadas nos países mais carenciados, a certeza de que também têm direito a sonhar”.

Foi em 2008 que tudo começou, nos Estados Unidos, pela mão de Rachel O’Neill, uma norte-americana que decidiu criar um projeto que se dedica à elaboração e ao envio de vestidos para as meninas de países mais carenciados, sobretudo em África. O lema é simples: “não estamos apenas a enviar vestidos, estamos a enviar esperança”. Há de facto roupa, explica Lisa Santos, e esta também faz falta. “Mas ela tem um significado mais abrangente. Através das peças, consegue-se chegar às crianças de outra forma, conquistar a sua confiança e passar ensinamentos. E esperança. As meninas são menorizadas, abusadas, maltratadas e o facto de terem uma peça de vestuário nova é sinal de que alguém se preocupa com elas, que as valoriza.”

Desde então, qualquer coisa como 3,5 milhões de peças de roupa foram enviadas para os países de destino, oriundas das muitas delegações que, a pouco e pouco, foram surgindo em diferentes países.

Portugal é um deles. Mas foi por acaso que começou a aventura nacional, ainda recente, mas com muito sucesso. “Tive conhecimento da LDFA através de um post de uma amiga, que tinha partilhado a publicação de uma rapariga brasileira. Essa rapariga reciclava camisas, fronhas, retalhos e convertia-os em vestidos”, conta Lisa Santos. Costureira nos tempos livres, achou a ideia interessante, mas esbarrou num obstáculo, a distância. “Quando percebi que ela estava no Brasil, fui online à procura da organização e resolvi contactá-los diretamente para saber se não havia nada mais perto para onde eu pudesse enviar as peças. Falei com a delegação do Reino Unido e no email de resposta perguntaram-me se eu não podia fazer a representação na Península Ibérica, abrindo uma delegação em Portugal.”

A criação de uma página no Facebook teve como resposta, em pouco mais de três meses, qualquer coisa como 160 voluntárias para a costura e 400 peças enviadas para o Quénia, Guiné-Bissau, Mauritânia e Moçambique. “Eu nem sabia muito bem o que poderia esperar na altura em que isto começou. Pensei que chegava ao fim da divulgação e ficava com uma dúzia de pessoas a costurar comigo, fazíamos umas peças e enviávamos. Nunca supus que, de facto, tivesse a adesão que tenho tido.”

A ajuda tem chegado de todo o País, não só em forma de materiais – camisas, fronhas de almofadas, retalhos de tecido -, como também de mão de obra. Uns como mais tempo (desempregados e reformados), outros com menos, todos disponíveis para contribuir. E toda a ajuda continua a ser bem-vinda, seja em forma de materiais, mãos hábeis ou apoios para os envios.

É aqui que o projeto se depara com as maiores dificuldades. É fruto da parceria com missões a trabalhar no terreno, nos países mais carenciados, que os vestidos têm chegado às remotas paragens africanas. Mas há zonas às quais apenas é possível aceder pagando o transporte. “Precisamos de um fundo de maneio para fazer estes envios”, explica Lisa Santos. Esses e outros, aqui mais perto. “Uma vez que estamos todas em pontos diferentes do País, é preciso também fazer transitar materiais de um lado para o outro e as peças, que têm que chegar até mim…” É aqui que entra a participação numa nova plataforma de crowdfunding que a câmara de Lisboa se prepara para lançar. “Vamos tentar recolher verbas para manter o projeto a andar e para o fazer crescer ainda mais.”