Tailândia quer ser destino seguro para as mulheres. E a prostituição?

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Até ao final de agosto, a Autoridade do Turismo da Tailândia (ATT) tem em marcha uma campanha para atrair mulheres turistas ao país, que se quer apresentar como destino seguro para elas, podendo inclusivamente viajar sozinhas.

A entidade publicou um guia turístico vocacionado “para mulheres”, isto porque, refere a nota enviada à imprensa “é cada vez maior o número de mulheres que viajam sozinhas ou em grupos de amigas para destinos considerados ‘seguros‘, sendo a Tailândia um dos que apresenta maiores taxas de crescimento da procura em todo o mundo”.

Só na primeira metade deste ano, a Tailândia recebeu 17,32 milhões de turistas, um número que representa um aumento de 4,41% face ao período homólogo de 2016 de acordo com os dados revelados esta semana pelo Ministério do Turismo e Desporto.

Nas contas finais do ano passado, o país acolheu 32,58 milhões de pessoas – vindas sobretudo de países como a China, a Malásia, a Coreia do Sul, Japão, Laos, Índia, Rússia, Reino Unido, Estados Unidos da América e Singapura -, revelando também um incremento face ao total global de 2015.


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No que diz respeito a Portugal, a ATT explica que, “em 2016, o público feminino português representou 51% do número total de turistas de outgoing, o que aplicado ao destino Tailândia representa cerca de 23.000 visitantes”, afirma o mesmo comunicado enviado à Imprensa.

Descontos e promoções a pensar nas mulheres

A Women’s Journey Thailand 2017 quer, assim, atrair público feminino através da oferta de produtos e serviços a preços mais acessíveis e que passam por descontos em áreas como “o alojamento, saúde e bem-estar, shopping, restaurantes, entretenimento, atividades turísticas e transportes”, lê-se no comunicado enviado pela assessoria da entidade.

A mesma promoção quer promover o “acesso a um conjunto de ofertas nos balcões ‘Women’s Journey Thailand 2017′, localizados nos principais aeroportos”. De acordo como a mesma nota, as promoções passam por, entre outros itens, “um desconto especial para as passagens aérea dos voos domésticos da Bangkok Airways, em tarifas superiores a 33 euros (1.290 bahts), tarifas especiais no aluguer de carros do Thai Rent A Car (13 euros -499 Bahts -/ dia)” e descontos em lojas associadas.

A Tailândia e o turismo sexual

Embora a campanha internacional queira atrair mais mulheres, certo é que há muitos anos que o país tem estado associado ao turismo sexual. Tanto que a ministra que tutela a pasta desta área económica, Kobkarn Wattanavrangkul, prometeu, em 2014, interromper esta lógica e reverter a realidade.

Ministra tailandesa do Turismo e do Desporto, Kobkarn Wattanavrangkul [Imagem: Facebook]

Nesse ano, constitui um projeto-piloto na cidade resort de Pattaya para tentar libertar a cidade costeira com mais de mil bares e centros de massagens da prática ilegal. A então ministra do Turismo e do Desporto solicitou à polícia que fizesse rusgas a bordéis tailandeses, tendo em especial atenção para com os casos de tráfico humano e prostituição de menores. A operação policial pouco pôde fazer para por termo a esta realidade.

“Queremos que a Tailândia esteja associada a turismo de qualidade. Queremos a indústria do sexo fora do território”, declarou a ministra à agência noticiosa Reuters em junho de 2016. “Os turistas não vêm para a Tailândia para isso, vêm para conhecer a nossa bela cultura”, declarou.

Recorde-se que o turismo sexual na Tailândia teve já honras de figurar até em romances: entre eles, no polémico livro Plataforma (2001), do autor francês Michel Houellebecq, história onde era já relatada uma excursão de franceses àquele país e que passava por programas de cariz sexual.

Relatos de um território que há muito ilegalizou a prostituição. Recorde-se que a prática está banida do Sudeste Asiático desde 1960. No entanto, a indústria do sexo conta com, de acordo com as estimativas mais recentes, cerca de 120 mil trabalhadores do sexo, com as autoridades a serem acusadas de taparem os olhos a estas realidades.

Voos baratos e turismo sexual

O que tem em comum a prostituição, a Internet e os voos a preços acessíveis? De acordo com o estudo levado a cabo pela World Tourism Organization e publicado em maio de 2016, todo o Sudeste Asiático, a par de Portugal, Moldávia, Ucrânia se apresentava como destino para abusadores, uma prática crescente nas últimas duas décadas.

Segundo a investigação, que recolheu dados relativos a 2014, intitulada Estudo Global e Exploração Sexual de Crianças em Viagem e Turismo (e que pode ser consultada aqui) e apoiada pelas Nações Unidas, este aumento está relacionado com o incremento da oferta de viagens, mas também pelo amplo uso da Internet.

“Ficou demonstrado, inegavelmente, que o uso crescente da Internet tem permitido aos agressores procurarem e marcarem as crianças via online, trocarem informações e conselhos sobre como abusar de menores escapando às autoridades e, em alguns casos, ‘reservar crianças’ com antecedência”, explica o relatório publicado.

A mesma investigação vem agora apontar que quem procura sexo já não é o grupo que se compõe apenas os turistas, registando-se um aumento de agressores sexuais que são pessoas do mundo do negócio.

Dados que o estudo ressalva: “apesar de ainda não existir um olhar preciso e mensurável, há indicadores alarmantes de que o crime é persistente e está amplamente difundido”. E se antes da viragem do milénio, o agressor-tipo era visto como homem branco, endinheirado, de meia-idade e oriundo de um país desenvolvido, atualmente – refere o estudo – tudo aponta para que “cada vez mais crianças sejam abusadas por turistas e viajantes dos seus próprios países ou regiões do que pessoas que viajam de outras partes do mundo”.

Tailândia como destino de saúde

A capital do país é, ao mesmo tempo, um dos maiores centros de turismo para a saúde do Mundo, com Banguecoque a tornar-se um relevante centros médico que atrai visitantes do Médio Oriente e países asiáticos, bem como europeus, australianos e norte-americanos.

Com mais de mil hospitais, dos quais perto de metade são privados, a Tailândia apresenta-se como destino nesta matéria devido aos baixos custos e qualidade dos tratamentos e à rede de turismo amplamente desenvolvida.


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Estes são os argumentos que o site oficial dedicado apresenta. É no healthtourism.com que é possível ficar a conhecer as especialidades médicas, os tipos, os preços e os locais para as cirurgias, mas também os aspetos negativos como a falta de cuidados de saúde primários, médicos que trabalham a tempo parcial e uma rede de transportes de emergência frágil.

Imagem de destaque: Shutterstock