Tem menos de 26 anos? Então faz menos sexo do que os seus pais

“No nosso tempo não havia redes sociais e por isso fazíamos mais sexo.” A frase está quase-quase a substituir aquela história de se fazerem mais filhos quando não havia televisão. Não é exatamente assim que o fenómeno é descrito mas uma das autoras do estudo ‘Inatividade sexual entre os jovens adultos é mais comum entre os millennials e os iGen dos Estados Unidos e os efeitos geracionais de não ter parceiros sexuais depois dos 18 anos’, numa entrevista à New York Magazine, refere que “Se os jovens adultos mudaram as suas vidas sociais para o online, estarão menos vezes com os seus pares em pessoa e terão menos oportunidades de fazer sexo. E depois, há tantas distrações por todo o lado.”

As palavras são de Ryne A. Sherman, ela própria uma millenial e coautora do estudo orientado por Jean M. Twenge, uma sumidade da Sexologia na Califórnia. O estudo agora publicado analisou as respostas dadas em inquéritos de rotina dos sistemas de saúde e chegou à conclusão que as gerações mais novas, hoje com idades compreendidas entre 18 e 26, estão a fazer menos sexo do que as gerações anteriores, quando estas tinham as mesmas idades.

Para se ter um a ideia mais concreta, o estudo demonstra que por volta de 1985, dos jovens adultos que tinham entre 20 e 24 anos só 6,3% afirmava não ter parceiros sexuais. Em 1990, eram já 11,49% os que não faziam sexo. Em 2010, os entrevistados dentro dessa baliza temporal que não faziam sexo no último ano já atingiam os 15%.

Para além das redes sociais e dos jogos de entretenimento que fazem com que não fazer sexo acabe por não ser uma decisão consciente, há mais variáveis que Sherman aponta para a diminuição da atividade sexual entre os jovens adultos quando comparados com os jovens de outros tempos. Diz Sherman que o sexo entrou no imaginário destes indivíduos ligado diretamente às campanhas de prevenção da SIDA e que o medo tomou durante muito tempo o lugar do desejo.

Outro fator que parece contribuir para o prolongamento da castidade é o adiamento da idade adulta – sair de casa dos pais é um passo dado cada vez mais tarde, tanto para casar como para ter o seu próprio espaço e com isso atrasa-se o início da atividade sexual regular. E se este estudo não se debruça sobre a idade da primeira experiência sexual, há outros dados que demonstram que também a perda da virgindade vem sendo progressivamente adiada: em 1991, 54% dos alunos do ensino secundário já tinha feito sexo, contra 41% em 2015.

Causas do efeito no lado de cá do Atlântico?

Um outro estudo publicado recentemente no Reino Unido vem dar luzes complementares sobre a vida sexual dos mais jovens. No Natsal 3 refere-se que, entre os 16 e os 21 anos, 44,4% das raparigas e 33% dos rapazes sentiu no último ano algum tipo de problema, e que perdurou pelo menos 3 meses, durante a atividade sexual.

Para as raparigas o problema mais comum (21%) é a dificuldade de chegar ao orgasmo, depois a incapacidade de gostar (9,8%) ou ter dores depois do sexo (9%). 8% das jovens mulheres disse não sentir excitação sexual. Sim, é verdade, parecem velhinhas e o estudo do National Survey of Sexual Attitudes and Lifestyles encontra esse paralelismo.

Os problemas não se ficam por aqui. Para lá da habitual ejaculação precoce comummente identificada como um problema da juventude / inexperiência / excitação a mais e que neste estudo assola 13,2% dos rapazes, os segundo maior problema identificado é a dificuldade de atingir o clímax (8,3%) e até a incapacidade de sentir prazer no sexo (5,4%). Não havendo uma relação causa-efeito estabelecida entre os problemas descritos e a castidade, a verdade é que eles parecem estar em crescimento ao mesmo tempo que diminui a prática sexual.

Jovens lusos menos ativos sexualmente

Em Portugal, a tendência também é de diminuição das relações sexuais entre os jovens. É isso que se pode concluir do comparativo presente no estudo ‘A saúde dos adolescentes portugueses’ (2015). Quando se colocam lado a lado as respostas de 2002 e 2014 à pergunta “Já teve relações sexuais?”, os alunos do 8º ao 10º anos inquiridos demonstram essa tendência: 23% diziam que sim em 2002, e apenas 16% davam essa resposta afirmativa em 2014.

Não é esta a perceção que todos os jovens têm. O Delas.pt pediu a opinião sobre os dados dos estudos a millenials portugueses e alguns deles mostraram-se surpreendidos com essa diminuição. Luísa, de 22 anos, afirma:

“No meu círculo de amigos, não vejo o reflexo desses dados. As pessoas têm relações sexuais com regularidade. E mesmo eu: sozinha há quatro anos, não deixo de ter relações sexuais por isso, mas sinto que, desde que saí da faculdade e comecei a trabalhar, tenho mais dificuldades em conhecer novas pessoas.”

A mesma rapariga afirma ainda que as exigências do emprego em tempos de crise são o primeiro limitador aos relacionamentos, independentemente da natureza destes:

“Se calhar é por este motivo que os jovens de hoje fazem menos sexo do que os pais: pelo facto de colocarem o trabalho – e o quererem ser bem-sucedidos e conseguirem ter oportunidades na área em que se licenciaram – em primeiro lugar.

Há também quem identifique as mesmas causas que Ryne A. Sherman identificou para a diminuição das relações sexuais nos jovens adultos. Maria, de 24 anos, afirma:

“Devido à variedade de atividades à nossa disposição, desde a Internet a viagens.”

Veja na nossa galeria mais respostas de millennials à pergunta “Porque é que acha que os jovens agora fazem menos sexo do que os pais quando tinham estas idades?”