Universitárias decidem o futuro das empresas tecnológicas

Universitárias decidem o futuro das empresas tecnológicas
Universitárias decidem o futuro das empresas tecnológicas

Nas empresas tecnológicas portuguesas, as mulheres estão em minoria – 13,6%, diz o Eurostat. “O tema da diversidade de género no setor das TI [Tecnologias de Informação] é estrutural e embora tenha tendência a esbater-se, ainda levará alguns anos a apresentar uma capacidade de paridade total”, explica ao Delas.pt o diretor-geral da Microsoft Portugal, João Couto. Mas há estudantes universitárias empenhadas na mudança. É sinal de que o futuro das TI terá mais voz ativa feminina.

Madalena Moreira estuda Engenharia Eletrotécnica e de Computadores no Técnico e Rita Pereira é aluna de Economia na Nova. As duas têm 19 anos e esta quinta-feira participam numa sessão de Speed Dating com uma mentora da Microsoft. As duas fazem parte, na verdade, de um grupo de 200 jovens entre os 18 e os 26 anos que aceitaram o desafio “Do It, Girls!”, o programa da gigante tecnológica que pretende sensibilizar as estudantes universitárias para o setor das TI.

Madalena e Rita estão numa sala com mais quatro alunas, frente a frente com Clara Celestino, sénior de recursos humanos. Esta é a oportunidade para fazerem todas as perguntas sobre mulheres nas tecnologias, mas também para promoverem o seu gosto pessoal pela área.

“Eu achava ridícula a discussão sobre quotas [de género], até perceber que é preciso haver “role models” [mulheres que sirvam de exemplo] nas TI”, diz Rita.

“As referências e protagonistas modelo são muito importantes para captar talento feminino, como são por exemplo os professores, que têm capacidade de influenciar as jovens na fase da sua vida em que têm que fazer opções condicionantes da carreira”, explica Patrícia Fernandes, diretora de Relações Públicas, Marketing Central e Comunicação, à parte do evento. “O setor das TI apresenta grande modernidade e inovação, não apenas ao nível das ferramentas e processos de trabalho, mas também da gestão de pessoas e autonomia para comunicação. Por isso não é estranho vermos no setor líderes e outras mulheres de destaque com algum protagonismo mediático. O desafio é mesmo a escassez de protagonistas, o que vem sobrecarregar muito as que já existem e aceitam ser embaixadoras desta diversidade no setor.” O Fórum Económico Mundial, por seu lado, estima que a diferença de género nas carreiras não acabará antes de 2133.

O papel das universidades
Entretanto, na sala onde decorre uma das sessões de Speed Dating não se fala apenas de referências femininas nas empresas. Rita puxa o assunto da discriminação no Ensino Superior. “Quando entramos para a universidade [para cursos tecnológicos], surgem logo rumores, porque os rapazes estão em maioria, de que são eles que fazem pelas raparigas os trabalhos das disciplinas técnicas. Ou então, julgam-nos pela aparência física: feias e que nos vestimos mal. São coisas tão antiquadas e que nunca fizeram sentido. São comentários que começam a acumular-se e, como estamos em minoria, torna-se impossível mudar as opiniões.” Uma realidade que merece o conselho de Clara Celestino: “Não podes desistir por causa dos comentários. Agora, isso não pode ser sentido e não ser falado. É algo que não devia existir dentro de um estabelecimento de ensino.”

Durante o programa “Do It, Girls!”, que inclui também painéis de conversa sobre por exemplo, se as carreiras têm sexo, foi notória a preocupação destas jovens em saber como é possível conciliar a vida familiar com a profissional, nota Clara Celestino. A verdade é que esta é uma das preocupações da Geração Millennial (nascidos entre 1980 e o ano 2000) na hora de procurar emprego. Rita conta que muitas vezes brinca com a mãe dizendo que aos 28 anos quer ser mãe e ter um marido com quem dividir todas as tarefas domésticas.

“Eu não conseguiria trabalhar numa empresa que não esteja preparada para mulheres que tenham filhos”, arremata a estudante de Economia.

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A realidade da Microsoft
“Acreditamos que a diversidade, nomeadamente a de género, que a empresa representa tem de se aproximar o mais possível com a distribuição que encontramos na sociedade portuguesa. Só assim vamos conseguir perceber a psicologia e o comportamento dos nossos clientes”, explica Patrícia Fernandes, diretora de Relações Públicas, Marketing Central e Comunicação. “Por esta razão, não havendo um sistema de quotas, implementámos objetivos de diversidade em grande parte dos gestores de pessoas, pelo que todos os que contratam têm que assegurar que os seus processos de recrutamento apresentam uma riqueza de opções que reflete a diversidade de género natural. Graças a esta política, estamos já com 50% de representatividade feminina na equipa de direção e a crescer a 2 dígitos ao ano a entrega a senhoras de cargos de gestão. Globalmente na empresa, ainda estamos aquém das nossas ambições, mas a trabalhar ativamente para inverter o desequilíbrio.”

Vânia Neto, diretora para a área da Educação, Cidadania e Responsabilidade Social na Microsoft Portugal, explica que o programa “Do It, Girls!” pretende inspirar as mulheres – universitárias, pré-universitárias e todas aquelas que estão à procura de uma orientação profissional – a desenvolverem carreiras na área das TI. Até porque “não há objetivamente nenhuma razão para que isso não aconteça”, reforça. “Seja em funções mais ou menos técnicas, a verdade é que as mulheres têm exatamente a mesma capacidade para as executar que um homem. E este é um setor que permite constante aprendizagem, é líder no que toca a inovação e transversal a todos os outros setores de atividade, e as mulheres estão em pé de igualdade em relação aos homens para desempenhar essas funções e para progredirem nas suas carreiras. Há muitos mitos em volta das carreiras no feminino no setor das TI e é por isso que convidámos várias mulheres de sucesso que construíram a sua carreira nas TI para darem o exemplo.”