‘Verdade’ filme-ensaio sobre o jornalismo com Cate Blanchett e Robert Redford

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Perguntar. Perguntar é a função do jornalista. Perguntar, juntar fontes humanas e materiais, verificar versões de factos para chegar aos factos. ‘Verdade’ o filme de James Vanderbilt que tem Cate Blanchett como protagonista, é uma espécie de ensaio a sobre a função do jornalista, a construção de uma reportagem, a fidelidade à busca da verdade. O Delas.pt assistiu à ante-estreia e conta-lhe o que pode esperar.

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O guião, escrito por Venderbilt, é uma adaptação livre do livro de memórias de Mary Mapes ‘Truth and Duty: The Press, the President, and the Privilege of Power’, e recria a forma como a premiada produtora de televisão e a sua equipa de pesquisa – interpretados por Dennis Quaid, Topher Grace e Elisabeth Moss – investigaram os rumores sobre o Presidente Bush que, em 1968, se teria furtado à guerra do Vietname, alterando a documentação e, através de ligações familiares, ingressado na Força Aérea do Texas. A peça passa na CBS no programa ’60 minutos’ em plena campanha eleitoral para a presidência dos EUA, em 2004, mas em vez de causar dano ao candidato, acaba por destruir profissionalmente os jornalistas.

É que aquilo que parecia uma reportagem segura, com confirmações documentais e pessoais, desmorona-se, aparentemente, após surgirem dúvidas quanto à veracidade dos relatórios de uma patente da Força Aérea do Texas. O alvo da investigação deixa de ser o Presidente George W. Bush e passa a ser a equipa de reportagem. São questionados métodos, envolvimento político, parcialidades. A honra profissional dos jornalistas é posta em causa e todos os envolvidos no processo de investigação perdem o apoio da estação de televisão acabando por ser despedidos, inclusivamente o peso pesado Dan Rather, interpretado por Robert Redford.

No discurso final a personagem de Cate Blanchett, Mary Mapes, recentra-se no alvo de investigação. Diz ela que tinha fontes seguras, que corroboravam um período vazio na folha de serviço militar de Bush, depoimentos, documentos, e reafirma ter feito o seu trabalho sem ideais políticos obscuros.

O filme, claramente, toma o partido de Mary Mapes e James Vanderbilt consegue expor a sua versão das condições do exercício do jornalismo independente nos Estados Unidos da América, a sujeição ao poder político das grandes empresas de Media na América, e a vulnerabilidade dos jornalistas perante tais ligações. Ter estreado em outubro no período de pré-campanha eleitoral para a Presidência do EUA não foi certamente fruto do acaso.