Weza Silva: assumir a carapinha como exemplo para a filha

Weza Silva
A empresária com a filha, Chloé, que completou dois anos esta quinta-feira

“No fim de semana passado, o meu filho perguntou-me porque é que o meu cabelo não era igual ao dele”. A dúvida, colocada por Kendi, quatro anos, foi o catalisador que Weza Silva precisava para por em marcha um plano há muito delineado: tirar as extensões e mostrar ao mundo o seu cabelo natural.

O segundo aniversário da filha, Chloé, esta quinta-feira, foi o dia em que a empresária de 33 anos, nascida em Angola, mostrou nas redes sociais o novo visual. “Achei que, se calhar, estava na altura de assumir a carapinha”, começa por explicar Weza, que é casada com o jornalista da BTV, Luís Costa Branco.

O facto de ter uma filha foi também decisivo para esta mudança radical (embora, no passado, Weza Silva já tenha usado o cabelo rapado). A empresária e ex-assistente de bordo quis marcar uma posição contra uma certa ditadura imposta às mulheres de origem africana. “Passei a infância e adolescência a acreditar que o meu cabelo era feio. Queria ter o cabelo comprido e liso. Não quero que a minha filha passe pelo mesmo”, afirma de forma contundente, acrescentando ainda: “sou o primeiro e mais próximo exemplo de mulher na vida dela e quero que ela aceite o cabelo dela”.

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Apesar de, tanto em Portugal como em Angola, existirem mulheres como a atriz Ana Sofia Martins ou a manequim Maria Borges, que assumem os seus cabelos frisados, Weza Silva explica que há “uma enorme pressão para as mulheres terem o cabelo liso”. “Basta ver a quantidade de produtos que existem para alisar o nosso cabelo”.

A viver em Portugal há três anos, Weza estabelece um ponto de comparação com o seu país natal. E diz que lá, a pressão para se ter um “cabelo enorme” é ainda maior. “As mulheres em África são mais escravas da imagem da ‘mulher perfeita’. Falo por mim, uso extensões desde os 17 anos. Nós crescemos com a ideia de que temos o cabelo feio. E isso às vezes é um bocado difícil de mudar”, continua.

Do mundo laboral ao da ficção, são vários os exemplos em que estes preconceitos se refletem. Weza dá o exemplo de Annalise Keating, a personagem da série ‘How to Get Away with Murder’ interpretada pela atriz afro-americana Viola Davis. Numa das cenas da primeira temporada, a advogada, ao espelho, retira a sua peruca de cabelo liso e pode ver-se o cabelo curto, crespo. “Ela tinha tudo: sucesso, respeito, bom nome mas, para trabalhar não usava o próprio cabelo”, relembra Weza.

E as diferenças culturais, a forma como a carapinha é vista, também varia entre os dois países. Weza Silva, dona da empresa de swim e sportswear Kaikura, diz que, em Portugal, este tipo de cabelo é visto como exótico. “As pessoas acham giro. Quando vou à rua com os meus filhos, eles acabam por ser o centro da atenções por várias razões, mas muito pelo cabelo deles”, explica, acrescentando: “Em Angola, as pessoas eram capazes de dizer que devia cortar o cabelo ao meu filho. Porque é muito ruim, difícil de tratar”.

Quando era adolescente, Weza admirava mulheres como Naomi Campbell, “que usava extensões até ao rabo e lentes de contacto”. Com a mudança das referências veio também uma mudança de mentalidades. Da sua própria mentalidade, admite.

Com a sua mudança de visual, Weza quer contribuir para ser um exemplo para a filha. Para que Chloé cresça “sabendo que não é feia por não ter o cabelo liso”. A empresária lança, contudo, um repto à indústria de produtos infantis. “Ainda tenho dificuldades em encontrar bonecas que se pareçam com a minha filha. Tivemos uma princesa negra na Disney, mas mesmo essa tinha o cabelo liso”.