331 mil de gravidezes indesejadas por dia no mundo, diz relatório da UNFPA

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[Fotografia: Shvets Production/Pexels]

Os números são gigantes e representam praticamente metade das gestações no mundo, num ano. Há, em média, 121 milhões de gravidezes indesejadas por raparigas e mulheres – o que representa 331 mil por dia -, segundo os dados do relatório do Fundo da População das Nações Unidas (UNFPA, no acrónimo original).

Em Seeing the Unseen (Ver o Invisível, em tradução livre), e que foi publicado na quarta-feira, 30 de março, prevê-se que o número venha a aumentar, acompanhando o crescimento da população no mundo e se medidas concretas não começarem a ser tomadas.

O relatório define como gravidez indesejada o caso em que as mulheres não querem ter nenhum ou mais um filho e tal acaba por suceder, seja em que contexto for. “A capacidade de se decidir ter filhos, quantos e com quem é fundamental para os direitos reprodutivos de meninas e mulheres. Quando esse direito é ignorado ou comprometido – por constrangimentos ou abusos sociais, falta de serviços de saúde ou a baixa prioridade em geral dada à metade feminina da humanidade – as consequências são uma bola de neve”, lê-se na nota publicada pela organização e que acompanha a divulgação do relatório, que pode ser lido no original aqui.

A entidade vinca ainda que “a gravidez indesejada afeta vidas individuais e sociedades inteiras, impedindo o progresso na saúde, educação e igualdade de género, aumentando a pobreza e a falta de oportunidades e custando milhares de milhões em recursos”.

Ainda de acordo com a mesma análise, “mais de três em cada cinco gestações indesejadas terminam em aborto”, sublinhando que quase metade (45%) das interrupções voluntárias da gravidez são feitas de forma “insegura”, realizadas “em países onde o procedimento é ilegal, restrito ou inacessível em locais seguros”. Mais: “O aborto inseguro hospitaliza cerca de sete milhões de mulheres por ano em todo o mundo e é uma das principais causas de morte materna”.

Por isso, a par da publicação deste relatório, a UNFPA procura ainda desfazer mitos vigentes relativos à gravidez indesejada e à forma como não são compreendidas as mulheres diante desta circunstância, contribuindo para o crescimento do “estigma e de mal-entendidos”.

Entre eles – e pode lê-los ao detalhe aqui, em inglês – destaque para o facto de se se considerar que as mulheres não usam contracetivo porque não querem saber. Diz a UNFPA que “globalmente, cerca de 257 milhões de mulheres que querem evitar gravidezes não usam métodos de contraceção seguros e modernos, sendo que 172 milhões destas não os usam de todo”.

Por isso, refere a entidade, “falta de conhecimento ou acesso à contraceção é agora uma das razões menos citadas para o não uso”. As maiores razões, escreve, “são as preocupações com os efeitos colaterais, ter relações sexuais infrequentes ou não, e oposição aos preservativos e outros métodos. A desinformação sobre os efeitos a longo prazo na fertilidade aumenta os medos sobre a contraceção”.

E se esta é uma ideia preconcebida a desfazer com urgência, também a forma como se olha para o aborto deve cair por terra. “As taxas de gravidez indesejada tendem a ser mais baixas em países com leis de aborto mais liberais, onde o acesso à interrupção voluntária da gravidez está disponível mediante solicitação ou na maioria das circunstâncias. Em países onde o aborto é restrito ou proibido, mais mulheres engravidam sem desejarem”. Aliás, dados de 2019, da Direção-Geral da Saúde em Portugal faziam a ponte e a prova entre o decréscimo de IVGs e a despenalização do aborto, em território nacional.

Uma gravidez indesejada não é apenas responsabilidade de uma única pessoa e estar-se casada não significa que não se lide com esta realidade. Eis mais dois mitos que para a UNFPA urge deitar por terra.