Viajámos no tempo com a Real Companhia Velha

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Imagine-se a entrar num cenário de puro misticismo nas caves de uma secular companhia de vinhos. À luz das velas, estrategicamente colocadas em candelabros, as sombras dançam ao som de uma harmoniosa harpa. O ambiente é fresco, como se quer o perfeito aconchego das pipas. Ao fundo, rodeada de senhores e senhoras envergando vestimentas de época e sobre uma imponente mesa, resplandece a joia da Coroa: uma garrafa de Carvalhas Memories. Um vinho que estagiou 149 anos em pipas da mais nobre madeira de carvalho, e que agora vê a luz do dia pelas mãos da Real Companhia Velha, numa forma ímpar de celebrar os seus 260 anos de existência. Este Vinho do Porto remonta à vindima de 1867, na Quinta das Carvalhas, uma das mais grandiosas do Alto Douro, parte integrante da história do Vinho do Porto em Portugal. As suas vinhas produziram este verdadeiro néctar dos deuses, cuja prova seduz e que permanece no palato. Um vinho que tem um profundo gosto de memórias, e que se exibe numa edição comemorativa limitada a 260 garrafas de vidro Atlantis, com o PVP de 2.750,00€.3_feira_15

O início da RCV

Esta foi a mágica receção que a Real Companhia Velha proporcionou aos seus convidados, fazendo-os viajar até ao ano de 1756, o ano em que foi fundada por Alvará Régio de D. José I e com o aval do seu Primeiro-Ministro, Sebastião José de Carvalho e Mello, Conde de Oeiras e Marquês de Pombal, a Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, de seu cognome Real Companhia Velha, a mais antiga empresa de Portugal. Não tinham ainda passado 12 meses desde o Grande Terramoto que arrasou Lisboa, e o negócio do Vinho do Porto não era ainda uma instituição. Foi por isso confiada a esta companhia a missão de estabelecer a Região Demarcada do Douro, a primeira demarcação do mundo, com o propósito de organizar o setor do Vinho do Porto e estabelecer a regulamentação que viria a controlar a produção e o comércio do mesmo. Foi a partir deste documento, cujo original permanece ainda hoje na sala da administração da Real Companhia Velha, em Gaia, e que o Delas pôde apreciar ao vivo, que se deu o arranque e a proliferação do negócio do Vinho do Porto. Por esta razão, é impossível desvincular a história deste vinho, que nasce na paisagem duriense e cuja qualidade ímpar conquista nações além-fronteiras, desta companhia e da sua evolução ao longo dos séculos. Será preciso recuar até 1678 para encontrar a primeira referência escrita ao nome Vinho do Porto. Como acontece com a maioria das admiráveis descobertas, o Vinho do Porto surgiu por mero acaso quando, na tentativa de preservar os vinhos durienses durante viagens marítimas, os ingleses radicados na Invicta lhes acrescentaram aguardente. Esta feliz combinação dá então início a uma indústria que ao longo das primeiras décadas do século XIX cresce a um ritmo alucinante, atingindo oito mil pipas para exportação, em 1715, e dezanove mil em 1749.2-feira_01

A RCV ao longo dos séculos

A história da Real Companhia Velha está também intimamente ligada à História de Portugal, nomeadamente aos principais acontecimentos dos séculos XVIII, XIX e XX. Enquanto empresa-bandeira do Império Português, foi naturalmente dominada por potências invasoras, como o exército napoleónico, que em 1809 requisitou os vinhos aqui produzidos para que fizessem parte da ração de combate dos seus soldados durante as Invasões Peninsulares. A resistência, liderada por Lorde Wellington, cujas tropas estavam estacionadas em Lamego, também consumia o divino produto das vinhas durienses. Instituindo-se a Monarquia Parlamentar e o Liberalismo Político, em 1865, e através de Alvará Régio assinado por D. Fernando, a Real Companhia Velha evolui de uma Companhia Majestática e passa a operar então em regime de mercado livre. Nas décadas seguintes a RCV beneficia de um forte período de expansão, passando a exportar para a Escandinávia, Rússia e Brasil. Já no século XX, e depois de ter atravessado os períodos da Monarquia Parlamentar (e, antes, Absolutista), a Companhia entra na fase do regime republicano com elevadas taxas de crescimento, particularmente no período entre as duas grandes guerras mundiais.

Já recentemente, as décadas de 60 e 70 marcam uma profunda renovação da empresa. Depois de Manuel da Silva Reis ter adquirido o controlo da Real Companhia Velha, em 1960, deu-se início a um processo de renovação de equipamentos e de modernização tecnológica. A empresa foi alvo de sucessivos aumentos de capital, acompanhados pela mudança de instalações da sede e alargamento dos negócios.3_feira_14

A RCV hoje

Atualmente, a Real Companhia Velha emprega quase 200 colaboradores, sendo que sessenta e cinco por cento da sua produção se destina ao mercado externo, assegurando a presença de vinhos do Porto e de Douro de qualidade superior em 45 países. No seu portefólio encontram-se algumas das mais belas, importantes e históricas quintas e vinhos da região do Douro. No total são cinco grandes Quintas que totalizam 550 hectares (1359 ac.) de vinhas próprias, nas quais se incluem a Quinta das Carvalhas, a Quinta dos Aciprestes, a Quinta de Cidrô, Quinta do Casal da Granja e a Quinta do Síbio. Esta última, no vale do Roncão, uma das mais antigas propriedades da Real Companhia Velha, com área total de 100 hectares, beneficiou a partir de 1999 de um investimento inicial superior a meio milhão de euros, numa total reconversão das suas vinhas, com a reabilitação dos tradicionais muros de xisto que as suportam, e que contam mais de 100 anos, onde presentemente se recuperam as originais e antigas castas do Douro, algumas em risco de extinção, como a Códega, Esgana Cão (ou Sercial), Pêro de Bode, Cornifesto e Touriga Fêmea, entre outras. É também da colheita da Quinta do Síbio que surgem os novos vinhos da RCV, também uma forma de assinalar este 260º aniversário: Quinta do Síbio Samarrinho Branco (2015), Quinta do Síbio Field Blend branco (2015), Quinta do Síbio Ananico branco (2015) e o biológico Síbio tinto (2014), o primeiro vinho biológico da marca, em edição numerada.

Com Pedro Silva Reis no comando da atual 27º Presidência da Junta da Administração, e em pleno século XXI, a Real Companhia Velha aposta na inovação, na produção sustentável e na descoberta das castas nacionais, conseguindo manter a tradição aliada à qualidade, resultando em vinhos únicos e com identidade própria.

(Fotografia Anabela Trindade)