Karl Lagerfeld copia-se a ele próprio

O desfile de Alta Costura da Chanel é um dos mais esperados da semana de moda que decorre até 25 de janeiro, quer pela roupa repleta de detalhes quer pelos cenários megalómanos. Esta terça-feira 23 de janeiro, o Grand Palais, em Paris voltou a receber o desfile com a assinatura de Karl Lagerfeld. Apesar de a roupa ser inegavelmente bonita e de confeção irrepreensível, a verdade é que o desfile não surpreendeu.

Os ombros estruturados de forma arredondada, já tinham surgido na coleção de Alta Costura e pronto a vestir do outono-inverno 17, as plumas voltaram a marcar presença mas já tinham brilhado na coleção de Alta Costura da estação quente de 2017, os decotes desportivos e surgiram semelhantes aos da coleção de Alta Costura de outono 2017, as meias golas alta de tecido regressaram à passerelle tal como nas coleções de outono-inverno 2017/18, na coleção de Alta Costura de primavera 2016, na coleção de Alta Costura de outono 2014 e na coleção de primavera 2009 (na galeria a cima pode comparar as coleções).

É certo que uma casa de moda com a carga histórica da Chanel tem que se manter fiel ao seu ADN e é inevitável que alguns detalhes sejam uma constante, mas o que aconteceu no último desfile não foi uma reinvenção dos clássicos, mas sim uma repetição excessiva de elementos que já tinham pisado a passerelle de forma muito semelhante.

Terá Karl Lagerfeld perdido o toque de Midas?

O designer alemão está à frente da casa de moda francesa desde 1983, sendo conhecido pela extrema criatividade e por estar constantemente a esboçar vestidos. Karl Lagerfeld reinventou o estilo de Madame Chanel durante décadas e a maior parte da vez fê-lo de forma absolutamente genial: os corsários do inverno de 2005, as gangas da primavera-verão 2008, os coordenados bucólicos da pimavera-verão de 2010, os metalizados da Alta Costura outono 2010, os ténis do inverno de 2014, as flores da primavera de Alta Costura 2015, os casacos e os colares de pérolas do inverno de 2016, a leveza e alegria da coleção resort 2017, os tweeds desfiados da primavera verão 2018 e as camisolas de malhas de marinheiro da coleção pre-fall 2028.

Karl Lagerfeld já deu tanto à moda, que é difícil esconder a desilusão ao ver este desfile: faltou inovaçã0, faltou um ângulo diferente sobre o clássico. Com o coordenado verde esmeralda, que desfilou em 36º lugar, acendeu-se a luz da esperança da inovação, quando o conjunto azulão surgiu apareceu como um boa surpresa, mas rapidamente se desvaneceu quando o desfile regressou à paleta pálida e aos modelos que nos eram familiares. O que foi verdadeiramente surpreendente em muitos dos modelos propostos foram as botas de lantejoulas, justas e delicadas, fazem os lembrar os sapatos de cristal da Cinderela mas completamente reinventados.

Vestido verde que desfilou em 36º lugar e botas com aplicações.

Esta é terceira coleção depois dos rumores de julho de 2017, que falavam da possível saída de Karl Lagerfeld. A grande questão que esta coleção deixa no ar é se a Chanel está a entrar numa fase de estagnação e precisa de um novo designer a olhar para os arquivos. A história da marca e o excelente trabalho de Karl Lagerfeld faz-nos crer que este foi apenas um momento menos feliz e que em março, na coleção de pronto a vestir outono-inverno 2018/19, seremos novamente surpreendidos, mas a verdade é que este desfile pode ser o primeiro sinal de que a marca está numa fase de mudança.

O desfile da Chanel foi um regresso às origens de Lagerfeld

 

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