40 horas de trabalho comunitário. Ativistas detidas conhecem medida do tribunal

PORTUGAL JOVENS ATIVISTAS E ANTÓNIO COSTA SILVA
[Fotografia: RODRIGO ANTUNES/LUSA]

As cinco ativistas pelo clima que foram detidas na noite de terça-feira, 15 de novembro, no Ministério da Economia apresentaram-se esta manhã em tribunal e vão cumprir 40 horas de trabalho comunitário. Alice Gato, Teresa Núncio, Leonor Chico, Raquel Alcobia e Francisca Duarte aceitaram a suspensão do processo judicial, mas recusam que a aceitação desta condição signifique assunção de culpa.

Recorde-se que as ativistas pelo clima foram detidas pela polícia no Ministério da Economia e Mar, após encontro com o governante António Costa Silva e a quem exigiram demissão, saíram da 4.ª esquadra da PSP depois das 22:00 horas, mais de quatro horas após a detenção.

As jovens faziam parte de um grupo de seis que foi recebido pelo ministro António Costa Silva e que, no fim do encontro, se colaram na entrada do edifício e leram o documento que tinham levado ao ministro, o “pedido de demissão”, para que este assinasse.

A reunião, que durou menos de 30 minutos, foi acompanhada fora de portas por dezenas de outros jovens que exibiram cartazes com frases como “Renováveis para todos”, “Se não nós quem?” ou “Estado de emergência”, e gritando frase como “Costa Silva demissão” ou “A nossa espécie não fica extinta, neutralidade até 2030”, entre muitas outras.

O “pedido de demissão” escrito pelos jovens, como se fosse o ministro, diz nomeadamente que Costa e Silva reconhece que defende “uma aposta crescente de importação de gás natural”.

“Enquanto Ministro da Economia e do Mar fui incapaz de desempenhar as funções que se pretendem de um governo”, diz o documento que os jovens entregaram ao ministro, acusando-o de ignorar propostas para criar 200 mil empregos pelo clima e defender “o lucro das petrolíferas”.

O ministro, que inicialmente, foi dito aos jornalistas, não faria declarações, acabou por falar com a imprensa, precisamente no momento em que as jovens foram retiradas pela polícia da entrada do Ministério. Costa Silva disse aos jornalistas que os jovens não lhe apresentaram qualquer proposta e apenas a “carta de demissão”, que contem “vários factos falsos”.

Dizendo que o diálogo com os jovens deve ser mantido, Costa Silva afirmou que estava preparado para os ouvir, e que estava à espera de propostas, explicando-lhes ele próprio como o Governo está a responder à mudança climática.

“Mas eles não querem discutir as soluções, centraram-se no meu percurso”, afirmou Costa Silva, acrescentando que lhes explicou que há 20 anos luta pela descarbonização, mesmo quando trabalhou numa petrolífera, e que tomou há muito posições públicas a favor das energias renováveis. E disse que não se demitia e que mudar uma pessoa não altera nada.

“Demissão é só o primeiro passo”

Depois das declarações do ministro, quando as cinco jovens já tinham sido levadas para a esquadra, o protesto passou para a Rua da Palma, onde dezenas de ativistas se sentaram na rua, entoando cânticos, em apoio às detidas.

Clara Pestana fez parte do grupo de seis jovens que se reuniu com o ministro mas foi a única que não foi detida, por opção, saindo antes dos três avisos que a PSP fez para que saíssem da entrada do Ministério.

Na reunião “apresentamos a carta de demissão e pedimos para o ministro assinar. E dissemos depois cá fora que não saiamos enquanto ele não saísse também”, explicou à Lusa, acrescentando que os jovens propõem uma campanha de empregos pelo clima que o ministro afirmou desconhecer.

“Explicou o que está a fazer mas isso todos nós sabemos. Precisamos de mudar o paradigma, tirar o lucro do centro e colocar a vida”, disse Clara Pestana.

Questionada sobre o porquê da insistência da demissão do ministro a jovem disse que essa demissão é só “um primeiro passo”, porque é preciso acabar com o gás fóssil até 2025 e que todas as ações para combater as alterações climáticas são cruciais, não apenas a demissão de António Costa Silva.

Clara Pestana foi uma das ativistas pelo clima que esteve na Rua da Palma até à saída das cinco outras ativistas da esquadra, entre dezenas de outros jovens, a maioria mulheres, que cantaram, dançaram e entoaram palavras de ordem.

Novos protestos na primavera

Após a saída da esquadra, na Rua da Palma, os jovens anunciaram que na próxima primavera vão voltar às ocupações de estabelecimentos de ensino, mas no dobro do que fizeram nesta semana e também fora de Lisboa, e que vão também protagonizar ações “cada vez mais disruptivas” contra o gás, por ser também um combustível fóssil.

Na noite de segunda-feira os ativistas já tinham anunciado o fim das ocupações das escolas, que se saldou também por detenções na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, a única que pediu a intervenção policial para obrigar os estudantes a deixar o local.

com Lusa