5 atrizes para um Oscar

A cerimónia de entrega dos Óscares é já esta noite. Recuperamos o texto de Rui Pedro Tendinha, que explora aqui o talento de cada uma das mulheres nomeadas para o Óscar de Melhor Atriz. Escolha a sua favorita.


Jennifer Lawrence, em JOY, de David O. Russell

Ao longo dos últimos anos Jennifer Lawrence tem sido mais do que a “princesa de Hollywood”. Além de continuar a querer bater recordes de nomeações (venceu em Guia para um Final Feliz, mas já antes tinha sido nomeada por Os Despojos de Inverno e, depois, em Golpada Americana), é também uma espécie de “it girl” da cultura pop americana. Os seus penteados ditam tendências, as suas quedas em galas de prémios são mais do que um mexerico e os seus romances alimentam páginas da imprensa cor-de-rosa. O mais importante: é a atriz da sua geração com maior salário graças ao jackpot que foi a saga The Hunger Games. A seguir, vai ser filmada por Steven Spielberg. O céu não é o limite para a menina Jennifer.


Charlotte Rampling, em 45 ANOS, de Andrew Haigh

A veterana deste lote. Uma grande dama dos palcos e da câmara com uma personalidade fortíssima. Lembro-me de um encontro fortuito com ela há uns anos no Festival de Cannes numa festa de um pequeno filme brasileiro. Lembro-me que era ela quem fazia as perguntas, lembro-me que era ela quem tinha o olhar penetrante de curiosidade. Mas Charlotte rejeita essas vénias de “grande dama”. Prefere falar dos seus tempos de juventude onde a sua beleza chegou a ser um bibelot nas noites loucas da London swinging dos anos 60. Dir-se-ia que a sua carreira agora entrou numa fase de perfeição assustadora. A Charlotte Rampling de Sob a Areia e deste 45 Anos é melhor atriz do que a Rampling de O Porteiro da Noite, clássico dos anos 70. A idade faz-lhe bem e foi a única que teve coragem de dizer o que todos pensavam sobre o ressabiamento da comunidade afroamericana em relação à Academia. Sim, frontal até aos limites.


Brie Larson, em QUARTO, de Lenny Abrahamson

É neste momento a favorita. Quando em Setembro, no teatro Princess of Wales, em pleno festival de Toronto, foi aplaudida de pé após a primeira projeção do filme, percebeu-se: está aqui o fenómeno do ano. Em Quarto, a jovem Brie é uma mãe extremosa que tenta sobreviver a um encarceramento forçado de sete anos num pequeno quarto. Nesse espaço de tempo, depois de ser violada pelo seu raptor, torna-se mãe.

O milagre da interpretação de Brie é transpor a força da maternidade para um registo de uma autenticidade visceral. Entre ela e o pequeno ator Jacob Tremblay parece existir uma química na ordem do milagre. Quem diz que é uma surpresa este feito de Brie é porque não a viu em Temporário 21, um pequeno filme independente de 2013 que esteve às portas dos Óscares.

É fácil ficar seu fã quando percebemos que a sua personalidade é próxima destas mulheres de força que interpreta. Depois deste alarido todo, já veio dizer que quer ser respeitada quando está na passadeira vermelha a promover um blockbuster de mero entretenimento, como vai ser o caso da sequela de King Kong.


Saoirse Ronan, em BROOKLYN, de John Crowley

Já todos podemos ver o maior número de ilusionismo do ano: Brooklyn, onde vemos uma atriz a encenar uma transição, a passagem do estado de menina a mulher. A sua Ellis atravessa o Atlântico, nos anos 50, da rural Irlanda para Nova Iorque, Brooklyn. Chega menina e cedo se torna mulher. Só uma imensa atriz conseguiria ser credível neste retrato feminino. Subtil, delicada e determinada. A atriz de sotaque cerrado irlandês consegue tudo isso.

Antes de Brooklyn era a adolescente mais sobredotada do cinema internacional, tendo até sido nomeada ao Óscar em Expiação e aclamada na sua “Nikita” letal em Hanna, onde contracenava com Cate Blanchett. Agora diz que finalmente teve um alívio: ser levada a sério como adulta. Um charmoso tesouro irlandês que deixa meio mundo à toa para pronunciar o seu nome.


Cate Blanchett, em CAROL, de Todd Haynes

A classe pura em Hollywood não é coisa para todos. Cate Blanchett é a rainha do refinamento, do estilo e do savoir faire. Que seja também a melhor atriz da sua geração é “apenas” uma feliz coincidência. A australiana não sabe ser menor. Cada filme que faz é uma masterclass de representação. Este ano não está na linha da frente das favoritas porque o Óscar de há dois anos em Blue Jasmine, de Woody Allen, ainda está fresco. Nada de mal viria ao mundo se vencesse pela terceira vez a estatueta careca…

Em Cannes, quando Carol foi apresentado, lembro-me de Cate ter passado por mim antes de uma conferência de imprensa. Lembro-me do vigor com que percorria um corredor dos bastidores do Palais – firme e segura nos seus saltos altos, muitíssimos altos. Se ela tem algo a ver com a sua heroína melodramática deste romance lésbico? Sim, o que é interessante nela é que o seu carisma vai sempre contaminar as suas personagens. Esse é um segredo das maiores atrizes…