A greve feminista portuguesa começou a ser preparada há um ano, em março de 2018, no Encontro de Mulheres, que se realizou no Porto e onde foi decidido que se “convocaria para Portugal a Greve Feminista Internacional”. “A partir de setembro, vários núcleos começaram a formar-se e as reuniões começaram a multiplicar-se. Fizemos dezenas de reuniões e de iniciativas públicas, organizámos dois encontros nacionais, um no Porto (dezembro de 2018) e outro em Coimbra (fevereiro de 2019)”.
No primeiro foi aprovado o manifesto que convoca a paralisação e que sintetizou as várias propostas de coletivos que foram aumentando à medida que o processo foi tomando forma.
“Somos muitas e muito diversas, mas conseguimos chegar a acordo nas questões fundamentais. Começámos com uns 10 coletivos e fomos crescendo e agregando gente”. Atualmente, a organização da greve reúne mais de 30 coletivos e várias pessoas a título individual. “A apoiar solidariamente e a subscrever o nosso Manifesto estão quase 50 coletivos”, sublinha Andreia Peniche.
O apoio junta também algumas caras conhecidas, muitas delas masculinas, provando que o feminismo também pode ser uma causa de homens. “O primeiro a pronunciar-se foi o Miguel Guedes, vocalista dos Blind Zero, ainda no ano passado. Temos um grupo de cineastas envolvidas no processo de construção da greve. O “Jovem Conservador de Direita”, por exemplo, já fez público o seu apoio”. Mais recentemente, foi o ator António Capelo. “De todos os setores surgem apoios, mas de muitos setores também surgem ataques. Respondemos a todos os ataques da mesma forma: estamos vivas, somos livres, estamos unidas e temos razão”, atira Andreia Peniche.
Uma greve, quatro alvos de paralisação
Feministas querem envolvimento dos homens
Em Espanha, a greve de 2018 suscitou dúvidas nos homens feministas, que querendo apoiá-la, não sabiam se ao aderirem estariam a “roubar” o destaque que deveria ser dado às mulheres nas suas reivindicações. Aqui, a organização pretende trazer os homens para a mesma luta, apelando a que se solidarizem, “respeitando a convocatória e facilitando a greve das mulheres”, e que colaborem nas tarefas que não forem garantidas pelas mulheres que aderirem, sobretudo no aspeto dos cuidados informais e do trabalho não pago.
“Não poderia haver uma greve de mulheres ao trabalho dos cuidados se os homens não tivessem uma participação ativa. Param as mulheres, mas há pessoas que a toda a hora precisam de ser cuidadas, por isso os homens são chamados a assegurar esses “serviços mínimos”, justifica Andreia Peniche.
Apesar dos pré-avisos de greve de alguns sindicatos – condição para que a greve se processe em condições de proteção legal -, nenhuma central sindical apoiou formalmente até à data esta greve feminista.
“Reunimos com vários sindicatos, CGTP incluída. Desafiámos o movimento sindical para que se juntasse a esta greve, porque o reconhecemos como parte fundamental da organização social e porque nós próprias somos também parte desse movimento. Percebemos que, salvo as cinco honrosas exceções referidas, o movimento sindical precisa de mais tempo para compreender a justiça das razões desta greve”, refere a ativista. Também nenhuma das principais organizações de defesa dos direitos das mulheres, como a UMAR ou o MDM assumiram oficialmente apoio à greve, mantendo as suas próprias iniciativas.
Mesmo assim, Andreia Peniche confia numa “grande adesão” no próximo dia 8 de março, “porque as razões se somam, porque os tempos que vivemos são intoleráveis, com tantos femicídios e com uma justiça descaradamente machista”.
“A nossa opção não é a de uma grande manifestação nacional, mas de vários protestos, organizados pelas pessoas nas suas cidades, porque são eles que permitem que as mulheres participem”, defende, exemplificando com o seu caso. “Eu, que sou do Porto, não poderia ir a Lisboa a uma manifestação nacional, mas posso ir à da minha cidade. O que é verdadeiramente importante é estarmos juntas, porque essa é a nossa força.”
Rede 8 de Março: greve feminista e manifesto contra desigualdade