A nutrição na gravidez e no pós-parto para mulheres vegetarianas

A alimentação vegetariana tem cada vez mais adeptos, mas durante o processo de mudança de regime alimentar pode haver o risco de perda de valor nutricional.

Para evitar que isso aconteça é necessário adequar os “novos” alimentos às necessidades do organismo e ter o cuidado de incluir na nova dieta aqueles que tenham os nutrientes necessários para substituir os que foram eliminados.

Em caso de gravidez, ou no pós-parto, essa preocupação impõe-se ainda mais. Para ajudar a esclarecer algumas dúvidas ou questões que possam surgir nesta fase, relacionadas com aquele tipo de alimentação, realiza-se no próximo dia 12 de novembro, na Clínica Amamentos, em Lisboa, o workshop “Nutrição vegetariana na gravidez e pós parto”.

O objetivo deste encontro, diz ao Delas a nutricionista responsável pela sua organização, Cláudia Marques, “é esclarecer as linhas de orientação para uma alimentação vegetariana saudável e desmistificar alguns receios face a este tipo de alimentação na gravidez e pós parto”. Ao mesmo tempo pretende-se fornecer informação que contribua para reduzir a probabilidade de se desenvolverem carências nutricionais que podem colocar a mãe e o bebé em risco.

Perguntas e dúvidas mais comuns
As questões que surgem entre as mulheres que seguem um regime alimentar vegetariano, na fase da gravidez e no pós-parto, variam, dependendo “do seu conhecimento de nutrição, de há quanto tempo seguem uma dieta vegetariana, o quão restrita é a dieta (se é ovolactovegetariana, lactovegetariana, ovovegetariana ou vegana) e também de fatores como a fase da sua vida (gravidez ou pós parto)”, explica a nutricionista.

Durante o período da gravidez é mais comum as futuras mães preocuparem-se com o facto de a dieta vegetariana poder assegurar um ganho de peso adequado e fornecer todos os nutrientes necessários ao bebé, “especialmente o aporte proteico”.

“Perguntam sobre combinações de alimentos e ainda sobre alimentos ou nutrientes específicos, por exemplo a soja e o ferro”, ilustra Cláudia Marques.

Já no pós parto as questões costumam centrar-se na perda de peso e, se ainda estiverem a amamentar, “há a preocupação, por parte das mães, que a dieta vegetariana não assegure uma eficiente produção de leite”, refere a especialista, acrescentando que algumas também perguntam se um maior consumo de vegetais pode alterar o sabor do leite”. Pode parecer mito, mas não é. “Sim, é verdade. Mas não é algo negativo”, assegura a nutricionista, que refere estudos que demonstram que os bebés expostos a diferentes sabores durante o aleitamento materno, “devido a uma alimentação materna variada, têm menor probabilidade de desenvolver neofobia alimentar quando mais velhos”. “A neofobia alimentar, ou medo de experimentar alimentos novos, resulta geralmente em seletividade e recusa alimentar e, em casos extremos, em défices nutricionais”, diz.

Alimentos recomendáveis e alimentos a evitar
Segundo Cláudia Marques, tal como acontece nas dietas não vegetarianas, o recomendado, durante a gravidez e pós parto, é uma alimentação variada e saudável, ou seja com base na chamada Roda dos Alimentos e que inclua o consumo de alimentos de todos os grupos, substituindo os que foram entretanto eliminados pela dieta vegetariana por outros com valor nutritivo equivalente.


Veja alguns dos alimentos mais indicados na fotogaleria acima.


“Se a escolha alimentar ditar a eliminação de certos alimentos, como a carne e o pescado, deve-se garantir um aporte correto de macro e micronutrientes, nomeadamente de proteínas. Isto pode ser assegurado através da ingestão de alimentos ricos em proteína de alto valor biológico, como ovos, laticínios, soja e quinoa, e uma adequada combinação de leguminosas e cereais ou frutos oleaginosos/sementes”, exemplifica.

A nutricionista lembra que também é importante a ingestão de líquidos como água, leite, sumos naturais, infusões e sopas, sobretudo na fase de lactação. “O Instituto de Hidratação e Saúde recomenda um consumo mínimo de 1,7 L de líquidos na gravidez e de 2,0 L durante aleitamento. Estas são quantidades mínimas que devem ser sempre adaptadas a cada individuo e situação”

Por outro lado, também há os alimentos a evitar. Numa alimentação vegetariana, na gravidez e pós parto, os ovos crus ou mal cozidos, laticínios não pasteurizados e frutas e vegetais não higienizados são proibidos. “Existem ainda recomendações específicas, como evitar suplementos multivitamínicos devido ao risco de consumo elevado de vitamina A, associado a teratogénese (malformação do feto).”

No geral, Cláudia Marques considera que não existem diferenças de saúde significativas em bebés nascidos de mães vegetarianas (não veganas) e mães não vegetarianas e, nesse sentido, “não existe evidência que suporte a interrupção de uma alimentação vegetariana equilibrada e variada” durante a fase da gravidez, por questões de precaução.

Ainda assim reconhece “que as grávidas vegetarianas apresentam maior risco de algumas deficiências nutritivas, nomeadamente de vitamina B12, ácidos gordos essenciais, ferro e zinco”, mas defende que uma dieta vegetariana pode ser adaptada para adequar-se à mulher e a essas fases especiais da sua vida, de forma a fornecer todos os nutrientes necessários para a manutenção da sua saúde e também do bebé. “Em alguns casos, pode ainda apresentar vantagens quando comparada com uma dieta omnívora”, refere.

De acordo com a nutricionista, há grávidas vegetarianas que apresentam concentrações de ácido fólico e magnésio mais elevadas que as não vegetarianas.

“Quantidades adequadas de ácido fólico são essenciais para a redução do risco de desenvolvimento de malformações do tubo neural do bebé e o aporte adequado de magnésio está associado à diminuição do risco de pré-eclampsia, de nascimentos prematuros e de atraso no crescimento intrauterino”, afirma.

Da mesma forma que não existe a necessidade de a mulher deixar de ser vegetariana, ou de fazer uma pausa nessa dieta, por causa da gravidez, também não há “evidência cientifica que desaprove” iniciar esse regime durante esse período, ou já no pós-parto, desde que a dieta seja bem planeada e nutricionalmente adequada a esses períodos com características específicas.

Cláudia Marques recomenda, contudo, que essa mudança alimentar seja acompanhada por um “nutricionista ou dietista com formação e experiência nesta fase do ciclo de vida, para garantir a saúde da mãe e do seu bebé”.

Independentemente da dieta que se escolha, há recomendações gerais que todas as grávidas devem seguir. Evitar o consumo de álcool, limitar o consumo de cafeína a 200 mg por dia (aproximadamente 2 chávenas de café ou chá) e não comer por dois, mesmo cortando a carne e o peixe da alimentação, são conselhos aplicáveis às recém ou futuras mães.

O workshop, que é aberto a casais, tem início marcado para as 10h30 e termina às 12h30, tendo o custo de €30 (por casal). As inscrições podem ser feitas por email ou telefone, basta consultar a página de Facebook do evento ou os sites http://www.fit2eat.pt/ ou www.amamentos.pt.