A arte de saber dividir para reinar

Pode parecer um contrassenso, passamos a vida a dizer-lhe para mandar paredes abaixo para ganhar mais espaço e agora aconselhamos biombos para o dividir. Mas não é bem a mesma coisa.

É mais fácil abrir um biombo que construir uma parede quando necessário, não é? E verdade seja dita, é de longe mais bonito e útil ter todo o espaço disponível à vista, dividindo-o apenas quando necessário e quase sempre com um quadro artístico dobrado em folhas.


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Os mais antigos que se conhecem são do século VII, chineses (como tanta tanta coisa mais antiga) e eram usados nos palácios imperiais, mais como ornamento do que como peça utilitária. Eram uma espécie de pequena parede interior, inamovível devido ao peso, e ricamente trabalhados em talha de madeira lacada ou dourada. No século seguinte, os japoneses roubaram a ideia (como tanta tanta coisa que se lhes conhece) e tornaram o biombo mais leve, dobrável e portátil, como o conhecemos hoje.

links_KimÀ Europa chegaram mal os primeiros expansionistas regressaram do Extremo Oriente, com chá e especiarias, mas só mais tarde, timidamente nos finais de setecentos e plenamente no século XVIII, com a moda da chinoiserie (chinesices), os biombos passaram a fazer parte dos interiores europeus que seguiam tendências.

Um biombo pode dividir o espaço numa sala comum, sem esta perder toda a sua dimensão. E se translúcido, ou de qualquer forma menos opaco, induz e demarca atividades e funções espaciais sem pesar.

Os designers de interiores usam-nos amiúde como pequenos cenários para enquadrar uma peça que mereça destaque, como uma chaise-longue ou um conjunto de mesa e cadeira, numa espécie de pequeno escritório enquadrado numa divisão.

É uma peça de charme, e num quarto permite jogos a la Sombras de Grey, havendo espaço e vontade. Neste sentido, funciona às mil maravilhas como divisória entre a cama e o espaço de vestir, e querendo arriscar, transforma esta divisão num cenário de La Bohème, ou da Tragédia da Rua das Flores.

O biombo pode ser a peça de arte da divisão, sem perder o caráter prático. E há de tudo, desde os Namban, onde os japoneses retrataram a chegada dos portugueses a Nagasáqui no século XVI, até aos desenhos acabados anteontem, em novos materiais e de figura declaradamente vanguardista.

A mais recente novidade na categoria são os biombos de mesa, tanto para espaços de trabalho como domésticos, permitem estar em família e trabalhar ao mesmo tempo. Auscultadores com ruído branco fazem o resto.