Cosmética vegan promete revolucionar o mercado da beleza

A cosmética vegan é “uma grande tendência”, que promete revolucionar o mercado nos próximos anos. Amélia Monteiro, diretora da Expocosmética, afirma que cada vez mais pessoas optam por produtos que não contêm ingredientes de origem animal, «por razões ideológicas e ambientais», e a cosmética vai respondendo às exigências dos consumidores.

Na 22.ª edição desta feira que é considerada «o maior evento de beleza da Península Ibérica», o espaço expositivo crescente para este negócio da beleza sem componentes de origem animal expressa o crescimento da cosmética vegan. Entre os mais de 200 expositores da feira que decorreu no primeiro fim de semana de abril de 2018, encontram-se várias marcas que se autointitulam vegan ou, pelo menos, asseguram ter opções para esse segmento da população, que não consome produtos de origem animal. Há desde produtos capilares e de corpo até maquilhagem, sem esquecer os pincéis para a aplicar.

Consumidores exigem mudanças às marcas

A empresa portuguesa Real Natura é exemplo de como o consumidor final pode ajudar a redefinir caminhos do lado de quem produz, até pela interação em redes sociais como o Facebook. «Os vegans questionam muito, leem muito, e ajudam-nos a evoluir e a pensar muito nas linhas, por serem muito interventivos», constatam Cláudio e Mónica Amaral, o casal por trás daquela marca de produtos capilares e de corpo, que, ao longo dos anos, foi enveredando pelos produtos naturais e vegans.

Cláudio e Mónica vão completando as afirmações um do outro, mas é ele a explicar que cerca de 80% da oferta da Real Natura é apta para vegans, por não ser testada em animais nem ter ingredientes de origem animal. Os restantes 20% têm «substâncias de origem animal sem sofrimento» envolvido, como o mel, e existem «sempre soluções para vegans», assegura.

A Real Natura manifesta ainda preocupação ambiental, ao usar embalagens grandes e com doseador, para reduzir o desperdício. Mesmo o catálogo é impresso em papel reciclado e com tintas vegetais. E logo ao lado estão produtos de uma marca de design arrojado que, segundo Cláudio Amaral, «desenvolve produtos 100% vegan»: a brasileira Lola Cosmetics.

A finlandesa Herman’s Professional também surge representada, com os seus produtos de coloração «100% vegan». Integram a linha Hermans’ Amazing Direct Hair Color, com 27 cores e um tonificante, e «não têm nenhum ingrediente» animal, além de não serem testados em animais, diz Sérgio Sousa, sócio-gerente da Leemantrade, distribuidora da marca.

Passando para outra extremidade do corpo, quase 80% dos produtos para tratamento de pés da marca alemã Gehwol Fusskraft podem ser usados por vegans, segundo Paula Amaral, formadora da empresa Cosmake, representante exclusiva daquela marca em Portugal. Os restantes contêm extrato de mel ou lanolina, um óleo extraído da lã das ovelhas.

Já no expositor da SKPRO, Cláudia Silva destaca a marca de maquilhagem italiana PaolaP, com os seus produtos «cruelty-free e 98% orgânicos». E adianta que a SKPRO está a trabalhar numa linha de pincéis feitos com pelos sintéticos e cabos de madeira de árvores já caídas.

Noutro espaço, o da marca alemã Da Vinci, já há uma linha de pincéis «exclusivamente vegan», a «Synique», que utiliza «cerdas sintéticas», em vez dos pelos de cabra, marta vermelha ou pónei habitualmente usados no mundo da maquilhagem. O mesmo se verifica na nova linha «Style», mais em conta.

Outra opção é a linha vegan da espanhola Vendetta, com cerdas sintéticas e cabos feitos de árvores caídas, e que vem num estojo de algodão reciclado, como se explica no expositor da Okapi Arte na Expocosmética.

Ecologia «veio para ficar», diz o PAN

Cristina Rodrigues, do PAN.

«A ecologia como paradigma veio para ficar e significa uma mudança de mentalidade e visão de mundo que já é visível em todas as áreas da vida e das sociedades», e a cosmética vegan faz parte desse movimento, contextualiza Cristina Rodrigues, da Comissão Política Nacional do partido Pessoas-Animais-Natureza (PAN).

Para Cristina Rodrigues, «o principal elemento diferenciador dos produtos vegan é que estão associados a um estilo de vida que tem em comum a não-indiferença ao impacto que a nossa sociedade de consumo está a ter, não só no ambiente e por conseguinte na vida animal, mas também na nossa saúde e estilo de vida».

Assim sendo, «pressupõe-se que um produto vegan, para além de não causar sofrimento animal, seja produzido com ingredientes orgânicos certificados, e, muito importante, que exista a preocupação com o bem-estar das comunidades envolvidas e com resíduos não poluentes».

A regulação existente hoje diz respeito apenas aos testes dos produtos cosméticos em animais que estão completamente proibidos na União Europeia em 2013

Mas, afinal, o que distingue um cosmético vegan dos demais? «Como são mercados recentes, ainda existe alguma confusão entre o que é 100% natural (e que pode não ser 100% de origem vegetal), o que é biológico, orgânico, o que é vegan (que supostamente não deverá ter qualquer ingrediente de origem animal na sua composição) e outros conceitos que estão agora a adquirir alguma visibilidade. A utilização destes termos ainda não é totalmente regulada. Eu diria que a palavra de ordem é informação», esclarece aquela responsável do PAN.

A regulação existente hoje diz respeito apenas aos testes dos produtos cosméticos em animais que estão completamente proibidos na União Europeia em 2013. Um caminho longo que teve início em 1993 com a primeira diretiva para uma lei que proibisse a comercialização de cosméticos, e que só se veio a verificar vinte anos depois. Em 2004, foram proibidos os teste em animais dos cosméticos finalizados e, em 2009, os testes aos ingredientes cosméticos. Entre 2007 e 2011 foram investidos 238 milhões de euros em investigação para que fossem encontradas alternativas viáveis aos testes feitos em animais.

Chamar os produtos pelos nomes

Os cosméticos vegan «devem estar isentos de quaisquer ingredientes de origem animal ou derivados de animais», reitera Cristina Rodrigues. Por isso, ficam fora composições com ingredientes como a cera de abelha, o colagénio, o leite ou a lanolina.

os produtos orgânicos são «cultivados sem nenhum tipo de agrotóxicos, adubos químicos ou produtos transgénicos e têm como preocupação ser ecologicamente corretos e socialmente justos», enquanto um produto natural «não contém parabenos, fragrâncias ou corantes artificiais, derivados de petróleo, silicones e outros componentes tóxicos». Só que «o natural não é necessariamente orgânico, porque pode ter uma pequena percentagem de ingredientes sintéticos na sua composição».

«Hoje em dia existem diversas formas de encontrar informação adicional e é nessa capacidade de sermos consumidores informados e que colocam questões sobre os produtos que podemos efetivamente fazer a diferença e forçar, de certa forma, as indústrias a adotar modos de produção que respeitem os animais e a natureza», sustenta a mesma fonte, frisando que «é preciso estudar os rótulos das embalagens, porque o marketing tem também estratégias cada vez mais sofisticadas para trabalhar com estas novas tendências».

Rótulos e símbolos podem ajudar

Para o consumidor ter a certeza de que um produto é, efetivamente, vegan, há que «fazer perguntas e pesquisar informação adicional», reforça aquela responsável do PAN, acrescentando que «existem alguns rótulos que podem ajudar», passíveis de serem consultados, por exemplo, no site EcoMundo.

E terá o PAN alguma iniciativa pensada neste âmbito? «Continuamos a trabalhar em várias propostas nesta área e para isso temos contado com o contributo científico de vários especialistas e organizações e é provável que apresentemos em breve uma proposta no sentido de uma maior regulação e rigor dos símbolos associados a estes produtos para salvaguardar os consumidores, por um lado, e os produtores que cumprem todos os requisitos e que os comunicam de forma transparente, por outro», conclui Cristina Rodrigues.

Carina Fonseca