Milhão de euros: “A continuar assim, Cristina Ferreira vai pagar rapidamente” o investimento

Na primeira semana de chegada e estreia de O Programa da Cristina, a aposta de Carnaxide recuperou um horário que o canal tinha perdido há 12 anos para a TVI e para as mãos de Manuel Luís Goucha e, então, Cristina Ferreira.

Tendo vencido largamente os primeiros quatro dias, como pode ver nas notícias abaixo, a anfitriã das manhãs da SIC volta a faze-lo pelo quinto dia consecutivo, impulsionando os resultados do dia de Carnaxide. Segundo os dados provisórios da Markdata, a 11 de janeiro, sexta-feira, ‘O Programa da Cristina’ foi visto por 450 mil pessoas em direto (sem contar com as gravações). Goucha e Maria Gomes Cerqueira registaram uma média de 261 mil espectadores.

Nesta primeira semana, o novo rosto das manhãs do canal de Balsemão conseguiu, nada mais, nada menos, segundo nota oficial da estação, “triplicar ao número de espectadores que habitualmente viam a SIC nas manhãs de dias úteis – de cerca de 170 mil para mais de meio milhão de pessoas –, tendo um aumento de 23 pontos percentuais na quota de mercado (share)”.

Números históricos que revertem, numa primeira fase, um hábito de um público matinal que, desde sempre, foi muito avesso a mudanças. Uma resistência por parte do auditório que chegava logo no dia da estreia de um formato ou, vencida a curiosidade, se instalava na segunda emissão. Manuel Luís Goucha, quando se transferiu da liderança da RTP1 para a TVI, em 2002, levou quatro anos a reconquistar o público e só o fez em dupla.

Júlia Pinheiro, que transitou com pompa e circunstância da TVI para a SIC e para recuperar esse resistente auditório, nunca conseguiu tal feito. Estreado a 14 de março de 2011 com a então muito elogiada quota de mercado de 27% (Cristina teve 40,1% numa nova realidade de público ainda mais fragmentada), o Querida Júlia não conseguia, três meses depois da estreia, abalar a concorrência e registava médias abaixo do antecessor, Companhia das Manhãs. Só agora, nas tardes, é que esta responsável de Carnaxide começou a conseguir chegar a um público que, em Queluz de Baixo, lhe deu a liderança até ela sair pelo seu próprio pé.

Se o público deste horário era fiel, será que Cristina abalou esta certeza histórica da televisão nacional? Uma semana é pouco para dar como definitivas estas conquistas, até porque se esperam ainda reajustes de auditórios – refeitos da surpresa e das esperadas respostas da concorrência -, mas os dadas de audiências obtidos na primeira semana talvez justifiquem uma entrada para a história da TV.

“A continuar assim, ela vai pagar o investimento rapidamente”

São números astronómicos registados neste período horário, anómalos, e que se explicam pela expectativa que havia em torno dela e do seu regresso”, refere Luís Marques. Consultor da SIC e antigo diretor-geral que, em 2013, tentou levar, sem sucesso e entre polémica, Cristina Ferreira para Carnaxide, não tem dúvida de que “a continuar com estes resultados, a Cristina vai seguramente pagar o investimento rapidamente”. Marques não fala, nem confirma os números, mas recorde-se que, à data, se falou em um milhão de euros anuais.

“Uma pessoa sozinha não salva, mas pode ajudar”

Conhecedor das dinâmicas televisivas, Luís Marques admite que os valores agora registados “tendem a esbater-se”. “É normal que as pessoas, perdido o efeito surpresa e de novidade, não fiquem lá todas”, antecipa. Mas o consultor crê que se “os resultados de Cristina continuarem a rondar os 33 a 34% de share (número de pessoas que veem aquele canal face ao número total de pessoas que estão a ver televisão no mesmo horário) será um extraordinário resultado”.

Novos públicos e publicidade

Novos dados que o mercado publicitário deverá acomodar, mas não necessariamente à velocidade que as audiências são publicadas e noticiadas. “É provável que os resultados venham a beneficiar o investimento feito”, antecipa Marques, mas o tempo e a constância é que vão ditar as eventuais novas regras.

“A Cristina está a piscar o olho a outros públicos, inclusivamente aos que estão no Cabo. Nesta primeira semana, ela foi buscar espectadores à RTP, à TVI e a canais do Cabo”, diz Marques. E qual foi a estratégia? O antigo diretor-geral explica que é “mérito dela e da produção”.

“A qualidade do programa, que está claramente acima do que tem sido feito historicamente feito em day time e nas generalistas, em Portugal, o estúdio é quente, é cozy, dá vontade de estar ali, as pessoas sentem-se em casa e ela movimenta-se nela como se fosse dona, toda a estrutura é muito dinâmica e fluída”, justifica o responsável.

Cristina mexe com a Bolsa e alavanca vitória da SIC

Para lá do horário, o Programa da Cristina criou, ao longo da primeira semana, uma dinâmica de alavanca para uma vitória da SIC, cujo diretor Geral de Entretenimento é Daniel Oliveira.”Esta liderança do canal é histórica e ela [Cristina] está a contaminar esses resultados e está a consolidar números que fogem à estação há anos“, analisa o antigo diretor-geral da estação e atual consultor, Luís Marques, ao Delas.pt.

A vencer há quatro dias consecutivos, algo que não se via desde setembro de 2013 (com, entre outros formatos, as novelas Dancin’Days, Sol de Inverno e o concurso Factor X), a estação de Balsemão tem beneficiado deste aposta e com reflexos na Bolsa de Valores de Lisboa. A Impresa, detentora da SIC, vou as suas ações subirem 10% nos primeiros dois dias de programa matutino. Cristina voltou a repetir o que tinha feito em agosto, quando foi noticiada a sua transferência.

Imagem de destaque: Montagem/Instagram

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