A exuberância sofisticada de Diogo Miranda e o regresso de Maria Gambina

O segundo dia de desfiles na Alfândega do Porto começou com o desfile de Cristina Ferreira que além de calçado também apresentou roupa. O encerramento ficou à responsabilidade de Miguel Vieira, que continua a festejar os seus 30 anos de carreira, desta vez com uma coleção inspirada na Pop Art. Mas foram muito mais os nomes que pisaram a passerelle num dia com treze desfiles, onde se destacaram as propostas de Maria Gambina e Diogo Miranda.

O dia ficou marcado pelo regresso de Maria Gambina à passerelle depois de ter estado cinco anos sem lançar uma coleção. Durante esse tempo, a designer esteve a dar aulas e a coordenar a licenciatura de design de moda da ESAD. “Eu nunca me senti completamente afastada, mas realmente já não me lembrava do trabalho árduo que dava apresentar uma coleção. Mas é isto que eu quero fazer o resto da vida”, confessou a criadora ao Delas.pt. Para marcar o seu regresso, Gambina criou uma coleção repleta de detalhes que permitem que as peças sejam vestidas de diversas formas. As propostas ficaram ainda marcadas pelas t-shirts com sinalética de trânsito e frases tiradas da música ‘Stop in the name of Love’. “A coleção chama-se construção e tem a ver com três tipos de construção: a do eu como designer, a própria construção dos detalhes de modelação e também com os elementos de sinalética de obras que eu usei para reforçar o meu tema”, contou a criadora. A banda sonora juntou Chico Buarque e José Saramago, uma escolha musical brilhante que deu uma atmosfera muito especial ao desfile que terminou com a designer muito emocionada.

 

Nesta sexta-feira de moda nacional o grande destaque foi para Diogo Miranda, que apresentou os mesmos coordenados que levou a Paris no final de setembro. Uma coleção sofisticada, com muitos vestidos e propostas para dias festivos, na qual não faltaram ainda os casacos oversize que Diogo sabe fazer como ninguém. “Inspirei-me no trabalho do Irving Penn e na imagem poderosa e feminista que ele retratava. Hoje em dia as mulheres parecem-me todas iguais e eu gosto de vestir mulheres para elas se distinguirem. Cada look é como um fotografia dele, por isso é que a coleção é mais dramática”, explicou ao Delas.pt o designer antes do desfile. A teatralidade da roupa vê-se em cada detalhe: punhos altos, mangas volumosas, pregas infinitas que parecem um plissado preso, drapeados fingidos em tecido transparente por cima de forros coloridos, rachas vertiginosas, costas decotadas, golas de marinheiro em tamanho XL, bainhas aos bicos, bolsos e laços. Uma coleção onde o bonito foi prioritário e a extravagância ganhou elegância sofisticação. O designer recuperou alguns elementos que tinha usado na coleção passada, como o decote em V largo com um painel de folho subtil e encorpado, utilizado no penúltimo vestido azul da coleção, e o volume com a forma de C usado para fechar a coleção. De fora dicaram os casacos de inspiração streetwear com um D gravado. A grande novidade foi a paleta cromática em tons mais delicados do que nunca, onde o amarelo, o rosa claro e o azul celeste se destacaram.

Quem também surpreendeu com uma paleta cromática pouco habitual foi Miguel Vieira, que ao seu já tradicional preto e branco juntou o vermelho em look total e padrões coloridos inspirados na Pop Art. Esta coleção é uma continuação da comemoração das três décadas da marca. Para assinalar a data, Miguel decidiu brincar com o seu monograma, criando logótipos diferentes e trabalhando os tamanhos do VM para criar padrões. Foi nas propostas masculinas que os estampados foram os protagonistas, com peças mais arrojadas e diversificadas. A linha feminina mostrou-se mais clássica com os folhos e a renda em grande destaque.

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O estilo desportivo chegou à passerelle principal no desfile de Carlos Gil, mas com uma coleção que não tem nada de casual. Como tem sido recorrente nas suas últimas coleções, o criador do Fundão voltou aos modelos e detalhes desportivos feitos de tecidos muito festivos: não faltaram as lantejoulas, as franjas, as organzas e até houve espaço para um brocado. Um excelente exemplo deste compromisso é um fato de blazer e calças cor de rosa com botões de mola na mangas e nas pernas. “Os botões de mola são um elemento desportivo que é confortável e que desconstrói um coordenado super clássico transformando-o em algo bastante desportivo”, contou o designer ao Delas.pt nos bastidores do desfile. O tema da coleção é aguarela e foi a ele que o criador foi buscar “as cores, as pinceladas do padrão. É uma explosão de cor e uma união entre a arte e a alegria felicidade que quis transmitir nesta coleção”.

Sara Maia e Nycole apresentaram duas coleções com uma atmosfera street wear, bem como David Catalán e Inês Torcato, que desfiaram logo a seguir. Das propostas de Sara foram as gangas desfiadas e os vestidos de rede o mais marcante, já Nycole apresentou uma coleção masculina onde as risca e os botões de mola se destacaram. Na mesma sala desfilou Inês Torcato com propostas masculinas e femininas, onde as reinterpretações das camisas de homem e parkas impermeáveis sobressaíram. David Catalán trouxe para a passerelle uma coleção inspirada na personagem interpretada por Elvis Presley no filme King Creole, uma referência que se traduziu em camisas de estilo cowboy, lenços e malhas.

Desfilaram ainda Micaela Oliveira, Hugo Costa, que apostou nos padrões florais e no lilás para a moda masculina, Estelita Mendonça e Sophia Kah, que apresentou pela primeira vez no Porto, depois de se ter estreado no calendário do Portugal Fashion com um desfile na Embaixada de Londres em meados de setembro. Veja na galeria as propostas que os designer portugueses apresentaram esta sexta feira, 19 de outubro.

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