
Um dos grandes pecados que cometemos foi ‘masculinizar’ a Igreja”. A frase é do Papa Francisco em Esperança, a autobiografia que foi lançada esta semana e na qual, entre os temas da guerra, dos populismos, defende os homossexuais, os divorciados e pugna pela condição feminina. “Devemos, por isso, ‘desmasculinizar’ a Igreja. Sabendo, porém, que ‘masculinizar’ a mulher não seria nem humano nem cristão, pois o outro grande pecado é, certamente, o clericalismo”, lê-se na obra onde retrata a sua vida e as mulheres que marcaram a sua vida e a sua formação.
Para Francisco, “ a Igreja é mulher, não é homem”. “Nós, clérigos, somos homens, mas nós não somos a Igreja. A Igreja é mulher porque é esposa. E é o santo povo fiel de Deus: homens e mulheres em conjunto. Por isso, identificar critérios e modos novos para que as mulheres sejam cada vez mais plenamente participantes e protagonistas nos vários âmbitos da vida social e eclesial, para que a sua voz tenha cada vez mais peso e a sua autoridade seja cada vez mais reconhecida, é um desafio cada vez mais urgente. Devemos avançar”, escreve na obra na qual exemplifica a evolução da participação das mulheres na estrutura da Igreja.
“Neste momento, a secretária-geral do Governatorato do Vaticano é uma mulher, a irmã Raffaella Petrini, e com ela fazem parte do Dicastério dos Bispos mais duas mulheres, uma religiosa e uma laica, a irmã Yvonne Reungoat e Maria Lia Zervino: escolhem os pastores das dioceses de todo o mundo. Outras mulheres têm papéis importantes no Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, na Secretaria de Estado, no Dicastério para a Comunicação, e uma mulher é a diretora dos Museus do Vaticano.
A autobiografia aborda também “a condição da mulher nas nossas sociedades”, “muitas vezes, uma forma peculiar de pobreza”. E acrescenta: “Símbolo de vida, o corpo feminino é, não raramente, agredido e deturpado, mesmo por aqueles que deveriam ser os seus guardiões e companheiros de vida”, sublinha o Papa Francisco na obra na qual detalha as suas origens como Jorge Bergoglio, nascido em 1936, filho de imigrantes italianos e o seu percurso individual, parte dele durante a “longa e terrível noite” da ditadura argentina.
Em Esperança, o Sumo Pontifície lamenta o crescimento dos populismos, defende os homossexuais e divorciados, e critica os tradicionalistas católicos ao mesmo tempo que pede um novo papel da Igreja num tempo de conflitos e incertezas, comparável ao primeiro milénio.
No seu livro de mais de 350 páginas, o Papa recordou também a declaração que assinou sobre as “bênçãos aos irregulares”, numa referência aos divorciados ou católicos que não cumpram as exigências da doutrina, publicada pelo Dicastério para a Doutrina da Fé, em dezembro de 2023.”Abençoam-se as pessoas, não as relações”, porque “na Igreja, são todos convidados, mesmo as pessoas divorciadas, mesmo as pessoas homossexuais, mesmo as pessoas transexuais”, escreve Francisco, comentando a polémica.