A igualdade de género em Portugal e no mundo

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A luta pela igualdade de género tem dado os seus frutos. Há 30 anos, se a população empregada em Portugal fosse de 100 pessoas, seriam 60 homens e 40 mulheres. Hoje, segundo o portal estatístico Pordata, da Fundação Francisco Manuel dos Santos, quase metade da força de trabalho em Portugal é do sexo feminino. São 49 em cada 100 trabalhadores. Mas a igualdade de género ainda está longe de ser uma verdade absoluta. Tanto em casa como no trabalho muitas mulheres vêm os seus direitos e regalias ficarem aquém daqueles que são dados aos homens.

Se olharmos para a desigualdade salarial podemos comprovar que, entre 1986 e 2013, pouco mudou. Em 1986, em média, um homem recebia 594 euros por mês e uma mulher 499. Em 2013 o cenário não mudou muito. Os homens passaram a receber, em média, 964 euros enquanto as mulheres se ficavam pelos 791, continuando com ordenados mais baixos que os homens.


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Para combater este cenário, o Governo português lançou, no início do ano passado, um concurso em que beneficiava empresas criadas por mulheres. Na altura, Catarina Marcelino, secretária de Estado para a Cidadania e Igualdade, explicou que decidiram avançar com esta iniciativa porque “as mulheres têm de tentar entrar o mais possível nas tecnologias porque este é o mundo do futuro e as mulheres, que estão no presente, querem estar também no futuro”.

Mais recentemente, a mesma Secretária de Estado e o Secretário de Estado do Emprego, Miguel Cabrita, revelaram que o Governo vai criar um grupo interministerial para estudar propostas que tornem mais eficaz o combate à discriminação salarial.

Desigualdade em casa

Em casa, as diferenças mantêm-se. Segundo as conclusões do Inquérito Nacional dos Usos do Tempo de Homens e de Mulheres (INUT), a desigualdade entre homens e mulheres no que respeita ao tempo dedicado a tarefas domésticas e cuidados a terceiros continua a passar de geração em geração.

As raparigas, com idades entre os 15 e os 24 anos, trabalham mais 1h21 por dia que os rapazes e as tarefas domésticas e trabalho de prestação de cuidados a crianças, jovens ou adultos, em situação de dependência, consomem-lhes em média 4h23 por dia. Já os homens gastam praticamente metade do tempo com esse tipo de trabalho, correspondendo a uma média de 2h38 diárias.

Na saúde, os portugueses também não são todos iguais. De acordo com o Relatório de Primavera 2016, do Observatório Português dos Sistemas de Saúde (OPSS), os mais fragilizados neste campo são os desfavorecidos economicamente, as crianças, os idosos e, claro, as mulheres.

Elas demoram mais a chegar ao topo das empresas

Enquanto em Portugal as mulheres representam quase metade da força de trabalho, a nível global o sexo feminino representa menos 40%. Percentagem essa que diminui ainda mais quando falamos de postos de chefia: elas são apenas 33% dos gestores, 26% dos gestores de seniores e 20% dos executivos, segundo o estudo ‘When Women Thrive’ (‘Quando as Mulheres Avançam’, em português).

Um dos mais recentes relatórios do Fórum Económico Mundial, divulgado em outubro de 2016, concluiu mesmo que a igualdade de género em termos económicos só deverá ser atingida dentro de 170 anos. Resultado que representa um retrocesso em relação aos 118 previstos em 2015.

Porque é que elas continuam a ganhar menos?

Sandrige Lage, fundadora do Great Place to Work em Portugal, já explicou ao Delas.pt porque é que as mulheres continuam a ganhar menos. “A tendência é para privilegiar a contratação de um homem por representar menos riscos e um custo inferior porque, à partida, o homem estará mais ‘disponível'”, afirmou. No entanto, para esta especialista, as mães também não estão isentas de culpa, pois distribuem “de forma desigual as tarefas domésticas junto dos filhos”.

No fundo são vários os indicadores que provam que as mulheres ainda têm muita luta pela frente. Além da já referida diferença salarial e falta de poder em casa, o sexo feminino também tem mais dificuldade em construir fortuna, ter trabalho pago, não sofrer abusos sexuais, ter cargos de gestão e representantes na política.

Mulheres em minoria na política, tecnologia, ciência e desporto

A desigualdade entre homens e mulheres é mais visível em determinadas áreas, como é o caso da política, tecnologia, ciência e desporto. Para esbater esta realidade, no dia 11 de fevereiro de 2016 até se celebrou, pela primeira vez, o Dia Internacional das Mulheres e Raparigas na Ciência. De acordo com as estatísticas da Unesco, só 28,4% dos investigadores mundiais são do sexo feminino.

Na tecnologia o cenário não é melhor. Há um ano o conselho de administração da Apple enviou um documento aos acionistas a recomendar que rejeitassem a proposta de ter mais mulheres e negros em lugares de topo. E parece estar tudo igual. Olhando para os cargos de destaque na gigante tecnológica, em 11 lugares, começando pelo CEO, Tim Cook, 10 são ocupados por homens brancos e apenas um por uma mulher branca.

Já no desporto, o ténis ainda é considerado a modalidade mais igualitária de todas, no que toca a questões de género, mas os vencedores masculinos continuam a receber quantias superiores às vencedoras femininas. Por cada dólar ganho pelos homens, as mulheres ganham apenas 0.63$, o que em dinheiro europeu se traduz em 0,88 euros para os homens e 0,55 euros para as mulheres.

A política continua a ser dominada por homens, mas entre primeiras-ministras e presidentes já existem 16 mulheres. Entre elas estão Angela Merkel, chanceler da Alemanha, Theresa May, primeira-ministra do Reino Unido, e Erna Solberg, primeira-ministra da Noruega.

Contudo, a disputa pelo cargo de Secretário-Geral das Nações Unidas foi bastante equilibrada. O antigo primeiro-ministro português António Guterres esteve na corrida, lado a lado, com outros três homens e quatro mulheres.

No cinema, a diferença também se vai esbatendo. Na popular série A Guerra dos Tronos, a estrela mais bem paga é uma mulher, Emilia Clarke, que dá vida à personagem Daenerys Targaryen.