A importância de estabelecer limites nas relações

relacao
Fotografia: iStock

Falar em limites é, quase sempre, presumir que estamos perante algo negativo. Os limites são, por muitos, encarados como rigidez e sufoco. Numa relação, é quase sinónimo de perder a liberdade e viver como se de uma prisão se tratasse. Mas a verdade é que, quando bem aplicados, os limites podem ser ferramentas saudáveis e que priorizam o respeito.

Nedra Tawwab, terapeuta de relacionamentos, falou sobre a importância de estabelecer limites, à revista online MadameNoire: “Ser agradável e ser capacho não são a mesma coisa, embora muitas vezes sejam confundidos. É possível ser gentil, atencioso e cortês, enquanto se estabelece limites importantes para o bem-estar”, explicou.

Como é que a pandemia ajudou a estabelecer limites

Se anteriormente à pandemia as rotinas dos casais se faziam díspares, em confinamento foi impossível fugir à ideia de que iriam passar a partilhar a mesma rotina 24 horas por dia. Se por um lado aumentaram os possíveis desentendimentos, também fez com que fossem estabelecidos limites para a boa convivência.

“Ter de dividir um espaço (possivelmente pequeno) com um parceiro pode ter encorajado os casais a, finalmente, sentirem-se à vontade para falar sobre as suas necessidades”, afirmou.

“Ter de trabalhar, comer, relaxar e socializar (no Zoom), tudo no mesmo lugar, com os nossos parceiros, levou-nos a afirmar as nossas necessidades. Era a única maneira de passar por isto”, concluiu.

Um Estudo do Índice da Felicidade de 2021 (Estados Unidos), mostrou que 71% dos casais ficaram felizes por ter alguém com quem partilhar o confinamento. Ao mesmo tempo, um outro estudo divulgado pela Relish, uma empresa de coaching de relacionamentos norte-americana, afirmou que em 68% dos inquiridos a relação não resistiu à pandemia.

O (in)sucesso das relações em tempos pandémicos dificilmente se deveu ao confinamento, mas aos tais limites que até então, possivelmente não tinham sido impostos. Além disso, há ainda quem se assuste e ache que limites são sinónimo de submissão.

Seja proativo em vez de reativo

Não espere cruzar-se com os problemas para estabelecer os limites. “No meu livro, tenho uma secção sobre perguntas a fazer no início do namoro. Isso inclui temas como finanças, família, relacionamentos e o que cada um considera infidelidade”, contou Tawaab. “Às vezes, quando os casais aparecem na terapia, eles ainda nem conversaram sobre estas coisas”, disse.

Para a especialista, os casais devem aproveitar, desde o início, todas as oportunidades de debate sobre os assuntos que consideram importantes.

Por vezes a melhor maneira de puxar assuntos, que dificilmente seriam tema, é usar algo que leu ou ouviu. A terapeuta deixou o seguinte exemplo: “Hoje vi na televisão que trocar mensagens com outras pessoas, estando numa relação, não é um problema … eu concordo…”. De uma maneira subtil consegue debater os seus limites e perceber os do outro.

Por que é que temos tanto medo de estabelecer limites?

A resposta, muitas vezes, aponta para os fantasmas do passado. Quem cresceu numa casa sem limites ou esteve num relacionamento onde os limites eram empregues como algo negativo, está mais propenso a ter receio daquilo que as novas “regras” podem significar.

“Quem estabelece limites teme que a outra pessoa fique com raiva. Nós queremos ser amados e considerados positivamente pela outra pessoa. E a verdade é que, às vezes, estabelecer um limite pode irritar alguém, mas também pode ser saudável para um relacionamento. Não deveria ser um problema”, explicou Nedra Tawwab.

Além disso, não estabelecer limites pode resultar em algo muito pior como ressentimentos, frustração, ansiedade e depressão. A especialista explicou que, com a ausência de uma conversa que coloque “os pontos no i’s”, os níveis de ansiedade podem aumentar porque existe receio de perder a outra pessoa.

Algo bastante recorrente nos debates sobre relacionamentos, é, ainda, a interação do casal em eventos com familiares e amigos. Tawwab contou que, em consulta, costuma trabalhar alternativas para que o casal se sinta mais confortável: Diminuir as visitas à família ou, na altura das férias, optar por ficar em hotéis invés de na casa de familiares. Isto são exemplos de limites que, dependendo dos casais, podem funcionar.

Como agir na hora de estabelecer um limite

“Às vezes falamos demais. Reduza a conversa a uma ou duas frases, definindo realmente os seus limites. ‘Eu quero que faças isto. Seria útil para mim se isto acontecesse.’ Os limites são claros e diretos. Não traga muito contexto nem histórias. Às vezes, quando não se mostra firme em estabelecer um limite, as pessoas podem convencê-lo a ultrapassá-lo”, aconselhou Tawwab.

É natural sentir que tem de se explicar, mas não precisa de desculpas na hora de estabelecer um limite que é saudável para si. A terapeuta deu como exemplo os despedimentos nas empresas: “Aprendi, como empresária, que quando se dispensa alguém de um emprego, não é preciso justificar muito. Basta dizer que aquela pessoa não trabalha mais”.

Ao mesmo tempo, se lhe colocam um limite, precisa apenas de responder a duas questões: O limite é razoável? É saudável? Se a resposta for sim, então o limite serviu apenas para reforçar o respeito na relação.

Limites mostram que ainda se importa

Quando alguém não se importa, geralmente não impõe limite. “Criar limites é para relacionamentos que vão durar, então é bom se alguém definir um. As pessoas normalmente não estabelecem limites em relacionamentos com os quais não querem continuar. Temos limites com quem nos preocupamos”, concluiu.