A importância de estar sozinha sem se sentir solitária

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Não importa o número de pessoas com quem se relaciona diariamente. Quase todos já se sentiram sozinhos, em várias circunstâncias da vida, por períodos curtos ou prolongados, com menor ou maior intensidade.

Quando se vivem dificuldades, para o bem ou para o mal, para benefício ou prejuízo, só no final se consegue identificar quem realmente permanece e continua a dar apoio na vida, de forma incondicional.

Segundo Diana Gaspar, psicóloga especialista em relações interpessoais, “quando há necessidade de se estar sozinha tal pode significar que a pessoa tem algum prazer em estar consigo própria, não está disponível para se relacionar com os outros – muitas vezes pelas mudanças ou exigências que os relacionamentos trazem -, ou, simplesmente, porque se sente magoada com relacionamentos que teve anteriormente”.

No decorrer da vida, muitos relacionamentos devem ser deixados para trás. É como um processo de eliminação, ao final do qual se sente sozinho quem julga que quantidade vale mais do que qualidade. O problema está em quando alguns acabam por ser levados pela solidão.

A socióloga Rosário Mauritti explica que “em Portugal, não são muitas as pessoas que fazem esta escolha, mas penso que se a puderem fazer, fazem sem problema”.

O papel da sociedade

Há a ideia de que não estar num relacionamento é um problema “vendido” pela sociedade, mas Rosário Mauritti defende que “nas grandes cidades, como se vivem vidas mais anónimas, é mais fácil fazer este tipo de escolha, mas num contexto mais pequeno, torna-se complicado”, explicou ao Delas.pt. Diana Gaspar concorda e afirma que: “há uma série de crenças sociais que indicam que temos de fazer uma série de coisas ao longo da vida e, se não as fizermos, parece que não estamos a cumprir um ‘protocolo social’, como por exemplo, estudar, casar ou ter filhos.”

No entanto, não existe ninguém que não sinta a necessidade de estar sozinho, nem que seja apenas por uns momentos. Apesar da comunicação com os outros fazer parte da natureza do ser humano, o excesso também pode acaba por sufocar.

A escolha de estar sozinha

Estar sozinha é, antes de tudo, uma escolha que deve ser feita tendo em mente a noção de que a solidão é uma provável consequência.

Por mais que muitos não compreendam, a verdade é que existem inúmeras pessoas que tomam esta decisão, simplesmente, para se encontrarem a elas próprias, o que não é um problema. “Estarmos sozinhos permite-nos apreciar o nosso silêncio, escutar o que pensamos para nós próprios, conseguirmos estar com o nosso eu em equilíbrio”, afirmou a psicóloga.

Para se sentir bem ao lado de alguém, é preciso, em primeiro lugar, gostar de se estar sozinha.

O poder das redes sociais

Atualmente, as pessoas utilizam os ‘likes’ e os comentários nas redes sociais como uma maneira de medir o quanto os outros se importam com elas. Utiliza-se mais do que uma conta online para que se possa estar ocupada com os amigos (ou estranhos) o tempo todo, o que, de certo modo, faz com que se sinta apreciada.

Mas, por trás deste mundo virtual, existe uma realidade que pode ser perigosa: a solidão emerge e as pessoas acabam por sofrer com depressões, que mais tarde podem atrair pensamentos suicidas.

E é por estas razões que é necessário criar uma rede de suporte. Rosário Mauritti alerta que, “apesar de existir a tendência para o isolamento, quem faz esta escolha tem de ter laços muito fortes com outros, caso contrário pode ser altamente prejudicial”. Diana Gaspar vai mais longe e afirma que “se para alguns é normal ter uma família, querer ter filhos, partilhar uma casa ou uma conta bancária, para outros é tão legítimo querer viver sozinho e não querer ter filhos”.

Este último grupo tem, de resto, vindo a aumentar. Segundo um estudo feito pela PORDATA, base de estatísticas certificadas sobre Portugal, existiam, no ano passado, perto de 940 mil portugueses a viverem sozinhos.

O papel dos amigos

Os amigos são fundamentais nestas situações. Para além de darem apoio, conseguem detetar se a pessoa se está a começar a isolar e agir em tempo. Por isto, “é preciso serem frontais quando percebem e devem falar diretamente para saber o que se passa e para poder ajudar”, explicou a psicóloga.

Mas nem tudo depende das relações de amizade. O próprio indivíduo tem de fazer um esforço para avaliar se realmente se sente bem sozinho ou não. “É preciso pedir ajuda aos amigos, família ou até a um profissional. O ser humano está muito formatado a mostrar a sua autonomia e a resolver as coisas sozinho mas, se calhar, em alguns aspetos, tudo demora muito mais tempo e é mais doloroso”, explicou a psicóloga.

É, ressalve-se, imprescindível falar sobre as emoções. “Facilmente acabamos por mostrar que estamos bem e dificilmente falamos de forma mais descontraída daquelas emoções que nos fazem sentir pior e que nos magoam mais”, disse Diana Gaspar.

É igualmente importante procurar novas atividades como, por exemplo, a prática de desporto. A especialista em relações interpessoais afirmou: “Estamos muito formatados a viver as mesmas coisas de forma muita rotineira e, às vezes, há contextos em que nos podemos conhecer melhor e também conhecer outras pessoas que nos façam aprender a viver outras experiências”.

Se está solteira, acredite, não é o fim do mundo. Muito pelo contrário, esta é uma oportunidade para se conhecer a si própria. E mesmo se estiver com alguém, “é importante ter momentos a sós consigo própria e ter a consciência de que, por muitos relacionamentos que se possa ter, o estar sozinho é uma aprendizagem fundamental”, conclui Diana Gaspar.