A Maria Vaidosa: “Estou há 10 anos à espera do anel, mas já tenho o vestido de noiva escolhido”

Tem 27 anos, uma filha e uma legião de fãs no Youtube – onde soma mais de 225 mil seguidores – e Instagram, principais plataformas nas quais Mafalda Sampaio, mais conhecida como A Maria Vaidosa, mostra a sua vida e profissão.

Foi uma das primeiras vloggers de maior sucesso em terras lusitanas e publicou uma revista em papel, que, um ano depois da chegada às bancas, conhece agora uma nova viragem: mais adulta. O objetivo, garante, é acompanhar o público que está a crescer com ela.

Em entrevista ao Delas.pt, Mafalda revela que quer criar as suas marcas de Moda e Beleza, que sonha casar e, mesmo sem anel de noivado, já tem o vestido escolhido, e explica porque mostra a filha, Maria Madalena, com cerca de seis meses. “É como os pais de antigamente que tinham os filhos na carteira”. Hoje o online é a carteira: “Literalmente”, anui a vblogger.

Mafalda diz que não cede a fotos, nem conteúdos fáceis e considera que as marcas deviam andar mais preocupadas com interação do que com número de seguidores. Um olhar para o negócio, para as intenções e para as críticas de A Maria Vaidosa, porque a vida dela…essa já está toda no online. De forma honesta, diz ela, o que garante ser o segredo do sucesso.

É a sua vida que acompanha o digital ou o online que acompanha a sua vida?

(Pausa) Esta pergunta é difícil (risos). É o online que acompanha a minha vida porque desde sempre, desde pequenina, desde que existe internet com aqueles barulhos [modem], que eu tenho estado presente em todas as novidades. Lembro-me que o primeiro vídeo que vi no YouTube, em 2004, era uma paródia da Shakira, era o que se via na altura (riso). Depois comecei a acompanhar e a ver muitos tutoriais de maquilhagem. Acabei por crescer com o online e tenho-me dado a conhecer a outras pessoas através dele.

A velocidade do online e da vida real são diferentes. Em que medida é que a sua realidade é acelerada para responder a essa solicitação que chega da Internet?

Tento que não se apodere da minha vida porque é muito fácil sentirmos que todas as nossas plataformas digitais nos absorvem, é impossível conseguirmos desligar. Acordo de manhã, faço um story. Estou sempre a comunicar para os meus seguidores e sempre a ser absorvida pelo online. É natural que acelere em parte a minha vida porque estou sempre a fazer a minha vida e a comunicar, mas não me sinto stressada pelas redes digitais.

“Tento que o online não
se apodere da minha vida”

E como fica a privacidade no meio disto?

Sinto-me muito confortável com isso, por acaso. Senti alguma pressão quando a minha filha nasceu: saber se a partilhava, não partilhava, se era seguro. Mas, eu e o Guilherme tomamos essa decisão, mais cedo ou mais tarde teríamos sempre de partilhar uma imagem. Portanto, seria arranjar um problema onde não existia, porque é inevitável. Se partilho o meu dia-a-dia, é impossível não aparecer a minha filha. E acho que é bom falar dessa experiência com outras pessoas: o que é ser uma mãe nova, uma mãe que tem um trabalho a tempo inteiro.

E essa pressão relativa à filha vinha de onde, em concreto? Quem eram os agentes dessa pressão?

A privacidade está muito ligada à segurança da minha filha. Essa pressão era imposta por mim mesma, sentia que podia ser considerada má mãe por partilhar a minha filha, e não estar preocupada com a segurança dela.

“Senti alguma pressão quando a minha filha nasceu: saber se a partilhava, não partilhava, se era seguro”

Mas estava a defraudar os seguidores, caso não o fizesse?

Não, eles teriam de compreender. E há muita gente que não o faz e não os condeno por isso. Só que, tendo em conta o meu registo até à data e tendo partilhado todas as etapas da minha vida – mudança de casa, juntar-me ao meu namorado -, não partilhar a minha filha deixar-me-ia triste. Fi-lo porque quis e não porque o público exigiu, e acho que Portugal também é um país seguro.

Mas isto não representa que, dentro de toda a liberdade de escolha que tem para publicar os conteúdos que quer, a Mafalda vive, ao mesmo tempo, numa prisão?

Não, não há nenhuma prisão. Chega a uma altura em que ficamos um pouco saturados de fazer o mesmo, por isso é bom mudar alguma coisa. Daí ter mudado a revista, daí ter novos planos para o próximo ano com outro tipo de conteúdos.

Que planos são esses? Que conteúdos são esses?

Não sei (risos), terão de esperar.

Agora mudou a revista e fala no pós-maternidade. Tendo em conta a conexão do seu trabalho com a sua vida, podemos imaginar que uma próxima edição seja sobre o casamento, assunto abordado na entrevista desta edição?

Não sei, se tivesse o anel era ótimo (risos). Mas estou há quase dez anos à espera… (gargalhada) Já são alguns anos à espera do vestido, adorava. Já tenho o vestido de noiva escolhido.

Está a fazer isto porque quer muito? Porque o publico lhe pede uma coisa dessas?

Não. Não me cinjo mesmo pelo que a audiência quer. Se fizesse o que a audiência queria, não seria a mesma, seria uma personagem, seria um produto criado pela audiência. E é muito fácil criar produtos fáceis, ou seja, os conteúdos mais tontos são os mais fáceis de fazer e de ter mais alcance e de visualizações. Acima de tudo, quero revelar o máximo de transparência possível. Se eu não estou feliz não gravo vídeos, se não estou no mood de fotografar, eu não fotografo. Não tenho um horário e respeito-me.

“Se fizesse o que a audiência queria, não seria a mesma, seria uma personagem, seria um produto criado pela audiência”

E se não o fizer? É que, de repente, não é só a Mafalda a decidir, há novas obrigações, não?

Não faço. Não sou uma personagem e também tenho alguns filtros. Não digo tudo o que, às vezes, me apetece dizer. Não vou para os stories fazer reclamações da minha vida. Os meus conteúdos são pensados e planeados, mas não ao ponto de por em causa a minha sanidade mental. Faço o que quero, apesar de ter alguns filtros e de ter conteúdos preparados.

No universo do online, no YouTube, há sempre a ideia de uma vida bonita, mais ou menos encantada. Sente a necessidade de alimentar esse lado da beautiful life?

Não, sinto que a minha vida é mesmo beautiful life. Sou superconcretizada, uma mulher superfeliz e poder partilhar isso deixa-me bem, porque realmente sou assim. Tenho pai e mãe incríveis, estou a criar a minha nova família com a minha filha, o Gui e os meus dois cães e é isso que mostro. Obviamente, não vou partilhar as minhas discussões com o Guilherme (risos), ninguém quer saber. Não vou dizer: ‘Olha, paguei o IVA e estou falida!’ (risos).

Mas a vida também é feita destas coisas, desta ideia de que tudo está no Instagram – no universo das redes – e de criar uma falsa ilusão.

Mas cada vez mais as pessoas conseguem filtrar o que é real do que é floreado. O fator de sucesso é mesmo esse: ser-se o mais real possível.

Ser real, mas sem problemas?

Há muita gente que partilha os problemas e há quem se identifique com eles ou não. Mas: ‘estou tristíssima e vou pegar na câmara e sorrir?’ Não, não faço isso. Conheço quem o faça, não condeno porque é o registo dessas pessoas, são a sua personalidade digital. Eu não consigo fazê-lo. Já estive um mês e meio sem publicar um vídeo, tive um bebé.

Publicou outro dia um sobre a experiência e sobre inclusivamente as marcas da maternidade no corpo e a recuperação. Porque o fez?

Primeiro, porque foi um vídeo muito requisitado. Tenho muitas seguidoras que estão grávidas e que vão ser ou foram mães há pouco tempo, que têm filhos e que queriam ter um relato do meu pós-parto. É um tema que, realmente, não é muito falado. Tentei mostrar o que senti e pelo que passei – que não foi extremamente positivo, mas também não foi muito negativo – da forma mais natural possível. Fiz o relato sem esquecer nada da parte negativa, porque as pessoas gostam de florear tudo. Foi um bocadinho cru, mas foi bastante sensato. Acho que as pessoas gostaram imenso do relato.

Que outros relatos, temas, lhe pedem mais?

Fiz um vídeo, há um ano, que pretendia responder à pergunta: ‘como ser feliz’. Hoje em dia, as pessoas veem vidas perfeitas e sentem-se um bocado frustradas por não conseguirem ter uma vida assim. E vivem preocupadas com a vida dos outros. Falei exatamente sobre isso, expliquei que, para nos sentirmos realizados, temos de lutar pelo que queremos e não passar a vida a olharmos para os outros. Se não nos focarmos na nossa vida e estivermos sempre a olhar para o lado, então não vamos a lado nenhum. Tento passar essa mensagem aos meus seguidores.

“Se não nos focarmos na nossa vida e estivermos sempre a olhar para o lado, então não vamos a lado nenhum”

Que estão precisamente mais de olhos postos na tua vida do que na deles.

Exatamente.

Mas isto não é preocupante para si?

Não. Não me sinto invadida. Muito pelo contrário. Sinto que tenho oportunidade de fazer parte da vida dessas pessoas de forma muito positiva e de lhes mostrar: ‘Eu tenho sucesso, mas vocês também podem ter, se forem focados no que querem, se sonharem. Costumo dizer que não tenho sonhos, tenho metas. Prefiro ter uma meta e concretizar, do que sonhar demasiado alto e ser uma frustrada e não conseguir lá chegar. Temos de ter os pés assentes na terra, as nossas metas definidas ao ano, ao mês, à semana, o que acharem melhor. É preciso ter objetivos, focos e determinação.

Que outros temas – tal como o da maternidade – deveria tratar urgentemente e que não são abordados?

O impacto das redes sociais nas pessoas e a forma como os influenciadores podem explicar que nem tudo é maravilhoso e um mar de rosas. Há muitas coisas que não são reais no Instagram, de uma forma geral, que têm filtros, FaceTune, para editarmos silhuetas. Surgem conteúdos patrocinados para aplicações que colocam abdominais, isto já é completamente absurdo.

Recusa terminantemente essas ferramentas?

Uso FaceTune, atenção. Mas não o faço para mudar o meu corpo. Já usei para tirar uma borbulha, para tirar uma eventual oleosidade da testa, fazer aqueles retoques habituais, mas não mudo o meu aspeto físico. Há cinturas no Instagram que me levam à pergunta: ‘Como é que aquela rapariga anda’. As pessoas devem saber olhar para esta realidade e devemos falar sobre isso.

O Instagram e o YouTube trouxeram novas personalidades. Qual o espaço delas face às estrelas que já existiam, as da TV?

Ambos têm muito mérito, mas as que estão no YouTube são mais reais do que as que vêm da TV. Estas acabam por ter ainda mais filtros do que as que vêm do online. Eu agora tenho mais porque sou mais conhecida. No início não tinha filtros nenhuns. As pessoas da televisão têm mais regras, estão habituadas a ter tudo controlado.

Mas como imagina a sua presença no futuro, a caminhar para a televisão?

Por acaso, não. A televisão não é uma coisa que me deixe deslumbrada, mesmo que se esteja a reinventar muito.

Já começa a estar cheia de instagrammers e rostos do online lá dentro…

Sim, porque é o que faz sentido. Mas se eu vou acabar os meus dias em televisão? Creio que não. Não foi para isso que criei o meu canal. Se acontecer, não acho mal, mas não é uma meta minha.

Quais são as suas?

Gostava de ter a minha própria marca, espero que aconteça em breve.

Que marcas?

Ter os meus próprios produtos. Pode ser de beleza, roupa, não sei..

Já há passos dados nesse sentido?

Alguns, mas não posso revelar tudo.

Mas pode dar uma pista? Prazos?

Quero ter outras marcas, dentro desta esfera.

Qual a sua relação com os likes?

Sinceramente, não vivo obcecada com isso. As pessoas estão muito obcecadas, muito focadas no que os outros têm e o que os outros fazem. Sei qual é a minha média de likes e se não a tenho numa imagem, pronto! Talvez noutra possa ter.

Imagens em biquíni têm mais likes do que outras. Como se resiste à tentação de, na busca das aprovações, não ceder ao facilitismo?

Não procuro mesmo likes. Partilho o que adoro e com o momento.

Há regras mais apertadas para o que mostra da sua filha online do que para si?

São os mesmos. Tento não partilhar a localização exata onde estou. São mais regras de segurança do que overshare [sobreexposição].

Pensa naquilo que poderá ser a opinião dela no futuro?

Sim, penso e acho que ela vai gostar (risos). Não acho que seja uma coisa negativa o facto de ela aparecer.

Há uma espécie de negócio, entre si e o Guilherme, sobre esta questão?

Ela é tão querida que acho que não consigo não partilhar (risos). É inevitável. É como os pais babados de antigamente que andavam com as fotografias dos filhos na carteira e mostravam.

A carteira é o Instagram, literalmente?

Literalmente (risos). Mas não a partilho a fazer birras. Mostro o melhor dela, sempre bonitinha e fofinha.

Mas as marcas e anunciantes estão disponíveis para esse tipo de flutuações nos likes?

As marcas ainda estão a apalpar o terreno no digital. Há grupos que estão muito mais atentos, mas há outras marcas que ainda não sabem bem, preferem, se calhar, uma pessoa com muitos seguidores, mas depois sem interação. O mais importante é o alcance e a envolvência que o criador de conteúdos tem com esses seguidores. Enquanto marca, eu preferia apostar numa pessoa com mais interação do que com mais seguidores. Portanto, são opiniões.

Já está a pensar onde anunciar as suas futuras marcas.

(Risos). Sim, já estou a pensar. Mas, quando estiver a fazer esse trabalho, escolherei as pessoas certas.

E quem são essas pessoas certas, hoje em dia, em Portugal?

Ui (sorriso). Terá de ser analisado. Por cá, há espaço para todos, cada pessoa tem o seu registo e o seu público. Há marcas para todos e comunicações diferentes.

Num universo online em que todos os dias chega gente nova, quais as características que a diferenciam do resto? O que a distingue?

É difícil falar de mim própria, então respondo com o feedback que recebi e que foi matéria da mais recente edição da revista. Pedimos palavras que definissem a Maria Vaidosa e surgiu empreendedora, influenciadora, honestidade e real. Por isso é que está na capa o ‘Digital Real’?. Os seguidores sentem muito a Maria Vaidosa como uma pessoa real que lhes chega todos os dias, no seu dia-a-dia.

Qual o seu papel na revista?

Escolho os temas, participo nos debates de ideias. Não escrevo, até porque não tenho formação jornalística, mas trato e vejo as matérias, faço a minha própria comunicação digital e a da revista.

https://www.instagram.com/p/Bqpu_ajhM0_/

A publicação está diferente, ganhou uma nova roupagem. Porquê?

Queria mudar porque creio que o público a via como muito jovem, e não era bem essa a ideia que queria transmitir. O meu público cresceu comigo, também tenho outro universo que é o da maternidade – porque fui mãe há pouco tempo – e senti que era importante fazer algo novo, trazer uma nova imagem, mais conteúdos. Temos de nos reinventar para acompanharmos as tendências e para nos afirmarmos como criadores de conteúdo no mercado digital, não estando só no digital. No fundo, somos empreendedores, somos a nossa própria imagem porque fazemos tudo, temos de pensar no backstage, enquanto outras pessoas que trabalham mais na televisão têm câmaras, produção. Nós só nos temos a nós para fazer, criar, pensar nas ideias, fotografar, filmar, fazer edição.

Ao nível online e profissionalmente, onde se imagina daqui a dez anos?

Não sei se estarei a fazer Youtube e Instagram a tempo inteiro. Se calhar, daqui a dez anos, isto poderá ser o meu part-time e terei os meus próprios negócios. E terei mais liberdade para dizer o que me apetece, com menos filtros, talvez (risos). Haverá outras plataformas.

Imagem de destaque: Natacha Cardoso/Gobal Imagens

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