A mulher dos 1600 pares de sapatos foi condenada a 77 anos de prisão

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Imelda Marcos [Fotografia: Romeo Ranoco/rEUTERS]

Imelda Marcos tem 89 anos e acaba de ser condenada a 77 anos de prisão por sete acusações de corrupção, um soma feita com penas entre os seis e os 11 anos de cadeia. Viúva do ex-presidente e ditador das Filipinas Ferdinand Marcos, a antiga primeira-dama foi ainda mais conhecida pela sua paixão por sapatos, tendo somado 1600 pares.

Garantia dada pela própria em tempos – “não tive três mil pares, tive 1600”- e com orgulho: “Foram aos meus armários à procura de esqueletos e, graças a Deus, o que encontraram foi sapatos, bonitos sapatos”, lê-se no site Her Closet [O Armário Dela, em tradução literal).

Um voluntário limpa os sapatos da antiga primeira-dama das Filipinas no Museu do Calçado de Marikina, a leste de Manila [Fotografia: Romeo Ranoco/Reuters]
Já mais distante do glamour de outros tempos e do “direito humano à nobreza” – como tem reclamado para si – Imelda tem agora pela frente uma sentença de prisão imediata para cumprir e que a impedirá de voltar a desempenhar cargos públicos.

A viúva representava atualmente, na Câmara Baixa do parlamento das Filipinas, a região de Llocos Norte. Mais: Imelda estava na corrida eleitoral a governadora desse mesmo território, um sufrágio previsto para maio.

Condenada a desvio de dinheiros públicos e tem margem para recurso

Em causa está, num processo judicial que se arrasta há duas décadas, o desvio de 200 milhões de dólares do erário público, através de fundações criadas em seu nome na Suíça, quando ocupava o cargo de Governadora de Manila (1975 -86). A sentença é passível de recurso para o Supremo Tribunal, o que permite a Imelda Marcos manter o seu lugar no parlamento e a candidatura a governadora.

A ordem de prisão imediata é também passível de recurso, pelo que é provável que o tribunal imponha o pagamento de uma fiança a troco da liberdade enquanto avança o processo judicial, explicou à imprensa, após a leitura da sentença, o responsável do tribunal, Ryan Quilala.

O tribunal absolveu de outros três delitos de corrupção a viúva de Marcos, conhecida pelos seus gostos luxuosos e pelas suas coleções de joias e sapatos.

Fortuna avaliada entre cinco e dez mil milhões de dólares

Ferdinand e Imelda instauraram um regime ditatorial nas Filipinas, entre 1965 e 1986, tendo o presidente sido destituído por uma revolta popular pacífica, que os levou ao exílio. O país viveu durante nove anos sob lei marcial (1972-81), período durante o qual pelo menos 3.240 pessoas foram assassinadas, 70 mil presas e 34 mil torturadas, segundo a organização Amnistia Internacional.

O ex-presidente faleceu no Havai em 1989 e a viúva e os filhos regressaram ao país em 1992, tendo, desde então, sido acusados em 400 processos judiciais sem qualquer condenação até à sentença de hoje.

A fortuna ilícita da família Marcos está avaliada entre cinco mil e 10 mil milhões de dólares, entre dinheiro, imóveis, joias e obras de arte, segundo a Comissão Presidencial para a Boa Governação, agência oficial criada há três décadas para tentar recuperar os valores desviados.

Mulheres e sapatos: que relação é esta?

Em junho, o Supremo Tribunal rejeitou, por falta de provas, uma queixa da mesma agência que reclamava que a família devolvesse 955 milhões de dólares por prejuízos causados ao povo filipino.

Apesar de ter declarado um património de 950 mil dólares entre 1965 e 1984, há registo de que a família Marcos comprou mais de cem quadros de pintores como Picasso, Van Gogh ou Monet, cujo valor foi estimado, na altura, em 25 milhões de dólares, bem como edifícios nas melhores zonas de Nova Iorque e Los Angeles.

A organização Transparência Internacional coloca Ferdinand Marcos como o segundo líder mais corrupto da história, apenas superado pelo ex-presidente Indonésio Suharto.

CB com Lusa

Imagem de destaque: Romeo Ranoco/Reuters

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