A mulher por detrás dos discursos de Michelle

RTSJMXP
U.S. first lady Michelle Obama speaks at the Democratic National Convention in Philadelphia, Pennsylvania, U.S. July 25, 2016. REUTERS/Mark Kauzlarich TPX IMAGES OF THE DAY - RTSJMXP

Há uma outra mulher por detrás dos discursos com que Michelle Obama tem conquistado audiências como a da convenção democrata – em que foi a grande estrela. Chama-se Sarah Hurwitz, tem 38 anos, e é aquilo que nos EUA tem o nome de speechwriter. Trabalha em exclusivo para Michelle Obama desde há sete anos. Segundo o jornal americano Washington Post, as duas trabalham tão bem juntas que quando Sarah começa a escrever os discursos imagina a voz de Michelle Obama na sua cabeça.

“Edito o discurso com a voz dela na minha cabeça porque ela já me deu tanto feedback ao longo dos anos, e tem sido tão clara sobre o que quer,” disse Sarah Hurwitz ao jornal americano.

A presença de Sarah na sombra da convenção de segunda-feira é irónica: ela foi também a autora do famoso discurso de concessão de Hillary Clinton, há oito anos, aquele em que a ex-candidata dizia que tinham sido abertas 38 milhões de fendas no “teto de vidro” que até agora impedia as mulheres de chegarem à Presidência. Foi com Hillary que Sarah começou a fazer discursos. E foi depois deste discurso que a equipa de Obama a contratou.

Sarah encontrou-se durante 90 minutos com Michelle, em casa dos Obama em Chicago e foi nesse encontro que a Primeira-Dama lhe deu as coordenadas fundamentais do trabalho que queria ver feito:

“Ela disse-me: ‘Okay, isto é quem eu sou, é de onde eu venho. Esta é a minha família e estes são os meus valores e isto é aquilo de que eu quero falar na convenção”, disse a speechwriter ao jornal.
hurwitz
A discreta Sarah Hurwitz que escreve os discursos de Michelle Obama. (fotografia de perfil do Facebook)

O discurso de Michelle melhorou a imagem distante e zangada que a mulher de Obama tinha ganho durante as primárias. Ambas chegaram a um tom caseiro, familiar e muito coloquial, que se tem mantido ao longo destes últimos anos, sempre com sucesso crescente até à apoteose da convenção democrata deste ano, em que Michelle endossou Hillary Clinton.

Foi de Sarah a ideia de que os EUA são agora uma grande nação, ao contrário do que anda a dizer Donald Trump: “Numa escola no Novo México vi crianças que eram bisnetas de escravos e que agora iam andar na Ivy League (as melhores universidades). Pensei: este é um grande país.”

Sem nunca descurar temas que lhe são caros, como a raça, a igualdade das mulheres, a educação ou a saúde, Michelle Obama criou uma imagem pública altamente favorável, isto apesar de ter todos os olhares a incidir sobre ela, como a primeira afro-americana na Casa Branca. Segundo Sarah, a Primeira-Dama pede os discursos com muita antecedência, pratica palavra por palavra, e raramente pede mudanças de última hora.