A mulher que fez de Maria Madalena uma líder espiritual

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Phillipa Goslett foi a argumentista que trouxe autenticidade feminina ao filme Maria Madalena, que estreia hoje. Foi ela que fez desta apostola de Cristo – que não era prostituta nem adúltera – uma líder espiritual. Falámos em Londres com uma mulher que não se considera religiosa.

Philippa Goslett na ante-estreia em Londres (Photo by Dave J Hogan/Dave J Hogan/Getty Images)

Como é que nasceu este projeto?
Os produtores de O Discurso do Rei quiseram fazer um filme sobre Maria Madalena e depois houve uma outra argumentista a pegar na história. Mais tarde, fui chamada também e o meu objetivo era conseguir transmitir o verdadeiro ponto de vista desta mulher. Quis contar a história de Jesus de forma muito emocional e com imensa empatia, tentando imaginar o que esta viagem terá sido para Maria Madalena e qual o seu papel na vida de Jesus, sobretudo no sentido de ter sido uma testemunha ativa. Fascinou-me muito a discussão do significado do que poderia ser o reino de Jesus. Na altura havia uma grande dúvida. Pesquisei e muitos pensavam que poderia ser algo teocrático e outros acreditavam num apocalipse, capaz de fazer sair os mortos dos seus túmulos. E, claro, fui muito para aquele conceito que mostra que Jesus era algo esquivo em explicações e que toda a sua jornada é uma viagem muito íntima.

Pessoalmente acredita que este filme pode causar alguma controvérsia na igreja cristã?

Não, creio que não. É um filme sobre o amor. Nas últimas cenas isso fica ainda mais claro. Fizemos uma obra sobre como amor transcende fronteiras, barreiras, tempo e espaço. Mesmo a rejeição de Pedro a Maria Madalena ou a traição de Judas nascem de feridas originadas pelo amor. Não tenho receio que o filme possa causar mágoa às pessoas. A controvérsia só pode haver se alguém ficar ofendido por vermos Jesus Cristo sob uma perspectiva feminina.

O papel de Maria Madalena na vida de Jesus ainda é um mistério para muita gente. Nesta vossa versão tentam seguir o que este papa já proclamou, que Maria Madalena era um dos apóstolos de Cristo…

Sim, há uma grande desinformação sobre Maria Madalena, por muito que em 1969 a Igreja já tenha dito que ela nunca foi prostituta e que mais recentemente se reconheceu o seu papel como apóstola de Cristo. A consciência que existe é que Maria Madalena era a prostituta arrependida. De alguma forma, é mais fácil a identificação com uma pessoa pecadora e arrependida…Não sei…As pessoas identificam-se mais com as personagens com falhas. Aquela ideia de termos uma Maria Madalena muito pecadora aos olhos da Igreja mas que depois é elevada e restaurada por Jesus é sempre muito atraente.

O filme está a ser lançado nas salas precisamente num momento em que cada vez mais o silenciamento das mulheres está a ser finalmente atacado…

Estamos a viver um momento único! Finalmente, as mulheres estão a receber uma plataforma para serem ouvidas. Nesse sentido, este nosso filme tem uma ressonância grande com este momento.

Rui Pedro Tendinha, em Londres