Há mil novos casos de VIH e Sida em Portugal, mesmo quando a prevenção já é conhecida

O número de diagnósticos de infeção de VIH e Sida tem vindo, anualmente e desde 2008, a descer, ainda que Portugal tenha uma das mais altas taxas de prevalência da União Europeia. Se em 2016 surgiram 1030 novos casos de infeção, somando os dados cumulativos anuais, são cerca de 50 mil os casos existentes em território nacional. Números que chegam no dia Mundial de Luta Contra a Sida, que se assinala a esta sexta-feira, 1 de dezembro.

Da recolha de dados feita até 30 de junho deste ano e mediante novos casos, “a maioria dos diagnósticos (99,7%) ocorreu em indivíduos com 15 ou mais anos de idade e foram diagnosticados 2,5 casos em homens (734 indivíduos) por cada caso identificado em mulheres (293)”, lê-se no Relatório Infeção VIH e SIDA – Situação em Portugal em 2016.

O contágio no âmbito das relações heterossexuais ainda são predominantes, com 59,6% a referir aquele contacto. Seguem-lhe os casos de homossexualidade masculina e há ainda 3,0% dos novos diagnósticos associados ao consumo de drogas injetadas, refere ainda o mesmo documento.

Mediante o predomínio daqueles dois primeiros fatores de contágio, a única forma de tentar evitar que tal aconteça no futuro permanece igual há décadas e terá mesmo de ser cumprida: o uso do preservativo, e os preliminares não podem ter lugar sem este tipo de cuidado. Na galeria acima, recorde as cinco razões pelas quais deve usar preservativo feminino. Sem excluir, claro, os argumentos que legitimam o uso do masculino. Na hora da prevenção, mais do que o género, importa a escolha do método eficaz.


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Entre 2015 e 2016, a oferta de preservativos nas escolas públicas portuguesas tinha aumentado, segundo dados oficiais do Programa Nacional para a Infecção VIH, Sida e Tuberculose revelados me fevereiro deste ano, mais de 50%. O que, contas feitas, apontava para 124.790 preservativos masculinos e femininos entregues.

No entanto, outros pontos de distribuição existiam que relatavam decréscimos na distribuição. Foi o caso registado nas unidades públicas de saúde: Em 2016, foram distribuídos menos 200 mil preservativos – 1,3 milhões – do que em 2015.

Maior número de casos detetado em idades entre os 30 e os 39 anos

O relatório, elaborado pela Unidade de Referência e Vigilância Epidemiológica do seu Departamento de Doenças Infecciosas, em colaboração com o Programa Nacional da Infeção VIH, sida e Tuberculose da Direção-Geral da Saúde, reúne informação epidemiológica que caracteriza a situação em Portugal a 31 de dezembro de 2016, obtida a partir das notificações de casos de infeção por VIH e sida que o INSA recebe, colige e analisa desde 1985.

“Segundo a informação epidemiológica obtida a partir das notificações de casos de infeção, em 2016 foram diagnosticados 1030 novos casos de infeção por VIH em Portugal”, acrescenta.

links_JenniferHelena Cortes Martins, responsável pela vigilância da infeção por VIH e sida no Departamento de Doenças Infecciosas do INSA, destaca o “predomínio de casos do sexo masculino, com idades inferiores às observadas nos casos em mulheres“.

“A taxa mais elevada de novos diagnósticos (26,1 por 100 mil habitantes) é observada no grupo etário 25-29 anos, apesar do maior número de novos casos se ter verificado no grupo 30-39 anos“, explicou em declarações à agência Lusa.


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A especialista destacou ainda que os novos casos referentes a homens que têm sexo com homens “foram, nos dois últimos anos, a maioria dos casos do sexo masculino, bem como dos novos diagnósticos em pessoas com menos de 30 anos“.

Helena Cortes Martins, autora do relatório, salienta também percentagem de diagnósticos tardios, particularmente em casos de transmissão heterossexual.

“Em mais de metade dos novos casos (55%) de 2016 o diagnóstico foi tardio, proporção que foi mais elevada (64%) nos casos em que a transmissão ocorreu por contacto heterossexual”, explica.

A especialista disse ainda que estão em curso importantes iniciativas a nível nacional no âmbito da prevenção da infeção por VIH, do acesso atempado ao diagnóstico da infeção e da melhoria da informação epidemiológica nacional.

CB com Lusa

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