“A psoríase pode melhorar durante a gravidez e agravar depois do parto”

psoriase istock
[Fotografia: Istock]

Manchas, vergonha, tristeza. Emoções que talvez cerca de 200 mil pessoas em Portugal, valor estimado, sintam com frequência. Falamos de mulheres e homens que convivem com a psoríase, uma doença crónica e inflamatória cujos primeiros sintomas se manifestam sobretudo entre os 15 e os 35 anos e vai para além de ser ‘apenas’ uma doença de pele. É, não raras vezes, um ataque direto à autoestima.

Talvez por isso o apoio na saúde mental surja como um dos aliados de quem sofre desta doença. “Em alguns casos é determinante envolver no tratamento das doentes um profissional de saúde mental, de forma a que a doente possa voltar à sua plenitude nas várias esferas da sua vida”, pede Pedro Mendes Bastos.

Em declarações por escrito ao Delas.pt e a propósito do Dia Mundial da Psoríase, que se assinala esta terça-feira, 29 de outubro, o médico especialista em Dermatologia e Venereologia olha especialmente para a incidência da doença nas mulheres em fases decisivas como a maternidade ou a menopausa, para as primeiras manifestações de artrites. O especialista do Hospital CUF fala também das implicações daquela patologia em matéria de prática de exercício físico e de produtos de beleza. “Numa fase de exacerbação ou enquanto a doença não estiver controlada, usar produtos antienvelhecimento ou produtos muito perfumados pode ser prejudicial”, avança. Já sobre o desporto, alerta: “Sabemos que numa pele seca mais facilmente surgirá psoríase bem como em áreas lesadas de pele. Assim, é fundamental ter cuidados adequados com a pele após a prática de desporto.

Há alguma forma de evitar ou adiar a manifestação desta doença? Como?

A psoríase é uma doença imunomediada, isto é, resulta de um erro no sistema imunitário que favorece o seu aparecimento. Não é possível identificar uma causa específica, pois é uma doença complexa e multifatorial que depende da interação de fatores genéticos e ambientais. Já que não temos controlo sobre os genes que herdamos, vale a pena falar dos fatores ambientais. Alguns medicamentos ou infeções ou infeções (por exemplo, amigalites) podem desencadear psoríase. Por outro lado, sabemos que o excesso de peso e uma alimentação rica em hidratos de carbono ou lípidos favorece a inflamação geral no organismo e pode ter impacto no surgimento da psoríase. O stresse psicológico também constitui um fator clássico de agravamento.

“o excesso de peso e uma alimentação rica em hidratos de carbono ou lípidos favorece a inflamação geral no organismo e pode ter impacto no surgimento da psoríase”

Tratando-se de uma doença que chega pelos 20 a 30 anos, mas também mais tarde, a psoríase coloca vários desafios em termos de autoestima. Que soluções têm as mulheres nesta matéria?

Esta envolve tipicamente o couro cabeludo, cotovelos ou joelhos, podendo também ser disseminada por toda a pele. Em outros casos, pode surgir apenas em áreas limitadas área genital ou palmas das mãos e plantas dos pés. As lesões na pele são rosadas, espessas ao toque e frequentemente são descamativas, ou seja, libertam escamas esbranquiçadas. Está já amplamente estudado o impacto psicológico desta doença em mulheres, podendo haver repercussões importantes na vida pessoal, profissional ou sexual. Para além do controlo da doença com um médico dermatologista, em alguns casos é determinante envolver no tratamento das doentes um profissional de saúde mental, de forma a que a doente possa voltar à sua plenitude nas várias esferas da sua vida.

Em que medida a maternidade ou a menopausa aceleram o aparecimento ou não da doença? E porquê?

A psoríase pode aparecer em qualquer idade, mas habitualmente surge nas décadas dos 20 aos 30 anos ou 50 aos 60, e é tão frequente em homens como em mulheres. O período de gravidez é uma fase em que normalmente o sistema imunitário ‘relaxa’ um pouco por forma a ‘tolerar’ o bebé em desenvolvimento, um ser estranho ao organismo materno. Não é raro a psoríase melhorar durante a gravidez para agravar depois do parto. A menopausa surge habitualmente por volta dos 50 anos, que é uma altura clássica para o início da doença.

Qual ou quais as doenças mais comuns em comorbilidade com a psoríase nas mulheres de 20 face às de 50 anos, por exemplo?

Cada vez mais se encara a psoríase como uma doença que pode atacar muito mais que a pele. O possível envolvimento das articulações (chamado artrite psoriática) bem como o aumento do risco de sofrer doenças cardiovasculares são hoje em dia consideradas comorbilidades, isto é, problemas de saúde associados à evolução da psoríase. A depressão ou ansiedade também são consideradas comorbilidades. Doenças do foro cardiovascular – como enfartes ou acidentes vasculares cerebrais – são mais frequentes em doentes com psoríase após a menopausa, pois também esta nova fase da vida aumenta o risco cardiovascular. O impacto psicológico e a artrite psoriática podem surgir mais cedo e devem sempre ser avaliados mesmo nas pacientes mais jovens.

“Doenças do foro cardiovascular – como enfartes ou acidentes vasculares cerebrais – são mais frequentes em doentes com psoríase após a menopausa”

Que cuidados devem ser cumpridos quando diagnosticada a doença?

A psoríase não tem cura mas hoje existem tratamentos capazes de controlar a doença. O melhor tratamento é o personalizado, que mais se adeque a cada doente.

Como se pode evitar o ressurgimento da doença?

Para além da medicação, o controlo da doença beneficia de um estilo de vida o mais saudável possível. Encontrar estratégias para gerir stresse, melhorar a alimentação, privilegiar o descanso e a prática de exercício físico fazem parte da abordagem holística da psoríase. Por outro lado, ter cuidados adequados com a pele a nível de higiene e, entre outros, a hidratação, ajuda a evitar que a psoríase espalhe.

“Ter cuidados adequados com a pele a nível de higiene e, entre outros, a hidratação, ajuda a evitar que a psoríase espalhe”

Em matéria de desportos, que cuidados ter com a doença? E em matéria de modalidades, há umas mais indicadas que outras? Quais? Porquê?

A mensagem fundamental é que a doente com psoríase terá sempre benefícios na prática de exercício físico. Do ponto de vista cutâneo, sabemos que numa pele seca mais facilmente surgirá psoríase bem como em áreas lesadas de pele (por exemplo, com traumatismos ou ferimentos). Assim, é fundamental ter cuidados adequados com a pele após a prática de desporto, com a higiene e cuidados adequados. Uma pele bem tratada desenvolverá sempre menos psoríase. Outra questão importante prende-se com a eventualidade de existir artrite psoriática concomitante; nesses casos, a preocupação prende-se não apenas com a pele mas também com a saúde do esqueleto e das articulações.

Em matéria de cremes, produtos de beleza e maquilhagem, o que deve mesmo ser evitado e porquê?

Depende de cada caso e da gravidade da psoríase em cada momento. O objetivo do médico dermatologista é devolver à mulher com psoríase a sua vida de volta, por forma a poder usar os produtos de beleza e maquilhagem com os quais se sinta mais confortável. Contudo, numa fase de exacerbação ou enquanto a doença não estiver controlada, usar produtos anti envelhecimento (com retinoides, ácidos, etc) ou produtos muito perfumados pode ser prejudicial. Procure aconselhamento junto do seu médico dermatologista.

Imagem de destaque: iStock

Testemunho: Kim Kardashian e a psoríase

Termas e problemas de pele