As raparigas entre os “bons rapazes” de quem o cinema fala

O realizador Shane Black surpreendeu ao juntar a Ryan Gosling e Russell Crowe duas raparigas meio desconhecidas, uma mais do que outra, para contracenarem no filme ‘Bons Rapazes’, que chegou a Portugal na passada quinta-feira. Trata-se, de facto, de duas estreias absolutas: a australiana Angourie Rice, de apenas 15 anos, trabalha pela primeira vez nos EUA, ao passo que Margaret Qualley, com mais conhecimento do meio, estreia-se, ainda assim, no cinema.

Com 21 anos, esta norte-americana mostra uma desenvoltura que provavelmente foi construindo ao longo das três temporadas da série ‘The Leftovers’, da gigante HBO, que por cá passa no TVSeries. Contudo, não há estaleca que valha quando se tem de fazer um casting com Ryan Gosling ao lado, confidenciou a atriz, entre risos, num vídeo de promoção do filme: “Quando ele entrou na sala foi avassalador. Estava a tentar acalmar-me, punha as mãos na cara para evitar que ficasse vermelha.”

Atenta à nova colega, na cadeira ao lado, com um estilo menos extravagante, está Angourie, rindo-se solidariamente com o nervosismo da Margaret, que, no fundo, também é o seu. Há quem lhe chame a nova Reese Witherspoon, e, seja feita a leitura mais positiva do que parece ser um rasgado elogio, Angourie Rice talvez preferisse ser comparada a Emma Stone, algo que seria um enorme privilégio, como mostra o brilho dos seus olhos quando fala da prestação da atriz de 27 anos no filme ‘As Serviçais’, numa entrevista com imagem a uma rádio australiana.

“Quando o Ryan Gosling entrou na sala foi avassalador. Estava a tentar acalmar-me, punha as mãos na cara para evitar que ficasse vermelha” (Qualley)

Nascida no primeiro ano do segundo milénio, Angourie estreou-se em Hollywood ao lado de dois vultos do cinema numa indústria que não consegue bem entender. “Nos EUA, eles têm caravanas cheias de comida, com chocolates e biscoitos; eu adorei mas a maior parte dos adultos não gostava da ideia, diziam todos que estavam em dieta e era demasiado tentador. ‘Escondam isso”, reclamavam. E eu pensava ‘vocês têm um fornecimento infinito de bolachas e chocolates, e nozes…’ Por que é que isto não é espetacular?!”

Angourie esboça um sorriso misto de incompreensão e fascínio, numa experiência que a “fez sair da zona de conforto”. ‘Bons Rapazes’ versa sobre a demanda de dois detetives privados em busca de uma rapariga – a personagem de Magaret Qualley – sequestrada por uma máfia muito ativa na vida noturna dos anos 1970. “Havia muitas festas, muita gente em topless, muita bebida e drogas, mas era tudo falso”, ressalva a jovem atriz, não fosse o público pensar que, de facto, Crowe e Gosling estariam aos tiros sob o efeito de substâncias psicotrópicas.

Ao contrário de Angourie, que se iniciou na representação com menos de dez anos – ainda que contra a vontade da mãe, que não queria tanta exposição para a filha -, não há muitas produções onde se possa ver Margaret, que esteve muito próxima de se tornar bailarina profissional. “Aos 16 anos considerei abandonar a escola e tornar-me bailarina, mas, mesmo sendo algo que sempre quis, apercebi-me de que afinal não era bem isso que desejava. Mudei-me para Nova Iorque e vivi lá sozinha”, explica em entrevista à ‘Harper’s Bazaar’.

“Representação e mediatismo não são a mesma coisa”. “A fama vem com a representação, mas não é representação. Não é algo que procure” (Angourie)

Com a incerteza que define os grandes atores, Margaret deambulou pelas artes, experimentou “pintura, desenho, aulas de representação, entre outras coisas” – “sentia-me obrigada a perceber o que queria realmente fazer, ainda que só tivesse 16 anos”, conta, revelando que “o clique deu-se numa aula de improviso”. “Aí percebi o que queria fazer”, pondo fim a uma “antecipada crise de idade.”

Mais esclarecida mostrou-se Angourie, também graças à educação dos pais, que sempre estiveram relacionados com o teatro e a televisão, em Perth, na Austrália. A atriz, quando perguntada sobre a volatilidade da fama, esclareceu o seu interlocutor que, ainda que para muita gente o considere, “representação e mediatismo não são a mesma coisa”. “A fama vem com a representação, mas não é representação. Não é algo que procure. Quero ser realista e ter uma vida normal.”

Depois do lançamento do filme no Festival de Cinema de Cannes, Angourie Rice regressou à Austrália para ser a estrela maior de ‘Jasper Jones’, película em pós-produção. A série ‘The Leftovers’ parece ter escancarado as portas de Hollywood para Margaret, que irá protagonizar dois filmes no futuro próximo – ‘Death Note’ e ‘Novitiate’ -, estando atualmente nas gravações de ‘Sidney Hall’.