As organizações do Terceiro Setor produzem constantemente um marketing de responsabilidade social junto da comunidade que as envolve. Sentimo-nos (quem se sente) sempre muito impelidos a ajudar quem precisa. As razões podem ser várias mas acredito que quem o faz é porque se sente bem com isso. Enquanto tivermos essa boa vontade – o recurso renovável mais importante do nosso tempo – estamos bem. E estão bem as organizações do Terceiro Setor, assim como todos os que delas beneficiam.
O quadro da caridadezinha e do assistencialismo pontual, que conforta por momentos quem dá e ainda mais quem recebe e precisa, enquadra-se na prática da solidariedade ativa e participada? Dar o peixe ou ensinar a pescar? Dar uma vez ou tornar-se parte integrante do processo e do projeto?
A cultura do retorno social das organizações, do empreendedorismo e da autossustentabilidade são ainda olhadas de soslaio e sem a seriedade devida e justa. O que motiva este olhar e o que o condiciona são assuntos que davam para escrever várias crónicas. Certo é que esta cultura está moribunda e vai ter de sucumbir, dando lugar a uma mudança de paradigma e a um update social. E disso é prova a forma como as associações mutualistas e o tecido empresarial têm vindo a mudar a sua atuação no que concerne ao apoio às organizações do Terceiro Setor. Ao assumirem-se como parceiros, em vez de apenas subsidiarem, instigam as organizações sociais a práticas de transparência e pró-atividade na dinamização de projetos inovadores, com retorno e impacto social, edificando-se na rentabilização de recursos comunitários e, preferencialmente, na autossustentabilidade a médio e longo prazo.
Neste processo, facilmente percebemos a dialética win-win: as organizações sociais necessitam da sociedade civil da mesma forma que, quer os cidadãos como as empresas, precisam de ativar as suas áreas de responsabilidade social.
O mecenato, por exemplo, consolida-se em argumentos sólidos para quem o pratica, desde a valorização social e humana; a criação de uma boa imagem institucional ou pessoal; assumir-se como parte ativa de uma comunidade; ou, se todos esses argumentos não forem suficientemente sedutores, sempre se pode pensar na obtenção de benefícios fiscais – redução do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Coletivas (IRC) e das Pessoas Singulares (IRS).
Assim sendo, porque não tornar esta relação num casamento perfeito e considerar a solidariedade participada num investimento? Nem que seja para potenciar o seu PIF (Produto Interno de Felicidade).
Fica ao critério de cada um saber quais motivações para o exercício da solidariedade, nem me cabe a mim julgar isso, mas uma coisa é certa, o retorno do que se dá nunca poderá ser mensurável em termos materiais.
Todas estas razões, ou cada uma delas em particular, parecem-me bastante tentadoras. Seja qual for a sua vontade ou intenção, e já que estamos numa época do ano em que as finanças que nos fazem questionar de forma pouco romântica os valores, faça a sua boa ação e dê no seu IRS!
Dê porque lhe apetece e porque o/a faz sentir feliz. Dê tempo, amor, disponibilidade. Dê coisas e loisas. Dê o que tem e não precisa. Dê o que tem e o que não tem, mas dê!
Seja solidário/a! Distribua-se e multiplique sorrisos!