Será a nomeação de um homem negro para a direção da Vogue uma resposta ao Brexit?

Model Naomi Campbell poses for a photograph with Baroness Amos and fashion stylist Edward Enninful, at Buckingham Palace in London
Model Naomi Campbell (R) poses for a photograph with Baroness Amos (L) and fashion stylist Edward Enninful, after Amos received her Member of the Order of the Companions of Honour, and Enninful his Officer of the Order of the British Empire (OBE), at Buckingham Palace in London, Britain October 27, 2016. REUTERS/Philip Toscano/Pool - RTX2QQAF

Edward Enninful foi ontem nomeado para o cargo de Diretor da Vogue Britânica, ocupando oficialmente o cargo de Alexandra Schulman a partir de dia 1 de agosto. O famoso stylist estava neste momento a trabalhar na W Magazine como diretor criativo e de moda, tornando-se agora o primeiro homem na chefia da Vogue Britânica e o primeiro negro, em todas as Vogue do mundo, a ocupar este cargo.

Uma nomeação que pode ser interpretada como uma resposta ao Brexit, já que Enniful é natural do Gana, algo que torna esta escolha ainda mais especial como o próprio declarou à Vogue UK “Contar ao meu pai que fui nomeado para este cargo é que mais me entusiasma. Ele imigrou para Inglaterra do Gana com a minha mãe e os seis filhos.”

Além de assumir as origens africanas e de se afirmar como filho de uma família de imigrantes que cresceu no bairro operário, o Ladbroke Grove, Edward Enninful é declaradamente gay, mudou-se para Nova Iorque para trabalhar e usa as redes sociais para divulgar mensagens anti-racistas, tendo sido em 2014 condecorado pela Ordem do Império Britânico pelo seu trabalho ao serviço da diversidade na indústria da moda. Factos que apontam para um caminho de abertura e diversidade durante o seu mandato na direção de uma das revistas mais famosas do mundo.

Este é um caminho bem distinto daquele que a anterior diretora Alexandra Schulman escolheu para a revista, ao fazer uma Vogue dirigida às mulheres de classe média alta, trabalhadoras e amantes das artes e da literatura, uma publicação em que a moda era importante, ou não se tratasse de uma Vogue, mas não sendo muito explorada em termos conceptuais. Prova disto é a ausência de nomes como Tim Walker e Juergen Teller, fotógrafos de renome que não assinam editoriais fotográficos para a Vogue britânica desde os anos 90, apesar de o fazerem para outras edições do título.

De Enninful são esperadas páginas de moda mais irreverentes e provocadoras, o regresso de grandes nomes da moda às páginas inglesas da Vogue e um alinhamento editorial que mostre a indústria de forma global, algo que Edward sempre defendeu.

Alexandra Schulman, que já tnha anunciado a renúncia ao cargo em janeiro deste ano, está consciente que a publicação em que trabalhou durante 25 anos está prestes a mudar, revelando ao site da Vogue UK que se irá esforçar para que seja uma transição suave:

“Todos os diretores da Vogue chegam com o seu próprio leque de talentos e experiências e o Edward é muito conhecido, respeitado conhecedor da indústria da moda. Estou ansiosa para conhecer os seus planos o mais breve possível e trabalhar com ele nos próximos meses de transição para que a Vogue Britânica continue a ser a revista líder de mercado.”

Se esta mudança será uma resposta direta ao Brexit não sabemos, mas sabemos que o perfil de Edward Enninful se coaduna com uma publicação mais irreverente e com algo para dizer sobre o mundo em que vivemos, à semelhança do que acontece com a Vogue Americana, publicação com a qual colaborou diversas vezes.


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