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Acne: a patologia que afeta quase metade das mulheres em idade adulta

11/04/2019

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A acne é uma patologia que afeta, atualmente, cerca de 40% das mulheres a partir dos 25 anos. Contrariamente às borbulhas que temos na adolescência, a acne da mulher adulta é mais resistente e demora mais tempo a passar. Há uma série de fatores na sua origem e nem sempre a culpa é da genética. Para saber mais sobre as causas deste tipo de acne e como se pode tratar, o Delas.pt conversou com Vasco Coelho Macias, dermatologista da Clínica Ibérico Nogueira. Leia a entrevista com o especialista, abaixo.

Na maior parte dos casos, a acne em mulheres adultas é causada pela genética?
Não, 50% tem história familiar de acne, e isso pode contribuir para uma maior predisposição para a acne. Mas se há 50% com história familiar, outras 50% não têm. E, portanto, há outros fatores necessariamente implicados para o aparecimento da acne. Mas parece haver alguma predisposição genética. E isto não somente na acne da mulher adulta, mas mesmo a nível da acne juvenil, nomeadamente as acnes mais graves: uma história familiar de acne grave aumenta o risco de um descendente ter acne grave.

Preferencialmente, deve-se tratar primeiro pela via dos cremes e não pela via oral?
Depende da gravidade da acne. Se houver uma pessoa que vem com acne nodular – aquelas borbulhas internas-, grave, é para tratamento sistémico, oral [medicação]. Habitualmente, a acne do tronco responde mal ou responde pior aos tratamentos de aplicação tópica [cremes], portanto pelo menos na primeira fase fazemos um tratamento oral, associado a cremes. Depois passado dois/três meses, suspendemos o oral e mantemos só os cremes como tratamento de manutenção – para uma acne ligeira ou ligeira a moderada, habitualmente. E, felizmente, hoje temos cremes tópicos de aplicação que são muito eficazes e conseguimos controlar sem tratamento oral.

“Como não conseguimos dar um prazo de validade à acne, não conseguimos dar um prazo de validade aos tratamentos.”

Mas, por exemplo, se for uma acne causada por stress pode ser tratada só com os cremes?
Muitas vezes sim.

Consegue-se controlar a acne ou tratá-la permanentemente?
Nós não conseguimos propriamente dar um prazo de validade. E como não conseguimos dar um prazo de validade à acne, não conseguimos dar um prazo de validade aos tratamentos. A não ser dois ou três tratamentos em que de facto só podemos fazer dois/três meses e depois temos de parar e pensar noutra alternativa. Mesmo com a Isotretinoína , que é o fármaco que podemos dizer que cura a acne – e isto é o que está escrito nos livros, eu confesso que tenho dificuldade em dizer que cura.

Porquê?
Muitas pessoas fazem Isotretinoína 4 meses, 5 meses, 6 meses (é variável), param e não voltam a ter acne na vida. Mas há pessoas que param a Isotretinoína e voltam a ter acne. Portanto, custa dizer cura porque às vezes as pessoas têm a ideia que se cura não voltam a ter mais e isso nem com a Isotretinoína nós conseguimos garantir. A Isotretinoína é um medicamento que se faz todos os dias. Pensava-se que se atingíssemos os 1200/1500mg [no total] a probabilidade do doente ter acne, depois de parar o tratamento, seria diminuta. O objetivo seria atingir essa determinada dose e parar. Mas percebeu-se que muitas pessoas paravam e voltavam a ter acne ainda assim, e muitas pessoas não atingiam essa dose cumulativa e não voltavam a ter acne. Nos livros está descrito que é o único medicamento para a cura da acne. Mas é uma cura relativa.

É possível que, tal como acontece na adolescência, a acne na idade adulta desapareça por si só?
É um bocadinho mais lenta e a acne da mulher adulta é mais resistente aos tratamentos. Ela há-de ir embora, desaparecer. Nós sabemos que pelo menos 40% das mulheres a partir dos 25 anos têm acne. E há estudos que mostram que aos 60 anos a incidência de acne é muito inferior. Portanto, com o tempo e idade vai desaparecendo, a incidência vai diminuindo. Agora nós não conseguimos é prever qual é a duração da acne e consequentemente do tratamento. Nós sabemos que há alguns tratamentos que só podemos fazer durante x tempo, mas se atingirmos esse tempo e a pessoa continuar com acne, vamos manter um tratamento, mas outro, diferente. Porque alguns tratamentos sim, têm limitações temporais.

“Nós utilizamos produtos de dermocosmética, produtos de higiene, para tentar diminuir o risco e o agravamento da acne. Mas não há um tratamento propriamente aprovado para a prevenção.”

Há alguma altura do ano que seja mais propensa ao seu agravamento?
Habitualmente nos meses de inverno há um agravamento da acne, mas há exceções. Durante os meses de verão, o efeito anti-inflamatório que o sol tem na pele ajuda a diminuir. E as pessoas que têm uma acne muito ligeira muitas vezes durante o verão param o tratamento. Há exceções – há acnes agravadas pela exposição solar, mas são uma percentagem muito reduzida.

Há alguma forma de prevenir o surgimento de acne?
Não. A prevenção são os cuidados gerais, como a higiene correta, evitar utilização de produtos (maquilhagem e hidratantes) oclusivos, isso poderá contribuir um bocadinho. Mas nós não utilizamos tratamentos para prevenir a acne. Nós utilizamos produtos de dermocosmética, produtos de higiene, para tentar diminuir o risco e o agravamento da acne. Mas não há um tratamento propriamente aprovado para a prevenção.

Uma limpeza de pele pode ajudar?
Muito honestamente, a limpeza de pele é um conceito que não existe na dermatologia. Ou seja, nos livros de dermatologia não há nada sobre limpeza de pele, é uma questão cosmética, estética. No fundo, aquilo que a limpeza de pele faz é eliminar os pontos negros. Mas isso não evita a formação de pontos negros, ou seja, isto não tem nenhuma alteração a nível de evolução nem de comportamento da doença. Estamos a reduzir os pontos negros naquele momento, mas o nosso objetivo é fazer um tratamento de base de forma a minimizar a propensão que aquela pele tem para os pontos negros. É uma melhoria temporária, porque a limpeza de pele, por si só, elimina aqueles pontos negros, mas não vai diminuir a tendência dessa pele para os formar.

Mas prejudica?
Pode ser um complemento. A única questão é que se não for feita corretamente aumenta a inflamação… Nós estamos sempre a dizer que não se pode espremer as borbulhas pelo risco de aumentar a inflamação e no fundo a limpeza de pele é um bocadinho isso, é espremer para eliminar o ponto negro, e portanto se não for feita de forma correta pode contribuir para um aumento da inflamação e até mesmo infeção. Além disso, muitas vezes a pele com acne é uma pele que está um bocadinho fragilizada pelos tratamentos, pelos medicamentos que utilizamos e que deixam a pele um bocadinho mais sensível, mais a descamar. E portanto estar a agredi-la desta forma poderá não ser uma boa ideia. É muito mais eficaz e aconselhável para eliminar os pontos negros fazer um peeling. E os peelings, esses sim, está demonstrado que ajudam na redução dos pontos negros e têm um efeito também de tratamento, não é só uma melhoria cosmética. Alguns peelings ajudam a diminuir a concentração da bactéria da acne, portanto o efeito acaba por ser semelhante, mas com o efeito de tratamento associado, que a limpeza de pele por si só não tem.

Então não podemos mesmo espremer as borbulhas.
Nunca. Porque, lá está, estamos a contribuir para aumentar a inflamação. Se eu espremer vai ficar vermelho, portanto já há inflamação, e eu vou contribuir para o agravamento dessa inflamação. Além de que vou estar a manipular aquela lesão, a contribuir para uma infeção daquela lesão, vou estar a levar mais bactérias lá para dentro. E portanto o aumento do risco de cicatriz é maior.

E relativamente aos produtos para secar as borbulhas? Podemos utilizar?
Sim, aqueles spot… Pincéis, sticks, batons, que normalmente têm cor. Sim, esses produtos, além de uma melhoria cosmética porque ajudam a disfarçar (normalmente têm um bocadinho de cor), têm ácido salicílico e o ácido salicílico o que faz é romper a borbulha, e portanto seca a borbulha mais rapidamente. Não é um tratamento, é um SOS.

[Imagem de destaque: iStock]