“Adolescentes estão sem habilidade para desabafar”

O que pode um gestor financeiro saber sobre os vícios e as virtudes da adolescência? Rui Melo, com 47 anos e três filhas, diz saber muito e agora escreve um livro – O Poder dos Adolescentes – em que relata todos os poderes que os adolescentes têm à mão, mas que ainda estão longe de saber lidar com eles.

O poder de ouvir, de agradecer e da sensibilidade parecem ficar fechados no armário quando se chega a esta fase da juventude. Atualmente, muitos dos jovens baralham-se e, quando ouvem falar do poder da partilha, pensam ser aquele que mais usam e que usam bem. Em conversa com o Delas.pt, sobre o seu primeiro livro, Rui Melo defende que não é bem assim.

“Lá por estarmos ligados a todo o mundo e termos amigos espalhados por todo o lado, não quer dizer que estejamos a conseguir experimentar a proximidade com os outros, e isso é algo que faz falta”, afirma o gestor financeiro. Que prossegue: “O que se vê é adolescentes sem habilidade para desabafar, sem habilidade para saber quando um sorriso é sincero, porque não estão a ganhar experiência nessa ligação próxima com o outro. E, então, qualquer pessoa que lhe diga que os adora, eles acreditam. Esse parece-me ser o risco futuro.

O poder da partilha é, para Rui Melo, “o que consegue recuperar este afastamento“, mas para tal é preciso que os jovens entendam como funciona, não o restringindo às redes sociais.

O contacto físico, a capacidade de sociabilizar na vida real e de pôr em prática o poder da palavra, que permite partilhar pensamentos, sentimentos e vivências, é meio caminho andado para, segundo o autor, conseguir restaurar esta falsa proximidade.

Da esquerda para a direita: Rui Melo, autor do livro “O Poder dos Adolescentes”, com António Fernandes, responsável pelas ilustrações. [Fotografia: Facebook Oficial ‘O Poder dos Adolescentes’]
“A palavra ‘Poder’ “não foi uma palavra escolhida ao acaso, foi muito ponderada dentro da ideia que o livro queria passar. Um bocadinho de magia, um bocadinho de terem a vida nas suas mãos e perceberem que muitas vezes, mais tarde pode ser mesmo tarde. Nunca é tarde de mais, obviamente, mas vamos ficando subjugados às escolhas que fizemos no passado, porque essas vão dar a outras e a, posterirmente, outras. Claro que podemos mudar, o esforço é que é maior”, referiu Rui Melo.

O poder de escolher é outra das ferramentas que os jovens adquirem ao atingir a adolescência e, no entender do escritor, um dos mais importantes: “Estão a construir-se homens e mulheres, indivíduos para o futuro do país, para o seio de uma família. Todas as escolhas que eles fizerem ao longo da vida são relevantes, mas na fase em que eles estão, porque vivem num dia o que os mais velhos não vivem numa semana, conclui-se que escolher mal dá muitos maus resultados, escolher bem dá muitos bons resultados”.

A adolescência é o período que os jovens têm para treinar os seus poderes, desenvolvendo-o para os utilizar durante toda a vida adulta.

Livros também quer chegar a pais e educadores

Embora a obra de Rui Melo se dirija aos adolescentes, também os pais e educadores podem aprender com a sua leitura. “A base do livro segue muito a ideia: educar é conduzir sem ser visto. Isto porque eles [os adolescentes] não gostam de perceber que estão a ser conduzidos. Por isso, aos pais e educadores, partindo do princípio que a esmagadora maioria quer o melhor para os seus educandos, têm também de encontrar a forma de entregar esse amor. Muitas das vezes queremos o melhor para eles, mas estragamos tudo na forma como o tentamos fazer”.

Este foi também um desafio do autor: escrever para adolescentes quando já não é um. Este facto fez com que o livro demorasse cinco anos a ser publicado. Mais do que escrevê-lo, revê-lo e pensar na estrutura, foram os ajustes na forma da escrita que mais trabalho deram.

“Quando o livro é escrito por um adulto ou quando algo é exposto por um adulto que não é adolescente, muitas vezes cria-se um fosso entre as duas pessoas, neste caso entre quem está a ler e quem escreveu. Há uma expressão que diz: ‘A culpa é do mensageiro’. A culpa é sempre do mensageiro, não da mensagem e aqui nota-se muito. Eles não põem em causa a mensagem, porque se a mensagem fosse dita por outra pessoa, mais distante, eles aceitavam-na”.

Percorra a galeria de imagens acima para conhecer todos os poderes dos adolescentes.

[Imagem de destaque: Shutterstock]

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