Adriana Ribeiro: a mulher por detrás da máscara de Conan Osíris

A música ‘Telemóveis’ e o estilo de Conan Osíris – o representante português no próximo festival da Eurovisão – são de tal forma impactantes que já entraram no imaginário coletivo, inspirando mesmo alguns disfarces no Carnaval deste ano. Um dos pormenores recriados foi a máscara que o cantor levou à 1ª. semifinal e à final do Festival da Canção e que parece já se ter tornado um símbolo do estilo irreverente do artista.

Desenhada pelo próprio Conan Osíris (nome artístico de Tiago Miranda), a peça tem a assinatura de Adriana Ribeiro, de 29 anos, que cria e faz jóias à mão. A artesã de joalharia, nascida na Austrália, mas a viver em Portugal desde os 12 anos, é amiga de longa data do cantor, mas foi o festival que levou os dois a cruzarem as suas respetivas artes.

“Eu e o Conan somos amigos há vários anos e sempre fui acompanhando o processo criativo dele. Quando ele começou a ter mais concertos disse-lhe que se ele quisesse ou precisasse de alguma peça, eu fazia. Passou-se algum tempo e agora, quando ele teve a confirmação que ia participar no festival, ligou-me e veio com a ideia dessa máscara”, começa por contar ao Delas.pt.

A máscara é feita de latão polido, que lhe dá o efeito dourado brilhante, e não foi necessária nenhuma adaptação face ao desenho original. Depois de vários moldes, da produção de uma maquete, encontros para provas, até à criação das peças finais, o famoso acessório ficou pronto a tempo de acompanhar a prestação do cantor no Festival da Canção. “Foi tudo um bocado em cima da hora, dois ou três dias antes. Ele experimentou a máscara pronta – e eu estava com um bocado de medo porque fui experimentando a máscara na cara de outras pessoas e pareceu-me que estava um bocado grande – mas quando ele experimentou ficou mesmo bem.”

Final Festival da Canção, no Arena de Portimão. Conan Osíris venceu o concurso com a canção ‘Telemóveis’ e vai disputar um lugar na final da Eurovisão. (André Vidigal / Global Imagens)

Apesar de o acessório ter ficado ligado ao figurino da atuação – as roupas de ambas as participações no Festival da Canção são do estilista Luís Carvalho -, não é garantido que Conan Osíris leve a máscara e os dedos metálicos (também criação de Adriana), que usou nas etapas portuguesas, a Tel Aviv, Israel, onde se realizará, em maio, a Eurovisão.

“Nada é certo nas peças que ele vai levar para Israel, se vai levar as mesmas, se vai levar outras ou se não vai levar nenhuma. Ainda não está definido”, refere a joalheira.

Adriana Ribeiro tem 29 anos e faz jóias à mão desde os 22. [DR]
As duas criações – máscara e dedos metálicos – são inéditas no trabalho de Adriana Ribeiro, não só por serem sobretudo os produtos mais tradicionais de joalharia que a artesã normalmente cria, mas porque as peças de Conan Osíris são feitas em latão, matéria que não costuma utilizar.

“No caso da máscara e dos dedos metálicos acabei por usar latão, porque além de ter a cor que o Conan pedia é um material mais barato para uma peça tão grande. Além disso, molda-se, dá-se os mesmos acabamentos e solda-se da mesma maneira que a prata. Foi por isso que escolhemos recorrer ao latão aqui”, justifica.

Quartzos, pedras da lua, ametistas ou opalas são algumas das pedras -às quais mais recentemente tem juntado o nácar – que usa nos fios, anéis, pulseiras e brincos que cria a partir de prata, prata dourada e ouro. Raramente as suas criações são exatamente iguais entre si.

“Gosto muito de usar pedras em bruto e a minhas peças de joalharia levam muitas pedras. Portanto, acabo por fazer muitas vezes peças únicas, porque cada pedra em bruto tem um determinado formato, não há outro igual. Depois também tenho peças que são reproduzidas várias vezes”, explica.

Os preços das de prata, por exemplo, variam entre os €45 e os €85, as de ouro são mais raras, e mais caras, sendo sobretudo alianças e alguns anéis. Adriana Ribeiro promove as suas jóias na sua página de Instagram, de onde selecionámos algumas imagens que mostram o seu trabalho e que pode ver na galeria, acima.

Artigos especiais e personalizados

O autor de ‘Telemóveis’ não é, contudo, o único que tem direito a uma peça desenhada por si próprio. Adriana Ribeiro atende muitas vezes aos pedidos que lhe vão chegando para fazer peças à medida do gosto de cada um, além das criações da sua autoria. “Faço muitas coisas desenhadas por mim, vou publicando, tendo stock e vendendo, mas também tenho muita clientela que faz pedidos personalizados. Há muita gente que vem com desenhos específicos e eu faço a produção disso.”

Adriana Ribeiro cria jóias desde os 22 anos. Fez um curso de joalharia e chegou a dar aulas, depois de o terminar, até que decidiu dedicar-se exclusivamente à produção das suas próprias peças. Divide o trabalho entre Lisboa e Massamá, onde vive. Tem um ateliê na Rua da Prata, que lhe permite expor o seu trabalho e onde realiza open days para mostrar as novidades, e também trabalha em casa.

Questionada sobre se a popularidade de Conan poderá dar um empurrão ao negócio, Adriana reconhece que ela lhe trouxe “um boomzinho de seguidores [nas redes sociais] e algumas pessoas a fazerem algumas perguntas”, mas para já não sente um acréscimo de interesse significativo pelo seu trabalho, por causa disso, e vai fazendo o seu caminho como até aqui.

Conan Osíris vence Festival da Canção. Veja o vídeo